19 | NÃO ME DEIXE

543 61 278
                                    

19
     NÃO ME DEIXE
ADAM

3 MESES ANTES
FIM
FINAL DO OUTONO EM BAYFIELD

— Jim — digo secamente ao atender o celular

Com os olhos fixos no trânsito tranquilo diante de mim.

— Adam — meu nome é dito em meio a um suspiro — É o seu pai.

Tiro os olhos por um momento do maldito trânsito. Piso no freio arranhando os pneus no asfalto. Ignoro os gritos e buzinas que soam imediatamente.

— Que merda ele fez agora? — rosno tenso.

Todo meu corpo fica tenso. Todas as possibilidades já vividas passam por minha mente enquanto o homem do outro lado da linha parece estar com dificuldade de encontrar as malditas palavras.

— Ele — meu tio gagueja.

Aquilo piora minha tensão e humor.

— Caralho, Jim, desembucha — ordeno irritado.

— Ele está no hospital — solta rapidamente.

— O que? Que merda aconteceu?

Minha cabeça gira.

— Vem aqui — seu tom calmo não ajuda — Melhor conversarmos pessoalmente.

— Já chego

Fecho o aparelho, jogando no banco, piso no acelerado cantando os pneus em direção ao único hospital daquela cidade. Meus dedos tamborilam inquietos no volante. Não conto os minutos ou as infrações para chegar ao meu destino final.

Antes do que consiga pensar estou percorrendo os corredores gélidos, vazios e silenciosos do Hospital Geral de Bayfield. Agradeço a informação exata da recepcionista, que facilita achar meu tio.

Ao virar no corredor indicado, não demoro a encontrar o homem gorducho, sem farda, sentado em uma fileira de cadeiras, sozinho, seus cotovelos estavam apoiados em seus joelhos, com os olhos no chão.

Odeio aquela cena. Odeio o maldito silêncio que parece ser uma maldita ave mau agouro.

—  Jim —  sua cabeça se vira com o chamado.

O xerife de folga fica em pé em um pulo.

—  Como ele está? —  disparo ansioso.

Em um suspiro nada reconfortante, o homem de cabelos e barba castanhas aponta com a cabeça em direção a porta a sua frente. Engulo um monstruoso nó na minha garganta, beirando entre desespero e negação, jamais esperava que chegaria a aquele ponto da linha.

Não tenho pressa em me aproximar da cena que meus olhos já são capazes de analisar: meu pai deitado em uma cama, com soro na veia, oxigênio no nariz, alguns aparelhos colados no seu peito e rosto todo roxo.

O velhote tinha apanhado. Fecho meu punho. Paro debaixo do batente, ouvindo o som agonizante da maquina que reproduzia seus batimentos cardíacos, conhecia bem aquele som. Já tinha passado semanas em um hospital.

— Ele está estável — a voz familiar atrás de mim tenta remediar a situação — Quebrou algumas costelas, fraturou o pulso e machucados no rosto, mas o médico disse que está bem.

— Que caralhos aconteceu? — rosno entre os dentes, com os olhos fixos no meu pai.

De todos os destinos imaginados para ele, jamais me fixei muito naquele agora no meu presente. Como um idiota tinha esperança que naquela altura da vida Tomás Baylor tivesse tomado jeito.

HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora