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(IN)DISCUTIVÉL
TATE3 MESES ANTES
O FINAL DO OUTONO EM BOSTONAs portas metálicas da caixa de chumbo se abrem é um clique sonoro. Me alojo no fundo. Outras pessoas se aglomeram na minha frente e antes que as portas se fechem uma loira abre caminho com murmúrios sem muita vontade em minha direção.
Trazendo um sorriso cheio de insinuações, a loira robusta, dentro de um vestido de fundo preto, jaqueta de couro e meia calça, para propositalmente ao meu lado. Me encurralando. Recordando da conversa que não tivemos naquela manhã.
— Então — seu ombro resvala no meio — Você é o senhor Rabugento, sua vadia — sua última palavra é algumas oitavas mais alto, atraindo a atenção de olhos curiosos e zangados.
— Shi — crispo os lábios em um suave curvar de cabeça — Não é nada.
Me recomponho, ansiando para que não estivéssemos em meio de estranhos. Não estava fugindo da Alice, mas tinha chegado de viagem naquela manhã, Adam me deixou em Boston e voltou para Bayfield. Alice estava saindo apressada. Eu estava chegando. E digamos que as conclusões já estavam no ar antes mesmo que pisasse no apartamento.
Afinal minha colega de apartamento sabia do meu paradeiro e da minha companhia. Ela era a única a saber daquela informação e assim deveria ser. Meu envolvimento com o Adam tinha que ser secreto e sigiloso, tanto por motivos pessoais – não era nada sério para outras pessoas saberem -, como por motivos profissionais – ele era um astro de programa de reformas e tinha que ser o sonho dourado das telespectadoras –, para que a Malori não me matasse e tirasse da produção do Hell's Reform.
— Então é o que? — sussurra entre dentes contra a minha orelha.
Sexo? Com certeza tinha sexo. Namoro? NÃO! Fora de questão rótulos. Sei lá? Era a melhor definição.
Porém era um SEI LÁ que ambos entendíamos. Tinha sexo, tinha conversa, tinha confiança, tinha segurança, não tinha mentiras, tinha eu na cama dele, tinha ele agarrado em mim, tinha nossos lábios colados, tinha ele reclamando como sempre, tinha eu amando provoca-lo. Tinha nós e nada mais, um nada mais que não precisava de definição.
Eu não queria definição, não queria expectativas, surpresas, planos ou futuro. Era o que queríamos o presente e nada mais. Era bom, era leve e suave, não exigia mudanças.
— Sei lá — dou de ombros, soltando entre dentes a melhor definição que podia — O Adam não é de relacionamentos, eu não sei mais lidar com relacionamentos, mas somos exclusivos.
E essa exclusividade me bastava. A loira balança a cabeleira solta em um movimento que projeta seu lábio inferior para frente.
— E você dizendo que ele não fazia seu tipo, sua vadia — solta com o abrir das portas que abafam sua última palavra.
— Alice.
Ambas caminhamos pelo saguão de entrada, com estrutura metálicas, vidros e uma porta dupla como entrada e saída do prédio da Stay Home.
— Estou mentindo? — seus olhos inocentes se estreitam, ao caminharmos sobre o mármore brilhante da entrada.
— Não — engulo a amarga verdade.
Adam Baylor não fazia o meu tipo. Normalmente não faria, não era adepta a acolher animais carentes no canto de um bar. Na verdade, não era de ter iniciativa, em meus relacionamentos sérios que se resumiam ao Ian e ao Gus, tinham sido eles quem tiveram iniciativa, eu apenas fiquei lá, como a donzela cortejada e desejada.
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HEART
RomanceQuantas vezes a vida pode quebrar uma pessoa? Adam Baylor tem a resposta na ponta da língua: inúmeras. Vítima de escolhas egoístas, não hesitou em largar uma carreira promissora no hóquei, para tornar-se sobrevivente do inferno, de uma guerra que n...