18
(INSIS)TENTE
TATE4 MESES ANTES
METADE DO OUTONO EM BOSTONAs noites em Boston estavam ficando cada vez mais frias. Era impossível andar sem um casaco, mas caminhar com Ian era agradável. Principalmente após um jantar animado e cheio de histórias engraçadas. Estar com Ian, era sempre como estar em casa: confortável e seguro.
Não esperava aquele convite de última hora. Queria dizer não, felizmente não consegui, ganhando no final uma noite agradável. Estávamos a poucos quarteirões do meu prédio. E a poucos segundos o homem alto, dentro de um jeans azul, botas de camurça e jaqueta de couro estava em um silêncio confortável.
— Tenho algo para contar — finalmente solta o motivo do silêncio.
Conhecia aquele ritual, Ian ficava em silêncio, sua mente maquinava por algum tempo e finalmente sua boca soltava o resultado. E aquele ritual só acontecia diante de decisões importantes. Foi assim que ele me contou que tinha sido aceito na Universidade da Florida e não na Califórnia.
Enfio as mãos dentro do meu casaco de lã. Tinha dormido pouco nos últimos dias, trabalhado muito e o resultado era estar morrendo de frio a maior parte do dia por passar trancada dentro do escritório.
— Conta — o incentivo em um pedido.
Nossos passos são sincronizados ao dobrar a esquina. Poucas pessoas passam por nós durante o trajeto da tranquila noite. Os olhos escuros fogem dos meus, preferindo acompanhar o ritmo dos seus próprios pés.
— Estou de viagem marcada para a África — revela com a cabeça baixa e os olhos de soslaio correndo em minha direção — Dentro de algumas semanas.
Curvo os lábios. Olho o trajeto a nossa frente, não entendendo o motivo de tanto mistério.
— Você não consegue ficar muito tempo em um lugar — brinco alargando os lábios em um sorriso descontraído.
A cabeça de Ian se eleva. Seus lábios acompanham o meu – como uma melodia contagiante – e se curvam. Seus ombros relaxam. Eu ainda não compreendo o motivo de tanta tensão.
— Um amigo precisa de ajuda — completa — De um substituto de última hora.
Maneio a cabeça positivamente, a poucos passos de distância dos cinco degraus de concreto que davam acesso a porta de moldura de madeira e fundo de vidro, do meu aconchegante, minúsculo e nada solitário apartamento.
— E você não conseguiu resistir — o censuro com o olhar brincalhão.
Em um movimento singular resvalo meu ombro no seu. Lanço uma piscadela sugestiva da sua impossibilidade de resistir a uma aventura.
— Fiquei tentado — confessa afundando os ombros e enfiando as mãos dentro da jaqueta.
— Desistiu de criar raízes? — questiono, olhando por um breve momento para os meus pés.
Não estava decepcionada, chateada, nem nada do tipo. Estranhamente estava aliviada com aquela notícia que enterraria qualquer futura possibilidade de desenterrar nosso relacionamento passado. Eram tantas as coisas que estavam acontecendo na minha vida, que não tinha cabeça para nada: entre o ressurgimento do Gus, gravações e – e o beijo –, e o Adam, minha cabeça e vida estavam fechadas.
— Não — a palavra sai como em um coro que estende a pronuncia das vogais — Ainda estou estudando as ofertas e essa viagem vai ser algo curto.
Curvo os lábios.
VOCÊ ESTÁ LENDO
HEART
RomanceQuantas vezes a vida pode quebrar uma pessoa? Adam Baylor tem a resposta na ponta da língua: inúmeras. Vítima de escolhas egoístas, não hesitou em largar uma carreira promissora no hóquei, para tornar-se sobrevivente do inferno, de uma guerra que n...