22 | NÃO FIQUE

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NÃO FIQUE
ADAM

3 MESES ANTES
O DIA QUE ELA FOI MINHA
FINAL DO OUTONO EM BAYFIELD

O Sol está a pino.

Estou fodidamente exausto. Meus coturnos beges afundam-se na fina areia que parece engolir minhas pegadas.

Todos meus músculos doem. Jansen, Willians, Stone, Vargas e Finley caminham na minha frente. Eu caminho. Eles se afastam. Eu tento segui-los. Eles se distanciam. Minha equipe se afasta em um silêncio funesto, deixando espaço apenas para o canto dos corvos sobre a minha cabeça.

Minha boca seca me impede de murmurar qualquer ridícula palavra.

Cacete.

Ofego exausto.

Está quente para caralho. Tudo queima. Meu corpo sua por cada orifício. Meus olhos mal enxergam o horizonte que guarda algo grande, preto e sobre um pedestal. Como uma caixa. É a porra de um caixão.

Paro e o encaro. Aquilo está fora de lugar.

Os caras caminham em direção a merda do caixão. As aves agourentas cantam sobre a minha cabeça, junto com vozes risonhas de crianças. Meus pés se afundam, preciso detê-los, mas não consigo. Meus pés afundam-se mais ainda dentro das pequenas partículas beges.

Meus joelhos sedem.

Meus joelhos, mãos e pés afundam-se na maldita fina areia que engole meu corpo no meio do nada, como um borrão vejo as figuras humanas distantes e longe de mim. Meu corpo começa a ser tragado pelo solo arenoso. Eu começo a sumir no meio do nada e não consigo fazer nada. Me debato. Tento escapar e cada novo movimento é apenas uma ajuda para o buraco negro que me traga.

O tempo passa. A areia voa ao meu redor. O Sol infernal some da minha cabeça. Está tudo escuro. O silêncio continua me fazendo companhia. O cheiro de carne podre impregna nas minhas narinas. Minha boca continua seca. Não consigo enxergar nada.

Todo meu corpo dói. Minha garganta queima.

Pisco.

Um grito agonizante quebra o silêncio escuro.

Pisco.

O grito se transforma em murmúrio fraco. Alguém agoniza no meio da penumbra.

Pisco.

O lugar continua escuro, mas consigo ver com um pequeno flash de luz sobre minha cabeça que afasta a penumbra do lugar.

É um buraco. É um maldito buraco. Eu conheço aquele lugar. Fico sem ar diante daquela constatação.

Eu saí daqui murmuro confuso para mim mesmo.

Enfio os dedos contra o solo arenoso sobre o meu corpo ferido. Não posso aceitar aquilo.

Eu conheço aquele buraco infernal em que passei meses da minha vida. Era um buraco embaixo da terra, com apenas uma saída e entrada sobre as nossas cabeças. Tudo é arenoso ao nosso redor, cheira a mofo e carne podre.

— Eu saí daqui — grito confuso, com o corpo cansado esparramado no chão.

Não consigo respirar. Meus lábios tremem. Minhas mãos tremem. Suo frio. Meu estômago se revira diante da nova realidade.

Saiu mesmo garoto? a voz vem de um canto escuro.

Eu conheço aquela voz. Aquilo não faz sentido, aquela voz ali não faz sentido.

HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora