11 | (IM)PERFEITO

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(IM)PERFFEITO
TATE

5 MESES ANTES
COMEÇO DO OUTONO EM BAYFIELD


Casa

Estar em casa depois de tudo era estranho. O tempo parecia que não tinha corrido. Estar ali. Estar naquela casa a poucas quadras da do Elliot era como uma máquina do tempo. Era a mesma edificação de dois andares, sala e cozinha juntas no térreo, três quartos no piso de cima e um porão completamente mobiliado abaixo de nós.

A decoração moderna e risadas convidativas eram as mesmas. A mesa retangular era nova. Contudo o cara sentado ao meu lado, o homem de cabelos grisalhos e volumosos a minha frente e a mulher na casa dos cinquenta a minha direta eram o meu passado. Não naquela formação. Eram o meu passado e as vezes sentia-me uma estranha ali.

Uma sensação que não sentia com a minha mãe, ou o Elliot, ou até mesmo com ele. Não me sentia estranha com ele. Com o senhor Rabugento. Uma das poucas pessoas que poderia mandar se foder e que não se ofenderia. Curiosamente era capaz até de gostar.

Invadir o mundo do Adam, reencontrar o seu pai e saber um pedaço da sua vida era curioso. Era como começar um livro e em poucos capítulos querer ler até o fim. Sem pular uma página. Sem deixar escapar uma palavra.

Estar ali. Estar jantando com Ian, Nora e o meu pai, era como assistir a uma reprise, reconfortante, sem surpresas. Sabia o começo, meio e fim. Poderia até pular algumas partes.

Era bom. Era familiar. Era seguro. E ao mesmo tempo aterrorizador, porque sabia tudo sobre aquelas pessoas, e elas não sabiam alguns fatos importantes sobre mim. Era aterrorizador temer que soubessem de fatos sobre a sua vida que preferiria que estivessem mortos.

Não queria os olhares com pena. Não ansiava pelos abraços atrasados. Apenas queria ser uma pessoa normal, não queria que aquelas risadas e olhares se transformassem em algo que começaria a evitar.

Queria ser tratada como a Tate. A garota que foi a pequena miss Sunshine. A ex-namorada do Ian. A vizinha da Nora Jones. E – principalmente – a garotinha de Mark Evans.

Meu pai não sabia sobre Gus. Minha mãe sabia sobre o Gus. E ela me prometeu que tudo morreria como um segredo que apenas nós duas e a Alice sabíamos. Ninguém mais deveria saber o que tinha se passado.

O lugar do passado era no passado.

Com o corpo recostado na cadeira de madeira, as pernas cruzadas, beberico um gole do vinho tinto. Não era o que gostava, porém era o que a anfitriã da noite tinha servido para acompanhar o prato de massa com molho branco.

— Então nós fomos em um daqueles restaurantes com cardápio secreto — a mulher morena com um cabelo curto e negro, trajando um vestido colorido, sentada na ponta da mesa, continua a contar sobre um dos seus encontros com o meu pai — Chegamos lá e o seu pai pediu para a garçonete o prato secreto deles, nem lembro o nome — animada sua mão bate no ar, os ombros do meu pai afundam-se culpado — Então ela olhou para nós dois como se fossemos dois esquisitões.

O homem de cabelos grisalhos e camisa jeans a minha frente gira a taça de vinho entre os dedos. Poderia ser estranho pensar em meu pai tendo uma vida longe da minha mãe. Porém já tinha conhecido alguns namorados da ex senhora Evans, o que tornava tudo aquilo menos desconfortável.

— E ele continuo insistindo — Nora enfatiza suas palavras ao arregalar os olhos e projetar seu corpo para frente.

— Eu tinha visto naqueles programas culinários — meu pai murmura, explicando para mim e Ian.

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