01 | UM BÊBADO NO CAMINHO

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UM BÊBADO NO CAMINHO
TATE

6 MESES ANTES
FINAL DO VERÃO EM BAYFIELD

Não me recordava da última vez que tinha pisado em Bayfield. Tinha certeza que fazia mais de um ano. Ou talvez dois. Não tinha certeza, não estava contando. Mesmo com o meu pai, irmão e sobrinha ainda morando naquela cidade onde tinha passado o final da minha infância e começo da adolescência, não ia muito lá. Uma péssima filha? Sim. Uma irmã terrível? Pode apostar que sim. Uma tia negligente? Enviava presentes sempre.

Bayfield era uma cidade típica, nada de emocionante, movida pelo time de hóquei local, os Angels e pela base militar instalada as margens. Era a última cidade que meu pai tinha prestado serviço como coronel do exército, se aposentado e se divorciado da minha mãe. Anne Evans foi para Califórnia. Mark Evans ficou. Elliot fico quando sua namorada de escola engravidou. Ela também foi embora depois que Riley, minha sobrinha nasceu, alegando que não tinha idade para ser mãe.

Mas minha poucas visitas não tinha nada de trágico, traumático ou segredos para evitar aquela cidade. Era apenas a vida. Universidade na Califórnia, por alguns meses. Transferência para Nova York, onde tinha passado quatro anos e por fim meu adorado e sonhado emprego na Stay Home, como assistente de produção da Malori Banks. Família tinha ficado em segundo plano. Carreira estava no topo da lista de prioridades.

A placa do único bar descente daquela cidade pisca atrás de mim: Flannigan. O ser da minha busca não estava lá, como meu irmão, Elliot, havia informado. Necessitava encontrar Adam Baylor. Adam Baylor, o cara que tinha se tornado o melhor amigo do meu irmão naquela cidade. O sócio do Elliot na empresa de reformas que tinham aberto a pouco menos de um ano. Um dos protagonistas do vídeo que estava bombando nas redes sociais nos últimos dias.

Adam e Elliot. Elliot e Adam estavam nas redes sociais. Duvidava que algum dos dois entendessem a proporção daquilo. Entendessem como aquele vídeo, com os dois diante de uma parede, cada um com uma mareta na mão e disputando para ver quem destruía mais rápido os tijolos empilhados e grudados por cimento. Adam ganhou por duas fileiras. Alguém gravou por diversão e compartilhou em algum grupo de mensagem. E por fim estava na rede.

E por fim tinha chegado até a minha chefe, a rainha de programas de entretenimento, produzindo desde programas de competição culinárias até reformas. E dessa vez eu estava no foco dessa negociação. Eu era a irmã do protagonista do vídeo. Eu sabia como encontra-lo. Eu deveria saber como convencê-lo. E tudo poderia ter começado bem se meu irmão não estivesse em uma viagem de pesca com o meu pai e sobrinha. Ou seja, Elliot não estava na cidade.

Ou seja, me restava ir atrás do meu outro alvo: Adam Baylor. Apesar do meu irmão afirmar categoricamente que ambos recusariam a oferta. Não o ouvi. Após muita insistência e mensagens arranquei onde poderia encontrar aquela figura perdida em minhas lembranças.

Era pequena quando o conheci. Ele era adolescente e estrela do time de hóquei da cidade, os Angels, as garotas babavam por ele. Minhas amigas babavam por ele. Eu? Negaria. Mas, babei um pouquinho. E para o meu azar, o homem de cabelos negros, alto, com uma tatuagem de asa que cobria seu braço do ombro ao pulso – esse detalhe era difícil de esquecer –, não estava no Flannigan.

Arranco o celular guardado no bolso de trás da minha calça. Disco o número do meu irmão. Encosto o aparelho na minha orelha.

— Irmãzinha — a saudação é animada.

É impossível ignorar as risadas de fundo, que deveriam ser da Riley e do meu pai. Aquilo era familiar, mas algo que deveria ignorar.

— Onde ele mora? — disparo no meu tom profissional.

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