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(IN)CURÁVEL 
TATE

4 MESES ANTES
FESTA PARA PATROCINADORES
METADE DO OUTONO EM BOSTON

A cobertura de festa de um luxuoso hotel localizado no centro de Boston estava decorada com feixes de luzes, um telão central, cadeiras – que estavam sendo retiradas – garçons desfilando com bebidas e comida. O falatório tomava o luxuoso salão, com um fundo musical pouco perceptível. Telas na vertical repetiam trechos – exibidos e não exibidos – da grande aposta da Stay Home na nova programação.

A cara do Adam e do Elliot estava em todos os lados, com montagens do que iria ao ar e do que não iria. Não era uma estreia, apenas uma apresentação estratégica para os chefões e possíveis patrocinadores. Malori sorria animada e estrategicamente, arrastando meu irmão pelo braço.

Eu tinha ficado com o sr. Rabugento. Uma experiência familiar: arrastar o belo homem dentro de uma calça preta, camiseta preta, jaqueta bomber de suede marrom, coturno negros, sem sorriso, com poucas palavras e muitas bufadas. Ele surtaria a qualquer momento. Eu sabia disso. Ele sabia disso. E o papo de um representante de bebidas energéticas– e possível patrocinador – não estava ajudando. Nem eu, nem o homem ao meu lado queríamos saber sobre sua desastrosa experiência ao tentar reformar a própria casa como projeto de verão.

—  Não percebi e acabei acertando o cano — o gorducho, de cabelos grisalhos dentro de um terno que deveria custar quatro meses do meu salário, conta toda risonho — A casa alagou, minha esposa ficou uma fera.

De soslaio, não ignoro o apertar forçado de lábios do moreno alto calado ao meu lado, seus dedos inquietos já batucavam sem ritmo contra a sua coxa. Disparo minha ensaiada risada, atraindo os olhos azuis do homem que parecia esperar alguma aprovação ou comentário do especialista a sua frente. Ou estava mais para coisa de homem em busca de aprovação de outro.

— Acontece — Adam rosna entre os dentes como se tivesse sendo torturado.

Seu pescoço estava começando a assumir um tom avermelhado e não poderia ser da roupa.

— Eu ficaria maluca se acontecesse comigo — solto na tentativa de manter o clima suave.

— Mas isso nem é o pior — o homem continua.

— Sério? — profiro fingindo interesse.

— Sério? — a não estrela ao meu lado murmura entre os dentes, com uma pitada da lamentação e agonia.

Adam bufa. Posso jurar que ele está começando a suar frio, como se estivesse prestes a fazer um exame retal. Acho que nem um exame retal o abalaria tanto. Seria possível até de gostar.

— Sério — o possível patrocinador continua todo empolgado — O pior foi [...]

Inexplicavelmente meus olhos são atraídos para o fundo do salão. Não como se algo ou alguém tivesse me chamado a atenção, era mais uma sensação silenciosa, um sussurro na noite apenas para os meus ouvidos. Um pequeno comichão de curiosidade que prende meus olhos em um casal – até em tão desconhecido – a mulher era jovem, talvez tivesse a minha idade, com cabelos loiros presos, sorriso largo nos lábios, usando um belo vestido laranja solto. Ela gesticulava de uma forma atrativa, mas não era por ela que estava os encarando, era por ele.

Eu o conhecia. Eu sabia que o conhecia. Meu estômago se retrai ao estreitar os olhos e analisar a figura masculina de cabelos loiros grossos, de fios longos e penteados para trás. A barba rala estava fora de lugar. Porém eu o conhecia. Conhecia seu aroma. Meu corpo sabia como reagir ao toque daquele homem. Meu corpo estava prestes a recuar como um reflexo cerebral.

HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora