34 | (DES)COMPASSO

414 51 65
                                    

34
(DES)COMPASSO
TATE

2 MESES ANTES
COMEÇO DO INVERNO EM BAYFIELD

O Flannigan's estava lotado, com mesas enfileiradas em frente ao telão armado na parede do pequeno palco. O lugar perfeito para assistirmos a estreia do Hell's Reform. Finalmente o programa estava lançado. E tinha ficado incrível. O trabalho dos últimos meses tinha compensado.

O primeiro capítulo ficou perfeito. A personalidade do Elliot e do Adam estavam lá em cada fala, cada momento e ordem. O desconforto e a irritação do meu astro rabugento não tinham ultrapassado a tela.

A Malori estava feliz em Boston. Toda a equipe – apenas em uma pequena folga – estava animada com a noite de bebida bancada pela empresa. Eu estava feliz. Meu primeiro sucesso.

Com a barriga encostada na velha bancada envernizada, espero minha cerveja, sem deixar de correr os olhos pelo ambiente a procura dele. Toda vez que entrava em algum lugar, agora, era assim, meus olhos varriam o espaço apenas necessitando encontrar o par de âmbares.

Passeio os olhos entre as inúmeras cabeças falantes que preenchem o lugar cheio. Volto. Paro. Nada. Volto. Paro. As âmbares. Elas me olham brevemente. Elas me encaram sem encarar. Seus lábios distraídos respondem algo ao meu irmão, mas seus olhos estão lá. Eles me notam.

Sorrio. Adam bebe um gole generoso do seu uísque, seus olhos não fogem, prendem-se aos meus. Tudo fica bem. Tudo está bem. Ele está bem. Eu estou bem. Meu coração bate, perdendo o compasso em uma pequena batida e outra. Seus olhos se afastam, assim que Elliot toca o seu braço e ri de algo.

— Está aqui — o atendente magrelo arrasta a cerveja em minha direção.

— Obrigado — agradeço.

Viro um gole da cerveja gelada que desce suavemente.

— Você conseguiu — uma voz masculina atrás de mim ecoa em direção a minha orelha — Foi um arraso.

Meu corpo se vira em resposta, resvalando nos olhos escuros do moreno sorridente, dentro de um suéter azul e jeans.

— Ian? — solto incrédula.

Seu sorriso não some, nem se abala. Minha mente gira perdida em culpa.

— Você não foi até mim — recorda com pesar, ao abrir os braços em um convite silencioso — Eu vim até você.

Em um passo singelo nossa distância some e meu corpo é acolhido por seus braços familiares. Seu cheiro impregna minhas narinas. O aperto contra mim, mais por culpa do que por saudades. Simplesmente o tinha esquecido nas últimas semanas que voaram.

As semanas se passaram, tantas coisas aconteceram e a ideia de me encontrar com o Ian morreu. Aqueles pensamentos faziam-me sentir péssima. Eu era uma péssima pessoa.

— É — balbucio assim que nos afastamos — Você sempre me surpreendendo — um meio sorriso envergonhado nasce nos meus lábios.

Seus olhos estreitam-se em direção dos meus lábios. Quero enfiar minha cabeça em algum lugar e simplesmente esconder minha cara de pau, que mal estava conseguindo esconder a surpresa e a culpa que revirava o meu estômago.

— Mas parece que não foi tão boa assim a surpresa — seu sorriso some.

— Foi — balanço a cabeça, tentando afastar qualquer dúvida sua — Só foi realmente surpreendente — alargo os lábios dissimuladamente — Não esperava que você voltasse tão cedo.

Suas mãos enfiam-se dentro do bolso do jeans. Sua cabeça afunda-se entre os ombros, assim que seus lábios se comprimem na melhor expressão de inocência.

HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora