Capítulo 3

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Eu não me lembro de qual foi o dia ou o momento em que eu me senti tão envergonhada.

- Você se machucou ? - escuto uma voz grave me perguntar.

A vergonha é demais. Enquanto estou aqui nesse chão, caída e totalmente lambuzada pela sopa quente que queima minha pele, tenho vontade de me enfiar em qualquer buraco e me esconder, ou quem sabe ser engolida por essa terra. 

Ele estende a mão para mim, mas o medo de retribuir é maior. Então eu aceno de leve em negativa com a cabeça e faço esforço para me levantar.

- Olha o que você fez, menina - Verônica branda entrando na cozinha, eu nem ouso em olhar em sua direção, em ninguém em específico.

- Patrão, me perdoa, ela é muito nova não entende nada. Dou minha palavra que irei tomar medidas sérias contra ela - o aperto da sua mão em meu braço  esquerdo machuca e me faz levantar a cabeça ate colidir com os olhos ferinos.

Será o meu fim. Já penso em pegar as minhas poucas coisas, quer dizer, nenhuma e procurar um outro emprego ou quem sabe...

- Verônica, não seja tão dura com a garota. Foi um acidente, você se machucou querida? - Madellyn, minha patroa me pergunta com olhares de preocupação e entendimento. 

Nesse exato momento eu tenho vontade de chorar, nunca ninguém foi tão generoso como ela esta sendo comigo.

Uma visão, ou melhor uma pessoa chama a minha atenção, desvio meu olhar ate sentir os olhares quentes e frios direcionados à mim. Os mesmos olhares do senhor Miller. Os traços físicos como a da mulher ao lado dele são idênticos, desde o cabelo loiro ate os olhos azuis.

Ele é o filho deles. Talvez.

Não percebo que eu o estou encarando ate ele arregalar os olhos e ficar me olhando sugestivamente.

Olho para o chão imediatamente. Isso que dá ficar encarando as pessoas. Penso comigo mesma.

- Senhora, isso não vai mais acontecer - Verônica envolve o braço em torno da minha cintura - eu vou discipliná-la. 

- Me des.. desculpe senhor e senhora Miller - guaguejo.

Um toque de telefone surge no ambiente. Dou graças à deus por essa distração.

- Foi muito bom fazer parte desse espetáculo, mas eu tenho outras coisas mais interessantes para fazer.

- Ryan, onde você vai ? - o senhor Miller pergunta furioso para o filho.

- Tenho coisas importantes para resolver - fala saindo pela porta.

- Não, não tem não! - o Senhor Miller fala, vejo uma veia se dilatar em sua testa - você irá me esperar no escritório. AGORA! - ele eleva a voz.

- Já disse, tenho coisas mais importantes a fazer. - ele se aproxima onde estou e para perto do pai - você já pode comer a nova empregada, pai. Isso não é novidade. 

Me assusto com suas palavras.

 Eu fiquei mais assustada quando o senhor Miller o nocauteou. Eu soltei um grito.

O garoto caiu no chão e nele segurar o forro da mesa enquanto estava caindo, todas as coisas que haviam nela se espatifaram. Pratos e copos viraram mil pedaços, comidas foram espalhadas. Virou uma bagunça total.

Ele se levanta e olha para mim com um olhar ferino e depois desvia sua raiva para o pai. Sua boca escorre sangue.

- Porra! - ele fala dando um sorrisinho sem graça.

- Filho... - a mulher tenta ajudar ele .

- Não precisa, porra - ele a repele.

- Tire ela daqui - o senhor Miller ordena para Verônica, que esta pasma ao meu lado.

[...]


Faz mais de 2 horas que estou deitada na cama e só olhando para o teto. A penumbra da noite me faz olhar para algumas estrelas da pequena janelinha do quarto. Eu chorei desde que sai daquele lugar, depois das ofensas.

Estrela, estrela cadente, se você passasse agora iria te fazer um pedido. Venha me resgatar, me mande um príncipe de armaduras brilhantes. Já faz tempo que não acredito em contos de fadas. Mas, tem vezes que não custa sonhar. Em muitos momentos a nossa vida esta uma merda e o que nos sobra é a nossa imaginação. No sonho tudo é perfeito.

Fico encarando as estrelas ate que uma sombra, um vulto  passa pela janela e a luz  do lado de fora do jardim se apaga. Dou um grito. Despenco da cama e me contorço de dor nas costas por causa do impacto. Barulhos de ferro batendo contra ferro ecoam do lado de fora. Eu suo frio. O barulho da luz do pequeno porte do lado de fora da mansão fica fazendo barulinho de queimado. Eu choro de dor e de medo.

Um barulho forte de uma pedra sendo lançada no vidro da minha janela, quebrando o vidro,  me faz levantar e correr.

Abro a porta do quarto e corro pelo corredor escuro. Vou para na cozinha, o breu dela me faz ter um pouco de visibilidade de um formato de um homem parado. Minhas pernas bambeam. A luz se acende.

Eu o encontro parado, amparado na pia, com um cigarro na boca. Seus olhos de calma, com a expressão de tédio vagueia pelo meu corpo. Só agora me dei contar que estou vestindo uma camisola imensa que a Verônica deu para mim.

- Er... me de... desculpe, mas alguém jogou uma pedra...

Ele fica me analisando por vários minutos. Vai ficando desconfortável para mim.

- Eu entendo, querida. Deve ser um dos moleques do prédio que fica jogando as coisas aqui. -ele puxa uma cadeira da mesa e me olha com tédio.

- Não queria ofender mais cedo... - fala com doçura. E um certo arrependimento?

Mas, ofendeu mesmo assim, penso comigo mesma.

- Você já fumou uma erva? - ele me pergunta abruptamente.

Ele levanta a mão com o cigarro nos lábios e me encara em seguida, so agora percebo o corte no seu lábio.

- Ryan - dou um pulo de susto quando o senhor Miller surge entre a escuridão do corredor e entra dentro da cozinha.

- Oi, pai.

- O que esta havendo aqui ? - ele pergunta para o filho com educação, mas de maneira fria.

- A Jiil e eu somos amigos agora - ele se levanta e caminha até mim, segurando minha mão e a apertando forte - não é mesmo, Jill? - pergunta frio e com os olhos azuis intensos me encarando impassível.

- Er.. é claro - falo querendo me livrar do aperto forte da sua mão na minha.

Se eu tivesse a consciência que a partir desse momento as coisas já estavam sendo mudadas para sempre, com certeza eu faria tudo diferente, ou não!


INTENSO DOMÍNIOOnde histórias criam vida. Descubra agora