Capítulo 40

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||Ryan Miller||

Não sabia se era um sonho, uma alucinação.

Mente distorcida.

Não foi preciso pausar o momento, ou talvez  congelá-lo no tempo. Por que simplesmente tudo aconteceu em câmera lenta. Cada palavra, cada gesto, minuciosamente lento.

A mulher que dominava os meus pensamentos estava descendo cautelosamente os degraus. A realidade e o sonho se misturaram e isso me deixou atônito pra caralho.

As vozes interromperam, as mesas sumiram, as pessoas ao meu redor não fazia mais diferença, é como se elas nem existissem ou estivessem aqui. Exceto ela, ela era o foco, ela era a luz em meio à escuridão.

Quando ela passou por mim, estava em negação, sem saber absolutamente nada, sem querer acreditar em nada. Ela era a Jill, a minha Jill.

Em meio à esse mundo louco pra caralho, depois de anos, meu coração deu uma fincada. As alavancas enferrujadas parecia quererem se engrenar.

Demorou segundos para eu ir atrás dela, segundos para sair desse estupor. Na verdade demorou quatro malditos anos para mim botar a porra dos meus olhos novamente nela.

Eu corri em meio às pessoas, derrubei travessas de comidas na mão de garçons.

Vi ela subir pelas escadas, acompanhada.

Lembro perfeitamente dela entrelaçar seu braço ao redor de um homem. A fúria, o ciúme dominou o meu corpo.

A irracionalidade não abria brecha para a razão. Estava possessivo demais, sedento por ficar a sós com ela, por querer respostas.

Porra, foram quatro anos.

Quatro anos.

Sem chance que ela irá embora, fugir de mim outra vez.

Eu a vi no final do corredor, entrando na última porta.

Sozinha.

Eu corri até ela.

Encontrando a porta entreaberta eu parei no batente da porta maravilhado com a sua presença. Ela estava de costas para mim.

Não importa se o cômodo estava consideravelmente escuro, mas a luz que a iluminava deixava refletir a sua imensa beleza em um vestido completamente azul com pérolas. Queria que ela se virasse.

Mas eu estava com muito medo de que quando isso acontecesse, não fosse real e a sua imagem esvaisse da minha mente.

Meus joelhos fraquejarem. Passou tanto tempo e agora ela estava ali. A poucos passos de mim.

Ousei dar alguns passos mais a frente.  Como se fosse uma fada ela se virou para mim.

Aquelas imensas íris azuis fascinantes colidiram com os meus olhos.

Eu quase corri em sua direção, queria pegar essa mulher, beija-la, me enterrar profundamente nela. Só depois viriam as perguntas. Onde ela esteve durante todo esse tempo?

Entretanto, eu fui paralisado quando uma arma foi apontada em minha direção.

- Se você der um maldito passo, não hesitarei em lhe perfurar, querido! - sua voz fria e com uma calma intensa  me fez paralisar.

A arma estava apontada para mim, ela não vacilou. Levantei meus olhos até eles se encontrarem com os seus.

- O que foi, querido? Peguei você de surpresa antes de você chamar um de seus homens para dar um cabo em minha vida? Outra vez?

Que porra ela tava falando?

- É sempre assim não é?! Vocês sempre mandam alguém fazerem o trabalhinho sujo para vocês, nunca sujam as mãos.

- Jill... - comecei a andar em sua direção.

A raiva já estava me dominando, o desejo ardente, tudo.

Eu me esqueci o quão maravilhosa ela é . A sua beleza triplicou. A mulher a minha frente estava mais madura, os traços mais expressivos.

- Fica. Parado. Aí. -  Bradou.

- A gente precisa conversar, meu amor... - sibilei.

- Para quê? Pra você contar outra de suas mentiras, para mim cair novamente eu seus encantos. - soltou uma risada sem humor. - Obrigada, mas eu passo!

Eu não conhecia essa Jill. Seu humor ácido estava me deixando maluco.

- Jill...

- Meu nome não é Jill, porra. - vociferou.

Eu congelei com a última palavra que saiu de sua boca.

- Não fique espantado, querido, infelizmente em algumas coisas você me marcou.

- Para com isso! Me fala, caralho, o que tá acontecendo?

A fúria, o meu sangue quente começou a subir pelo meu corpo.

- Você não percebe o quão maluco  você me deixou nos últimos anos. Saiu sem dar respostas...

Enquanto palavras saiam de mim, a mulher a minha frente não esboçava nenhuma emoção.

- Caralho, loirinha, eu achei que você estava morta. Onde você esteve?

- Era isso que vocês queriam... me veem morta. Mas sinto muito, eu estou bem viva.

Em nenhuma momento ela recuou a arma em minha direção.

- Caralho... - comecei a ir em sua direção.

Eu fui alvejado.

Cai pelo chão em um gemido abafado de dor.

O som da arma não fez barulho, provavelmente ela estava usando algum silenciador.

A dor em minha coxa estava queimando.O barulho dos seus saltos se aproximaram de mim.

Com uma careta de dor abri meus olhos e a vi se agachar e sussurrar:

- Não se preocupe, querido. O ferimento não é tão grave quanto parece. Você irá sobreviver. Diferente das feridas que você e  sua maldita família causaram a mim e a minha família.

- Loirinha...

O sangue começou a escorrer pelo chão.

- Não se preocupe, quero você e sua família bem vivos para pagarem por todo mal que fizeram. A morte não é uma opção, querido.

Ela acalentava meu rosto.

Não, ela não atirou em mim. Era irreal.

INTENSO DOMÍNIOOnde histórias criam vida. Descubra agora