capítulo 31

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4 anos depois.

|| Ryan Miller ||

As ondas cortantes do mar perto de Navy Pier estavam furiosas.

Em pé na pedra perto da costa, observo os respingos lançados em mim quando elas se colidem com as pedras.

Com as duas mãos no bolso inspiro o cheiro do mar. O cheiro dessa praia é diferente, me faz lembrar do passado. De acontecimentos ocorridos há muito tempo, mas que para mim parece não ter passado nenhum dia, porra.

- Senhor, já identificamos os suspeitos. - um dos meus seguranças me avisam.

Continuo a olhar para a frente, absorvendo cada cheiro, cada memória.

- Ótimo!

Receio me afastar desse lugar e me esquecer. Mas como eu poderia?! Está encravado em mim.

Ela está encravada em mim.

Já são quatro anos sem respostas. Quatro anos de silêncio. Quatro anos a sua procura.

Ela sumiu do mapa. As vezes acredito que ela está morta. Mas a memória dela é muito presente na porra da minha cabeça.

As vezes sonho com o seu corpo nu sobre o meu, ou ate mesmo com seu sorriso e o seu fascínio por livros, por querer saber sobre tudo.

Não sei o momento certo que tudo ficou tão encravado em mim. Porra, não era para ser assim.

Eu não deveria estar aqui neste exato momento, mas algo dentro de mim me move para cá. É como se fosse um imã.

- O GPS indica à 1km daqui, senhor! - Earl me mostra mapas de localizações pelo ipod. - os outros o localizaram nas redondezas, e  alguns deles conseguiram fugir.

A Brisa do mar vem contudo para mim, é a mesma do parque daquela noite, na roda gigante.

Meu sangue ferve. A ira dentro de mim é quase incontrolável. Mas os pensamentos nela me traz um pouco de paz. É como se fosse uma droga para mim.

Eu não falhei nos negócios. Mas eu falhei em não encontra-la, em saber onde ela está.

- Vamos pegar esses filhos da puta! - rango meus dentes.

Com o passar dos anos eu fui assumindo os negócios. Provei ser o filho certo,  para o meu pai. Até um determinado momento reconheci que meus ataques de rebeldia só estavam me prejudicando. Se eu queria derrubar Jason Miller teria que abaixar a bandeira e ficar do seu lado, mesmo que eu tenha me recusado à isso.

Só assumi o que era meu por direito.

Provei que estamos jogando lado a lado, no entanto, gradativamente eu o estou tirando do poder. Ele me deixou assumir, mas eu o fiz pensar que ainda sou uma marionet em suas mãos.

Ao longo desses quatro anos tivemos que assumir medidas mais drásticas. As nossas cargas estão sendo desfalcadas. Os nossos produtos estão sendo interceptados. Estamos perdendo território. Os narcóticos estão em nossa cola. Mas as nossas conexões não estão totalmente abaladas.

Eu sempre quis assumir os negócios. Mas não era tão fácil assim. Os inimigos disputam por territórios mesmo nós impondo que quem manda aqui são os Miller.

Os filhos da puta invadem nosso território, mas felizmente eu assumi o poder, e desde então eles provam da minha ira. Não fora fácil, houve questionamentos se era a ideia mais correta eu assumir o poder . No entanto, provei e provo a cada dia para aqueles que me subestimaram, o quão feroz posso ser.

Meus seguranças vão na frente e eu vou com minha Ferrari atrás. Alguns deles estão à metros de distância atrás de mim disfarçados, caso haja um possível ataque.

Olho para o meu rolex marcando cinco horas da tarde. O banco vazio ao meu lado traz a sensação de vazio, de perda.

Acelero minha Ferrari.

Sem distrações.

Pode passar o tempo que for, nada vai mudar a sensação da adrenalina, da velocidade intricados em meu sangue.

Passo por uma estradinha de terra cheia de cascalho no chão.

Com o passar do tempo tivemos que reforçar a segurança dos balcões. Perdemos muitas cargas, muito dinheiro. Ficamos sem resposta, algo inconclusivo. Tivemos que mudar por diversas vezes as rotas dos nossos produtos.

Encontro dois filhos da puta sentados, amarrados na cadeira.

O sangue escorria de suas testas, com os olhos já enchados eles me encaram em reconhecimento, e medo reflete em seus olhos.

Eu ganhei fama, as pessoas ouvem história sobre mim. Em como eu me tornei o bicho papão, como eu me tornei letal, sem piedade. Eles dizem que superei meu pai.

Eu acredito nisso, em todos os sentidos.
Guardei tudo que estava e ainda estou sentindo e foquei no que me dá um alento de paz, nessa vida de merda.

Chego perto dos dois homens.

- Mexicanos? - pergunto para um dos meus seguranças.

- Sim, senhor!

Tiro o pano da boca de um deles. Ele ruge e cospe sangue no chão.

- Quem enviou vocês? - pergunto chegando mais perto.

- Ninguém.

Earl pega a barra de ferro e golpeia suas pernas.

Ele urra de dor.

Earl não está no melhor momento, porque na tentativa de fuga um dos nossos fora morto por eles. Obviamente, era o segurança mais chegado de Earl.

- Mais uma vez, quem enviou vocês? - pergunto novamente.

- Vai se ferrar. - ele continua a cuspir sangue.

Suas roupas estão um maltrapilho. Analiso seu braço coberto de tatuagens, talvez consiga informações do quartel   rival.

Sinaloa?! Os produtos deles não entram em Chicago. Isso é um acordo.

Earl espera o meu comando para poder atacar novamente, mas eu analiso minha presa.

- A gente pode jogar esse joguinho o dia todo, amanhã, depois de amanhã também. - falo com calma.

Arregaço as mangas da minha blusa social e os observo. O outro está com a cabeça abaixada.

Ando ao redor deles, em passos lentos.

- Vocês estão perdendo... - ele começa a falar.

- O que disse? - dou um passo a frente.

Seus lábios se abrem em uma risadinha cínica. O sangue preenche sua boca, alguns dentes foram quebrados. Ele levanta a cabeça e seus olhos me encaram, um olhar de triunfo, de vitória.

- Eles vão ganhar. Ela vai ganhar.

INTENSO DOMÍNIOOnde histórias criam vida. Descubra agora