Os Giordano e Barone irão conhecer o inferno, irei me assegurar que sejam consumidos pelas chamas dos Caccini ainda em vida e que na morte não sobre nem as cinzas.
Piero concordou em deixar o circo pegar fogo. As ruas de Milão arderam desde o dia que meu primo foi enterrado, traficantes menores foram autorizados por mim a saquear os produtos do Conselho nas bases de Guido e Cesare, se oporem, sob minha proteção, a eles. Os ladrilhos ficaram banhados em sangue durante a noite e adornados pelas balas de dia. Corpos carbonizados se tornaram brindes propícios para reafirmar meu aviso: Sangue se pagava com sangue.
Tio Ezzio passou a me culpar menos depois que descobriu que os Giordano tinham a ver com a morte de Alessandro e que o casamento marcado de Chiara Barone com Carlo Giordano estava diretamente relacionado com isso. No entanto, a culpa ainda pairava sobre minhas costas devido a sensação de impotência que estraçalhava meu peito.
Antes mesmo de me permitir sentir o luto, ordenei que cercassem e marcassem as principais boates dos Giordano, meus homens estavam a postos para destruir tudo ao meu sinal. Só faltava a hora certa chegar. Meu coração queria vingança a todo custo, mas meu cérebro insistia em entender primeiro quem eram meus reais inimigos.
— Lucrézia, chegamos. — Piero sacudiu a mão na frente do meu rosto. Tinha me perdido na minha própria sede de sangue.
Olhei para fora do carro, os vidros cobriam a fachada do prédio do chão ao teto em meio as paredes brancas e o letreiro "Laboratório de Química Experimental Ludovico Ricci", vários andar se estenderam pelo nosso caminho até nos depararmos com a sala de Luigi Martinelli (PhD em Química Orgânica e Analítica).
— Espere que ele fale. — Sussurrei para Piero, alto o bastante para chegar aos ouvidos de Luigi atrás da mesa.
— Os chamei aqui, não foi? — Riu, meio apático, em seu jaleco branco. Diferente da vez que o vi convulsionar na minha sala de estar.
— Fale de uma vez, Luigi. — Piero não estava nem um pouco confortável em aceitar ajuda do meio-irmão bastardo.
— Que mal lhe pergunte, por que escolheu aqui especificamente? — Apontei pras bancadas cheias de vidrarias volumétricas e reagentes inflamáveis.
— Campo neutro, cunhadinha. — Meu marido torceu o nariz. — Longe da máfia e a uma distância segura para manter minha cabeça sobre o pescoço.
— Giusto! Agora comece a falar antes que decida explodir você.
— Quero ajudar, Lucrézia. Não por você ou por ele — moveu o queixo na direção de Piero, que fez um gesto semelhante a "não há de que", — mas por Guero. Ele sempre me tratou como gente, ao contrário de certas pessoas. — Alfinetou Piero mais uma vez e o limite dele ficou visível, quase estourando.
Cerrei os olhos, não confiava em Martinellis, ainda mais naqueles que tinham a mesma cara de Vincenzo.
— Guero foi mais meu irmão que Piero... — Ergueu o rosto para afastar as lágrimas
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Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia) - 01 [Danatto Sangue]
Roman d'amour"Na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem." - Nietzsche. Lucrézia Caccini é uma jovem geniosa e cheia de opiniões, de vinte anos, que já sofreu muito na vida. Nem sempre ela foi distante e arredia, mas os assassinatos, sequestros...