— Eu não entendo o que você é? Você é humano? Monstro? O que é você... — Eu perguntei tensa.
— Não importa o que eu sou. Monstro ou humano, eu contínuo na merda, fedelha. — Ele esclareceu.
— Eu também estou na... Na merda? — Eu perguntei hesitante.
— Sim, você está bem ferrada. — A voz dele era rouca. — Se eu te matasse aqui agora estaria te fazendo um favor.
— Eu achava que os monstros não sentiam nada, achava que era impossível eles sentirem empatia. — Eu admiti. — Talvez vocês sejam mais humanos do que eu pensava.
— Você é muito jovem, se sobreviver vai aprender que a maior forma de empatia é a dor. Empatia é se colocar no lugar de quem está na merda. — Ele fez uma pausa. — Mas aí você vai aprender que sentir a dor do outro não vale nada.
— Nossa, então você odiaria a Emma. — Eu comentei dando um meio sorriso, tenho certeza que ele me olhou como se perguntasse "quem é?".
— Pra ela valia a pena, para mim era só uma forma de preencher um espaço que eu mesma criei.— Achei que todos os órfãs catarrentos tinham que ser felizes e mimados. — Ele zombou.
— Aí é que está... Eu sou órfã... E cega. A junção desses dois não foi muito legal. — Eu ponderei.
— Me parece uma garota mimada reclamando. — Ele sentenciou.
— O que de ruim aconteceu na sua vida que faz você achar que tem o direito de medir o sofrimento dos outros? — Eu perguntei.
— Tem razão, fedelha. Eu não tenho direito de medir o seu sofrimento "banal". — Ele disse irônico. — Mas você acha que tem o direito de julgar o meu?
Ele estava se referindo aos monstros. Eu tenho os meus motivos.
— Eu pelo visto não tenho o direito de nada nessa merda de mundo. — Eu comentei.
Eu ouvi uma pequena inalação, ele deve ter sorrido.
— Merda. — Ele repetiu. — Tudo se resume a isso. Defini os meus quarenta e seis anos de vida.
— O QUÊ?— Eu perguntei pasma. — Você tem quarenta e seis anos. SEU VELHO TARADO!!
— Eu não sou tarado, fedelha. Eu tenho ética mesmo que você não acredite. — Ele contestou calmo.
— É realmente difícil de acreditar considerando as circunstâncias. Sua ética inclui ver crianças morrerem e não fazer nada? — Perguntei na base do sarcasmo.
— Você é jovem demais, teimosa demais e ingênua demais, não entenderia. Agora vai dormir. — Ele argumentou finalizando a conversa.
— Não estou com sono. Por que não podemos continuar conversando? — Eu perguntei entediada.
— Geralmente as crianças não conversam com os seguranças, elas só dormem orando para que não sejam mortas. — Ele explicou. — Só trocam palavras nos treinos, teve um garoto que literalmente se cagou de medo.
— Eu não tenho medo de você. — Eu ponderei.
— Mas deveria. Não pense que eu sou alguém bonzinho, fedelha. O que você está sentindo é pena e isso pode impedir sua sobrevivência. — Ele disse seco.
— Eu não... — Eu comecei antes de ser cortada.
— Eu não sou alguém do bem, Aysha. — Ele urrou com calma. — Existem poucas pessoas que são, eu não vou ser seu amiguinho. Se lembre eu só sigo ordens.
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The Promesed Nerveland: Human
Hayran Kurgu|•Aysha era uma menina cega que vivia no orfanato Grace Field House, juntos de seus trinta e oito irmãos e sua Mama Isabella. Norman, Emma e Ray são um deles, juntamente com ela eram os mais velhos da casa, em uma noite Aysha, Emma e Norman vão até...