Paris

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POV Chat Noir

Ladybug não precisou de mais do que uma frase e um gesto com a mão pra me dispensar do quarto. Não queria me afastar, mas a reação dela deixava claro que minha presença no cômodo só estava piorando tudo. Como se sempre soubesse onde deveria estar, Mestre Fu me esperava no corredor mais uma vez. "Não devemos pressioná-la", ele falou, enquanto eu fechava a porta atrás de mim, "O dia de hoje foi uma surpresa pra ela em todos os sentidos, estou surpreso que ela ainda queira ficar nesse lugar por mais algumas horas". Apenas concordei com a cabeça, sem saber se levava a conversa para dentro do meu próprio quarto. "Luka já está fazendo as malas, não deve demorar muito pra sair". "Nós também estamos indo, ele pode ficar se quiser... Eu até prefiro", respondi, sem tentar mascarar a raiva que aos poucos diminuía dentro de mim. Mestre Fu negou com a cabeça, "Eu estava errado quando achei que eles poderiam passar algum tempo juntos nesse castelo. Já estou satisfeito pelos dois saírem vivos". "Luka me contou o que aconteceu entre eles, mas não consigo entender porque ele odeia tanto a Ladybug, mais parece um garoto mimado pra mim". Um riso fraco e nostálgico sai do corpo marcado pelos vários anos, "Os dois são assim, não estão acostumados a não ganhar o que querem... Achei que poderiam aprender isso com o tempo e com as perdas...". "Ele arrastou ela pra toda essa situação!", argumentei, permitindo que minha voz se elevasse um pouco, "Era pra ela ter matado aquele empresário, ter se tornado tudo que ela é hoje". "E o que teria acontecido com ela? Ela desistiria da paixão platônica por Luka? Voltaria para Paris e viveria uma vida normal? Quem sabe vocês até se conheceriam por meio de um amigo em comum e se apaixonariam, é isso o que você queria que acontecesse? Que aquela criança que ela pode, ou não, estar carregando fosse sua?", tive a sensação de estar sendo socado a cada pergunta, "Se quer culpar alguém pelo que aconteceu, culpe a mim. Eu poderia ter impedido os dois". Suspirei, "O senhor não parece ser uma pessoa ruim, mesmo que tenha mentido sobre como tudo aconteceu...". Mestre Fu ajeitou a postura e juntou as mãos nas costas, "As aparências enganam. Até antes de toda essa confusão, a Ladybug era um monstro pra você, detetive", ele se virou de costas e começou a caminhar para longe, "Não precisam me avisar quando estiverem saindo, as paredes tem ouvidos, e elas são as únicas que não contam mentiras".

De madrugada, quase que na mesma hora em que chegamos há alguns dias, encontramos Mestre Fu no hall de entrada, o carro de Luka tinha acabado de sair da propriedade cantando pneu. "É uma pena ter que ver vocês partindo mais uma vez", o mais velho comentou, deixando transparecer como a semi-solidão o incomodava, "Mas vai ser melhor se você não voltar, pelo menos não por enquanto", ele deu alguns passos em direção a Ladybug e segurou as mãos alvas dela, "Eu ficaria feliz se tivesse a chance de conhecer uma criança com os seus olhos". Desviei o olhar da cena, parecia errado invadir o momento entre mestre e aprendiz, mesmo que só com o olhar. Porém, ainda que eu estivesse concentrado a atenção em Trixx, que acenava para mim, me esforcei para captar a resposta baixa da garota: "Vamos torcer pra que ela tenha os meus olhos". "Façam uma boa viagem", ele falou, apertando minha mão como despedida. Rapidamente enfiamos as malas de volta no carro. Mestre Fu não aceitou o dinheiro, nem os documentos que a Joaninha acumulou sobre seus sócios, ele disse as duas coisas seriam mais úteis para nós dois do que para ele, mas ficou com as armas, não teríamos como levar elas para dentro da cidade e escondê-las com segurança. Ladybug também não reclamou quando eu sentei no banco do motorista. Esperei até que já estivéssemos fora do terreno da propriedade para iniciar o assunto. "Então...", eu conseguia ver os olhos azuis pelo reflexo do vidro fechado, ela não desviou o olhar da paisagem que ultrapassávamos rapidamente, "Você pretende ficar com o bebê?". "Não tenho certeza se estou grávida, você mesmo disse que pode ser psicológico", ela respondeu um pouco mais fria do que eu esperava depois de todos os momentos que compartilhamos. "Eu ouvi o que você disse pro Mestre Fu, sobre o seus olhos". "Foi uma mentira". "Não parecia uma", ela deu de ombros, "Ele deixou você ficar com o dinheiro na esperança de que você não abra mão da gravidez, mas da Ladybug". Ela concordou com a cabeça, "Muita gente que sumir com a Ladybug, até mesmo você", ela finalmente se virou, encarando meu rosto com intensidade. Foi a minha vez de não querer encará-la, "Eu queria sumir com os crimes dela, não com você". "Não, você queria sumir comigo, eu ouvi sua conversa com o Mestre Fu logo depois que você saiu do quarto. O que foi mesmo que você disse? Era pro Luka estar no meu lugar?", não respondi. "Não sabia que querer uma vida melhor pra você era errado", respondi, finalmente devolvendo seu olhar fulminante, mas logo voltei os olhos para a estrada, "Não sei porquê você fica tão ofendida toda vez que alguém comenta que as coisas poderiam ser diferentes". "Porque todo mundo comenta isso, é um lembrete mais do que constante de todas as escolhas erradas que eu já fiz na vida". "Estou te dando a chance de consertar isso, estou fazendo isso tem muito tempo", respondi, "É só você tirar essa máscara agora, vamos chegar em Paris e eu vou fazer tudo o que eu puder para te ajudar, você tem muitos motivos pra aceitar minha ajuda agora". Ela riu, não sei se foi ironia ou falta de esperança, "Você não está me dando a chance de de consertar as coisa, está me dando a chance de fingir que elas nunca aconteceram. E, já faz tempo que essa máscara não serve pra me proteger, ela serve pra proteger pessoas inocentes que não tem nada a ver com os meus erros". Suspirei baixo, não acho que ela tenha ouvido, "Você não precisa proteger ninguém de mim". "Isso sim parece uma mentira", ela responde, virando o rosto de novo e se acomodando melhor no banco. Depois de alguns minutos, não sei se a Joaninha está dormindo ou só fingindo.

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