Eu fiquei paralisada ao ouvir aquilo. Olhei para Nicole e ela estava tão pasma quanto eu.
— O quê? — perguntei, depois de tentar absorver aquela notícia.
— É isso mesmo. — respondeu, apontando o monitor.
Nicole se aproximou e nos encarou de sobrancelhas franzidas.
— Isso é possível, doutor? — Ela perguntou com a voz vacilante.
— Sim. Os exames estão ótimos, podem ficar tranquilas. Manu, você faz um ótimo trabalho, parabéns. A paciente também aprova. — falou e sorriu.
Eu estava tremendo e nem notei quando Nicole levou o médico à saída. Fiquei no quarto observando Kelly na cama, o meu coração estava a ponto de explodir e o dela passou a se acalmar.
Sentei-me na poltrona tentando sossegar. Abaixei a cabeça e a apoiei nas mãos.
Nicole voltou minutos depois e a encarei. Ela cruzou os braços e ficou numa distância considerável de mim. Eu a fitei e esperei que falasse algo, mas permaneceu na mesma posição nos observando. Olhava de mim para Kelly, se demorava por lá e depois me fitava de novo.
Apertei o meu rosto com as duas mãos, suspirei profundamente e senti Nicole se aproximar de mim. Abri os olhos e ela se agachou.
— Obrigada. Eu fiquei chocada, fiz inúmeras perguntas ao médico. Eu confio em você, sei que essa reação dela é boa.
Inúmeras perguntas!
— Chegou a pensar que a reação dela fosse de medo? — indaguei, na defensiva.
— Manu, desculpa. Já passei por isso com outra pessoa, por isso fiquei em choque. Kelly estava sendo maltratada pela enfermeira que antecedeu você. E estou comentando porque precisava agradecer. Isso é um avanço. Eu sei que jamais faria algo para machucar ou deixar minha esposa com medo.
Verifiquei o relógio e deixei o quarto. Ela estava me dizendo que chegou a pensar aquilo de mim, mas eu não era obrigada a ficar ali ouvindo. Estava quase morrendo de nervosismo.
Entrei no meu quarto e fechei a porta. Dei vazão às lágrimas que eu nem sabia que queriam sair. Depois de um choro convulsivo, lavei o rosto e fiquei um pouco lá, me recuperando.
Ouvi leve batida à porta. Eu sabia que era Nicole, deixei que batesse de novo.
— Oi — falei, encarando-a.
— Oi — respondeu já entrando no quarto. — Desculpa, por favor. Não duvidei de nada sobre você. Foi apenas o trauma me sacudindo. Me perdoa. Cada avanço desse me deixar trêmula e cheia de esperanças.
Desviei os olhos dos dela.
— Você faz bem a ela e isso me deixa muito feliz. Me perdoa, por favor.
— Tudo bem, Nicole. Só fiquei tensa pelo susto. Me senti mal, mas vai passar. Você tem razão em ter cuidado, mas estou aqui há quase três anos.
— Desculpa — falou, meneando a cabeça e se aproximando de mim. — Foi o susto. — Segurou o meu rosto e me beijou.
Eu a abracei, consegui ouvir nossos corações batendo.
— Mamãe! — Ouvimos a voz de Hugo e Nicole se afastou devagar.
O menino entrou no quarto e nos abraçou.
— Mamãe Kelly vai acordar. — O sorriso inocente dele me encheu de algo bom.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Soneto
Short StoryColetânea de contos LGBTQ+ Esta obra é o primeiro volume do projeto Soneto misturando música, drama, comédia, Sci-fi em romances clichês. Todas as cores, todas as letras e vários amores.