Olá, Telly

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Roden já vivia com um coração mecânico havia muitas décadas. Ele foi uma cobaia de Laura Mortani, uma negra alta de corpo bem definido e extremamente inteligente. Além de médica e cientista, ela era engenheira mecatrônica e dona de uma multinacional de biomedicina, desenvolvimento de software de inteligência artificial e pesquisas, a MECA LIFE.

Roden era segurança da casa de Laura e estava trabalhando quando se sentiu mal e sofreu um infarto. A cientista presenciou o desmaio do funcionário e imediatamente o levou para um hospital. Ele precisava de atendimento especializado, pois era um dos poucos habitantes do planeta cem por cento humano e saudável.

O homem foi a óbito quando estava sendo atendido, mas Laura o manteve ligado a aparelhos enquanto fazia testes com alguns protótipos de coração. Depois de anos, ela finalmente poderia testar o órgão mecânico em alguém.

A família de Roden aceitara de imediato que os testes fossem feitos. A maioria dos parentes do segurança já vivia com alguma parte do corpo cibernética. O caso de Roden só era mais ousado e delicado, segundo Laura.

— Se ele parar de bater por muito tempo, para de oxigenar o cérebro e, logicamente, causa morte cerebral. Por isso ele passará um tempo sendo monitorado.

E assim Roden sobreviveu — o segurança substituiu algumas outras partes do corpo ao longo do tempo — e continuou trabalhando para Laura, que morava com a esposa, Telly, e a filha, Angelina, de dez anos de idade.

Telly era designer e arquiteta, sempre deixou claro ser contra a robotização humana, até que, aos cinco anos, Angelina foi diagnosticada com uma doença incurável e, para não perder a filha, ela pediu que a menina fosse submetida ao teste de compatibilidade de órgãos artificiais.

Angelina passou alguns meses no centro de pesquisas da mãe cientista e saiu de lá com novos órgãos cibernéticos: os pulmões e o fígado.

A equipe da MECA era muito bem treinada por Laura, que era filha de cientistas da mesma área. A mulher estudou e se especializou em medicina em algumas áreas específicas, como cardiologia, neurologia, ortopedia etc., além de engenharias e ciências.

Depois de robotizar seres humanos com órgãos e membros mecânicos, Laura planejava deixar os robôs mais 'humanos', criando assim uma leva de robôs com as características e aparência de pessoas.

Noventa por cento do quadro de funcionários da casa de Laura era composto por robôs, controlados por ela e a família.

Mesmo depois de anos convivendo com as máquinas, Telly ainda desativava Mila, a babá, sempre que ela agia de forma diferente.

— Se ela machucar a minha filha eu boto fogo nela — disse certa vez à mesa de café da manhã e arrancou uma risada de Laura.

— Tudo bem, meu amor. Ela só precisa de uns ajustes, pois está demorando muito tempo para reiniciar.

A babá estava parada, com os olhos fixos na parede da frente, exatamente onde estava quando jogou um brinquedo de Angelina de forma brusca.

Telly estava trabalhando e observava a filha em seu monitor.

— Filha, estou chegando — avisou e encerrou seu expediente. Desligou algumas máquinas e alguns projetos holográficos sumiram.

A superproteção de Telly com relação à filha se devia ao fato de ter lutado muito para engravidar e quando conseguiu, descobriu que poderia ter apenas aquela filha. Depois de passar alguns meses fazendo tratamento para conseguir ter um filho com Laura, Telly, já exausta, conseguiu. Foi o terceiro dia mais feliz de sua vida. O primeiro fora o nascimento da menina e o segundo o dia em que se apaixonou por Laura.

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