Procurei o Fábio por duas semanas e não encontrei nem rastro dele. Fiquei muito mal pelo que aconteceu, não por ter acontecido, mas por ter deixado que ele se fosse sem me deixar um sinal de vida.
Os meninos do aplicativo pararam de falar comigo achando que eu estava namorando. Confesso que na minha cabeça, depois daquela noite perfeita que passei com o Fábio, era mesmo para estar. Depois de um tempo, eu tentei desencanar. Pensava no Fábio direto, mas conseguia ir a festas e me divertir com outros caras.
Achando que eu precisava de alguém, canalizei todo o sentimento no Fábio. Comecei a namorar o Francisco, um menino lindo, mais novo que eu. Era técnico em informática, nos conhecemos na empresa em que ele trabalhava, pois precisei levar meu notebook para arrumar. Ficamos três vezes e ele me pediu em namoro. Eu aceitei pensando em como seria perfeito se aquele pedido fosse de uma certa pessoa. Depois pensei que talvez a pessoa certa era aquela que estava na minha frente.
— Você devia vir morar comigo, amor. — Francisco sugeriu. — O apartamento é meu, você pode economizar a grana do aluguel, se quiser.
A proposta foi tentadora, apesar de eu gostar do meu espaço. Mas o que me levou a ir morar com Francisco foi o fato de a minha mãe ter adoecido. Precisei ajudar nos cuidados e financeiramente, pois precisou fazer tratamento caro. Então fui morar com o meu namorado com menos de um mês de relacionamento.
Eu chegava do trabalho e tinha comida pronta, pois ele chegava cedo por trabalhar a duzentos metros de casa. Na primeira semana, mesmo saindo muito para ficar com a minha mãe, eu gostei daquilo, mas, depois foi passando e o menino perfeito não estava com a pessoa perfeita. Aquilo me fez sentir culpa por talvez estar prendendo o garoto que poderia ser amado de verdade por alguém livre, sem a presença de um fantasma que, literalmente, sumiu sem deixar pistas.
Francisco era compreensivo quando me via triste e sem querer sair ou coisa do tipo, pois achava que se devia ao fato de a minha mãe estar doente. Mas aquela tristeza não tinha a ver com a minha mãe, tinha a ver com o fantasma do ônibus. Minha mãe estava se recuperando bem.
Percebi que estava sendo um tremendo idiota e tentei ficar bem com o meu namorado maravilhoso. Mas Fábio apareceu no meu trabalho, um tempo depois. Quase desmaiei, claro, mas tentei ignorá-lo quando o vi conversando com o meu gerente de setor.
O desgraçado estava lindo, sem o olhar de tristeza. Peguei a minha mochila e fui até o relógio de ponto. Ao aproximar o dedo notei que tremia, mas consegui registrar a minha saída. Por um momento, desaprendi a andar e quase tropecei nas minhas próprias pernas, contudo consegui sair do prédio e chegar ao ponto de ônibus completamente ofegante, pois prendi a respiração com medo de deixar transparecer algo.
Senti meus olhos arderem, mas suspirei profundamente, não podia chorar, não ali, em público. E não me aproximaria dele, caso entrasse de novo no mesmo ônibus que eu.
— Jardel? — Ouvi sua voz atrás de mim e travei.
Como não me virei para atendê-lo, ele chegou na minha frente para me olhar.
— Podemos conversar, cara?
— Não. Acho que não temos nada pra falar. Você transou comigo e sumiu como se eu fosse um objeto, então fica sumido que é melhor. — Tentei respirar e não consegui. Estava olhando para a direção em que o ônibus viria, mas parecia coisa do diabo, pois demorou uma eternidade, dando tempo para Fábio me puxar pelo braço.
— Por favor, me escuta.
Apenas o encarei de braços cruzados.
— Eu... — engoliu saliva e olhou em volta, principalmente para a direção de um ônibus que se aproximava. — Nós podemos ir para um lugar mais tranquilo? Eu levo você em casa, depois. Estou de carro.
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Soneto
Short StoryColetânea de contos LGBTQ+ Esta obra é o primeiro volume do projeto Soneto misturando música, drama, comédia, Sci-fi em romances clichês. Todas as cores, todas as letras e vários amores.