Samir pulava sorrindo ao som de um DJ, em um navio de luxo. O jovem usava óculos escuros, sunga branca — enaltecendo seu corpo moreno —, e uma felicidade quase permanente no rosto. Rodeado de amigos, que acabara de conhecer, ele se divertia com um copo de uísque na mão. Engoliu a bebida, molhando o próprio peito, e se dirigiu, dançando, a um rapaz que usava apenas sunga de banho, como a maioria das pessoas presentes naquela embarcação, e o beijou sendo correspondido pelo desconhecido. Os dois se beijaram dançando a música de batida contínua que o DJ tocava.
— Feliz 2020, galera! — berrou o DJ em um microfone e a resposta foi mais gritos desconexos da plateia.
Naquela festa, Samir transou com três homens e cinco mulheres. E numa das noites com todos ao mesmo tempo.
No último momento dele no navio, ele abriu os olhos e olhou em volta. Não estava em sua cabine. Precisava correr. E foi o que fez, pegou a primeira peça de roupa que encontrou e saiu depressa para alcançar seu cômodo, pois precisava daquela privacidade para sair dali.
Entrou na cabine e pegou sua roupa, vestiu-se e calçou os sapatos. Ele estava amarrando os cadarços quando uma das moças com quem ele passara a noite entrou e trancou a porta. Com um olhar malicioso, ela disse:
— Aonde pensa que vai, amorzinho?
— Tu precisa sair daqui agora.
Mas antes que pudesse colocar a moça para fora do cômodo, ele evaporou como fumaça pelo vento.
O físico teórico Samir Delapaglia nascera em 1880, no estado do Rio Grande do Sul. Samir era filho de um grande fazendeiro gaúcho, tinha dois irmãos mais velhos, já casados. Quando Samir fez quinze anos, sua mãe dera à luz Catharina.
Em 1897, o jovem casara-se com Adélia, filha de um grande amigo de sua família. Delapaglia se encantou com a moça e notou-se recebendo o mesmo sentimento. Viveram dois anos de pura felicidade e tentativas de terem o primeiro filho para aumentar a feliz família que iniciaram. Mas uma tragédia destruiu tudo aquilo e Adélia falecera ao tentar dar à luz o primeiro filho deles. O bebê nascera muito fraco e morrera poucas horas depois da mãe. Lamentando muito, a doula que acompanhou a gravidez de Adélia e havia avisado que era uma gravidez de risco para ambos, tentou confortar Samir, falando que ele era muito jovem e poderia se casar de novo.
Desolado, o jovem físico passou a se dedicar a estudar a possibilidade de criar uma máquina do tempo para que pudesse salvar sua amada da morte precoce. Munido de autoconhecimento fora do comum, o jovem foi para a faculdade e iniciou seu grande projeto de vida, ignorando os risos de alguns colegas que descobriam seu intento e se dedicando ao máximo a alcançar seu objetivo.
Depois de formado, enclausurou-se no sótão de sua casa, na grande fazenda da família Delapaglia e passou a estudar sem parar. Fazia os testes mais mirabolantes pensados por algum ser humano.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Soneto
Storie breviColetânea de contos LGBTQ+ Esta obra é o primeiro volume do projeto Soneto misturando música, drama, comédia, Sci-fi em romances clichês. Todas as cores, todas as letras e vários amores.