Home Care 8

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— Ah, meu Deus! Kelly, que linda! — Eu estava emocionada e senti lágrimas descerem dos meus olhos como nascentes de água.

Ela virou a mão pedindo a minha e a apertei suavemente.

— Como se sente?

Ela tentou falar, mas não conseguiu. Ofegou aborrecida.

— Calma. Respira fundo — pedi fazendo gesto para que respirasse e a vi fechar os olhos e puxar o ar devagar. — Mais uma vez.

Ela obedeceu e quando eu vi seu rosto mais calmo, sorri e beijei sua mão. Ela esboçou um sorriso também.

— B-bem. Com vo-cê... — engoliu saliva e suspirou.

— Quando tentar falar e não conseguir, você só precisa respirar e se acalmar. Logo vai estar me contando histórias.

Ela meneou a cabeça. Dava para notar em seus olhos o quão estava feliz e me senti bem com aquilo.

Hugo entrou correndo.

— Bom dia, mamãe!

Kelly olhou para mim e depois para o filho.

— B-bom dea! — ela respondeu e sorriu quando o garoto me olhou com os olhos arregalados e começou a pular de felicidade.

— Eu sabia! Eu sabia! — ele gritava e pulava, até finalmente parou e me abraçou com força. — Obrigado!

A babá dele apareceu na porta do quarto e pedi que ele fosse com ela. Beijei sua cabeça e ganhei outro abraço de agradecimento que eu não sabia bem pelo quê.

Nicole entrou no quarto meia hora depois que Hugo saiu, acompanhada de um homem, eles conversavam e encerraram o assunto ao chegar.

— Bom dia — ele disse e respondi, quase inaudível.

— Doutor, essa é a Manu, ela cuida da Kelly há muitos anos, a conhece bem. Manu, esse é o fonoaudiólogo.

Kelly ficou em silêncio.

— Oi, Manu. Tudo bem? Doutor Amarildo Lopes.

— Satisfação! — falei com um sorriso fechado e fiquei observando.

O homem colocou sua maleta sobre uma bancada e se sentou numa cadeira indicada por Nicole. Passou a conversar com Kelly e a birrenta não esboçou um único ruído. Eu apenas os observei de olhos semicerrados. Eu precisava conversar sério com Kelly.

A sessão não teve avanço nenhum, pois Kelly repetiu apenas a parte simples dos exercícios. Nicole se manteve longe, observando também.

— Amanhã no mesmo horário estarei aqui de novo, ok? — ele avisou olhando para a paciente enquanto pegava suas coisas.

— Eu o acompanho, doutor — Nicole falou e saiu com o homem.

Eu olhei para Kelly e a vi desviar os olhos de mim.

— O que acontece com você, Kelly? A quem você quer torturar com esse comportamento? — perguntei num tom de decepção, para que ela sentisse. — Você pronunciou o meu nome. Deu bom-dia ao seu filho. E quando a sua esposa chega com ajuda para que você melhore de vez, você se recusa.

Meneei a cabeça e a vi me fitar de lábios cerrados.

— Estou muito triste com você.

Elaa n-não é o que vo-cê pen-sa. — Seus olhos estavam marejados.

— Eu conversei com ela antes de vir aqui. Ela me contou que vocês brigaram e que se arrepende muito de tudo o que houve. E nós, você e eu, sabemos que ela não teve culpa, né Kelly? Você é uma pessoa difícil de lidar. A Nicole tem vivido por você esses últimos cinco anos e tenho certeza de que viveria mais se precisasse, não por culpa, mas porque te ama. E você prova que só quer que ela sofra com esse comportamento mesquinho.

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