Refém

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Eu estava apreensiva no telhado de um prédio com a janela daquele apartamento na minha mira. Era um ataque de feminicida. O cara — Robson de Almeida — não aceitou o fim do relacionamento e se trancou com a ex — Giovana Santos — na casa dela.

Os momentos de terror já duravam muitas horas. Ele já havia colocado a arma na própria cabeça, já havia batido muito nela e nós, atiradores de elite, ainda não havíamos recebido a ordem para atirar.

Geralmente, recebemos a ordem de atirar na primeira oportunidade, mas aquele caso era delicado, pois havia uma criança na casa. Isso deixava tudo mais difícil.

Pela mira da minha arma, um fuzil de precisão, eu vi o rosto de Giovana pela primeira vez, de forma nítida. Tinha alguns hematomas e lágrimas. Senti muita dó dela naquele momento.

O negociador pedia para o criminoso liberar o filho da jovem, pois a criança precisava de cuidados e estavam lá havia muito tempo.

Invadir a casa estava fora de cogitação, pois o homem estava armado e completamente fora de si. Ameaçando matar mãe e filho e se matar em seguida.

A imprensa estava em peso na frente do prédio. A rua estava fechada. Cheia de carros de polícia, ambulância, carros de vários veículos de tevê, sites e até de rádio. A tensão dos curiosos era mínima perto da nossa, a equipe de negociação e da família dos envolvidos.

A mãe do sequestrador tentou convencer o filho a se entregar sem machucar ninguém, mas foi em vão. Ele estava decidido a finalizar aquela história da forma mais trágica possível.

Alina, na primeira oportunidade pode atirar. Não quero virar a noite nessa porra. É melhor uma morte do que três. — Era o comando do meu superior, no rádio, já exausto de estar ali.

A ordem foi direto a mim, pois eu estava no melhor ponto. Mas fiquei muito nervosa, pois naquelas oito horas observando a casa pela janela, me apeguei às pessoas de lá. Menos ao criminoso, lógico. Atirar nele seria até um prazer, meu medo era acertar a criança que eu não conseguia ver pela mira.

Conseguia ouvir meu coração batendo descompassado, sem fechar o olho para não perder nenhum detalhe do que se passava lá dentro.

Segundo informações dos meus colegas, Giovana havia denunciado o ex por agressão, ele passou um tempo sem se aproximar dela, mas voltou a persegui-la. A jovem registrou outra queixa e conseguiu uma ordem de restrição.

Sabemos que isso é apenas protocolo, pois quando a pessoa tem intenções maléficas essas medidas só a enfurecem mais.

Segundo a mãe dele, o que o motivou a chegar a essa atitude tão drástica foi saber que a ex estava se relacionando amorosamente com uma amiga.

— Ele tem certeza de que foi traído por ela, pois essa amiga da Giovana vivia na casa deles quando moraram juntos. — relatou a mulher a um repórter em tom de acusação.

Robson chegou à janela, quando inspirei fundo para atirar, vi que segurava o filho de Giovana no colo e pendurou o menino do lado de fora da janela. Eu gelei com aquela atitude. Achei que fosse jogar o garoto do quarto andar do prédio. Mas logo tirou o menino esgoelando de chorar, enquanto aquele desgraçado ria feito um louco.

Vi Giovana avançar em cima de Robson ao tirar o filho dos braços do criminoso. Aquele maldito deu um soco no rosto dela, fazendo-a cair com o menino. Antes que ele a agredisse de novo, eu atirei.

Fechei os olhos depois, soltando a respiração. Eu ofegava apavorada, quando ouvi a voz do meu superior.

— Ótimo trabalho, Alina!

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