"Manu, preciso falar com você. Será que pode vir aqui em casa?" — dizia a mensagem de Nicole.
"Não posso ir à sua casa, não, Nicole. Acha que sou o quê? Passei anos dedicada exclusivamente à sua família para ser praticamente escorraçada por causa de uma bobagem daquelas. Vamos nos falar apenas para resolver pendências trabalhistas. Me respeita que não sou uma qualquer!" — Era o conteúdo da minha mensagem enviada pela minha amiga enxerida.
— Por que fez isso?
— Porque você nunca faria. Precisa se impor pra essa mulher. Ela faz o que quer com você e ainda te trata que nem um nada. — Ela estava visivelmente aborrecida, desligou a tevê e deixou a sala com a tigela de pipoca vazia.
— Você não tinha o direito de ter se metido assim, Dan — falei alto chegando à cozinha onde ela estava.
— Você é muito boba, por isso as pessoas fazem qualquer coisa com você e você deixa.
— Não quero brigar com você, Dan. — Tentei fugir daquele assunto, saindo da cozinha, mas ela me seguiu.
— Então não briga. Aceita que ou você se impõe pra vida ou ela te engole.
Eu me virei e fitei seus olhos, decepcionada com aquelas palavras.
— Ela precisa te valorizar, Manu. — Seu tom de voz era ameno e ausente da fúria de segundos antes. — Você não era só a enfermeira que cuidava da esposa dela. Vocês eram namoradas, cara. Ela devia no mínimo ter escutado você.
Ela tinha razão. Minhas lágrimas desceram.
— Está vendo? Eu odeio quando você chora. — Seus olhos também estavam marejados. — Você é a melhor pessoa que eu conheço e não merece nada disso. Essa Nicole é uma filha da puta e você não vai voltar pra ela.
Eu apenas a abracei. Ficamos ali abraçadas no meio da sala, chorando igual duas bobas.
— Eu amo você, cara. Odeio quando você sofre por quem quer que seja.
— Por isso eu passo tanto tempo sem ninguém, para te poupar de tanto ódio — brinquei e ela sorriu, secando o próprio rosto.
— Boba!
— Obrigada. Eu vou ficar quieta hoje e amanhã eu vou conversar com a Nicole.
— Tá bom. Mas que ela merecia um esculacho bom, isso merecia.
— Sim, ela merecia — concordei e a conduzi ao sofá.
Não admiti para a minha amiga que fiquei feliz com a mensagem da Nicole. Meu coração deu um salto quando vi a notificação dela. Eu a amava e amava aquela família. Sentia falta principalmente da Kelly.
Ficamos conversando bobagem até ela sentir sono e ir dormir. Eu fui para o quarto apenas para deitar, pois estava tensa demais para dormir. Respondi Nicole quase meia-noite, marcando um horário para ir conversar com ela e recebi a confirmação dela imediatamente como se estivesse esperando pela minha mensagem.
Esperei amanhecer e saí da cama. Tomei banho e preparei um café da manhã para nós. Dan gostava de pão de queijo, então deixei pronto.
— Bom dia! — ela disse entrando na cozinha já arrumada para ir trabalhar.
— Bom dia. — Minha resposta foi enquanto ela me dava um beijo na cabeça.
— Como foi a noite? Pensou no que te falei?
— Sim. Pensei muito. Marquei com ela às oito e meia. Assim, quando sair de lá já vou para casa.
— Sabe que pode ficar aqui, né?
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Soneto
Short StoryColetânea de contos LGBTQ+ Esta obra é o primeiro volume do projeto Soneto misturando música, drama, comédia, Sci-fi em romances clichês. Todas as cores, todas as letras e vários amores.