O Primeiro

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Vinícius acordou atrasado e pulou da cama. Tomou um banho rápido e entrou numa roupa. Passou a mão sobre a mesa empurrando todos os objetos de cima dela dentro de sua bolsa, pegou os projetos e saiu correndo, finalizando o pedido de um carro por um aplicativo de celular.

Entrou no veículo e seguiu para o prédio onde trabalhava. Precisava apresentar aquele projeto ou perderia o emprego.

Ao se sentar no banco traseiro do carro, Vinicius suspirou profundamente, passou as mãos no rosto, sentia os olhos arderem, pois dormira muito pouco. Ainda estava abalado com o fim do conturbado relacionamento de dois anos que tivera. Nas últimas semanas aquela inconsistência em sua vida pessoal estava afetando seu trabalho, pois ele estava atrasando a entrega do maior projeto da empresa por não poder se concentrar para executar seu ofício.

Jogou uma nota de cinquenta para o motorista e saiu correndo do veículo para entrar no grande edifício onde já o esperavam havia mais de dez minutos.

Vinicius apresentou o projeto depois de se desculpar com os chefes. Os homens acreditaram na desculpa de que o funcionário havia passado mal na noite anterior devido ao seu rosto abatido.

Vinicius chorara a noite toda, mas ninguém saberia daquilo, pois decidiu dentre lágrimas, que jamais deixaria nada nem ninguém dominar sua vida daquela forma novamente. A relação abusiva era silenciosa de ambas as partes, pois quem visse de fora os achava o casal perfeito. Quando não se sentiam enclausurados dentro daquele mundo criado pelos dois.

O suspiro de alívio que Vinicius deu o fez encher os olhos ao receber os aplausos daqueles homens depois de sua belíssima apresentação. Apertou todas as mãos que o parabenizaram e ouviu elogios seguidos de promessas de uma promoção.

Os chefes deixaram a sala e ele arrumou tudo para sair para almoçar. Elise, a secretária, entrou sorrindo e o cumprimentou:

— Vi, lembra de mim? — indagou a morena, sorrindo, referindo-se ao amigo passar correndo e não falar com ela ao chegar na empresa.

— Desculpa, Elise. Eu estava muito atrasado mesmo. Como está? — Deu um beijo na cabeça da colega.

— Ótima. E você vai sair pra almoçar ou vai comer uma bobagem qualquer por aqui?

— Eu vou sair. Não como nada desde ontem, nem bobagem. — Fechou a bolsa e saiu da sala junto com a colega, que o conduziu involuntariamente ao restaurante mais próximo.

Elise era amiga de Vinicius desde a adolescência, indicou os serviços dele naquela empresa há cinco anos e ambos trabalhavam juntos desde então.

Foram conduzidos a uma mesa e enquanto esperavam seus pedidos, Elise quis saber:

— Como está? Digo, por dentro, porque por fora está visível até para os habitantes do Camboja que você está péssimo.

— Estou com um misto de sensações. Chorei muito noite passada, mas eu queria lavar tudo, sabe? Eu terminei o projeto quase quatro da manhã, depois de gritar e botar pra fora o que estava engasgado. Levei uma multa também... acabei de receber o e-mail do síndico.

Ela riu e meneou a cabeça:

— Você foi multado por sofrer? Você já perdeu a sua carteira de motorista, Vinicius, não seja expulso do prédio — disse, rindo.

— Fui multado por sofrer, mas ao abrir os olhos hoje eu era outra pessoa. Eu sou um novo homem.

— Eu fico feliz em ouvir isso, Vi! Muito. Quando quiser conversar me chama para tomarmos um vinho na varanda do seu apartamento. — sugeriu analisando o amigo ao notar que ele estava tentando parecer forte e evitando falar do ocorrido.

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