Luke

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Após terminar de colocar as coisas no lugar, não pude deixar de reparar nos detalhes da mesa de Luke. Havia um caneca do Star Wars, uma caixinha cheia de palhetas de violão, que ele provavelmente também tocava, alguns livros e cadernos empilhados e um porta retrato dele com um Golden Retriever incrivelmente lindo. Peguei a foto e fiquei olhando de perto; o cachorro estava com uma bolinha na boca e o menino o abraçava.

Luke era um pouco mais alto que eu. Seus cabelos eram de um loiro mais escuro e seus olhos eram uma mistura de verde com cor de mel. Ele tinha um sorriso meigo e cativante, e parecia estar feliz na foto com o animal.

- Pelo visto achou meu cantinho... - o menino riu meio tímido enquanto coçava a parte de trás da cabeça.

- Ah... não vi que você já tinha voltado - coloquei o retrato no lugar. - Desculpa ter bancado a fuxiqueira, Luke. Sou fascinada por cachorros e o seu é muito bonito.

- Fica tranquila, Angel - ele sorriu. - O nome dele é Thor.

- Thor. Como o do deus de Asgard? - brinquei.

- Hmm, então temos uma conhecedora de super-heróis aqui... - o menino disse com um tom surpreso e curioso.

- Pois é, culpo meu pai nerd por isso.

Rimos juntos.

- Sábio pai que você tem! No meu caso, minha mãe é quem gosta desse universo, e inclusive, ela que escolheu o nome do Thor. Ela diz que é por conta dos cabelos dourados e por ele ser o deus da casa - Luke fez uma voz plena tentando imitar a mãe. Fofo.

- E a sua? Digo, sua mãe também gosta dessas coisas? - ele perguntou.

Mãe. Assunto delicado.

- Minha mãe foi embora e me deixou quando eu tinha 3 anos. Nunca mais tive notícia e também não me lembro de quase nada dela...

E era verdade. A única lembrança que tenho de minha mãe é uma foto em frente a nossa casa atual, que foi tirada assim que nos mudamos pra lá, mas o retrato fica jogado no fundo de uma gaveta em meu quarto. Eu devia ter uns 2 anos quando a foto foi tirada. Na imagem, estou abraçando o pescoço de minha mãe com meus braços pequeninos. Ela tinha cabelos acobreados escuros e compridos e seus olhos eram âmbar, assim como os meus. No quesito aparência, herdei muitas coisas dela, mas acredito que devemos ser completamente diferentes em relação a personalidade, até porque eu jamais deixaria minha família pra trás...

- Sinto muito, Angel. Foi mal por ter tocado nesse assunto... - Luke disse sem jeito.

- Tudo bem, você não sabia - dei um sorriso tímido em resposta.

- Vamos voltar lá pra dentro? Já peguei a apostila da sua amiga.

Concordei com a cabeça e acompanhei o garoto até a recepção.

Depois que Sophie resolveu os últimos detalhes da mudança, decidimos almoçar em um restaurante perto da escola, então fomos caminhando pelas ruas de Soul City até lá. O local era parecido com uma lanchonete, bem aconchegante e tranquilo. Como o dia estava fresco e o movimento era calmo, sentamos em uma mesa do lado de fora e fizemos o pedido para a garçonete. Sophie escolheu um fettuccine Alfredo com frango, enquanto eu me deliciei com um clássico bife com fritas e molho de queijo.

- E aí, Angel, qual é a do gatinho da gráfica? - ela falou enquanto fazia um charme com a cabeça e arqueava as sobrancelhas.

- Oi? - eu ri desviando o olhar para a comida.

- Ah qual é, vai me falar que não achou uma gracinha também?

- Bem, Luke é realmente bonito e parece ser um menino legal, mas só isso.

- Só isso nada, boba! Vai falar que não tem vontade de se aventurar naqueles olhos verdes... - a italiana disse enquanto suspirava e apoiava a mão no queixo.

Rimos juntas por um bom tempo. A conversa com Sophie fluía levemente e era agradável passar o tempo com ela. Quando terminamos de comer, ficamos caminhando tranquilamente pela cidade para passar o tempo e conhecer um pouco mais dela.

No meio do caminho, um grupo de jovens passou por nós duas. Eles vestiam roupas com cores fortes, entre tons de vermelho e contrastes com preto, e desfilavam com as cabeças erguidas emanando confiança (e eu diria até que um pouco de arrogância também). Um deles olhou torto para Sophie, que deu de ombros e continuou andando. A provável líder do grupinho, que andava na frente abrindo caminho, me olhou de lado quando nos cruzamos pela calçada e fez um comprimento com a cabeça. Ela e o resto pareciam ter idades próximas a minha, e provavelmente também estudavam na Statera. Uma hora ou outra eu iria acabar descobrindo quem eram.

Assim que voltamos para o dormitório, começamos a nos preparar para o Festival de Boas Vindas, que começava às seis em ponto. Como era uma espécie de "festa de recepção", decidi vestir uma roupa mais arrumadinha. Dei uma leve definida nos cachos que haviam desmanchado e retoquei a maquiagem, porém ainda mantendo-a suave. Coloquei um vestidinho de alça vermelho com estampa de flores pequenas e finalizei o visual com meu colar de asas, pequenas argolas douradas e o uso de meu perfume noturno, mais forte que o diurno.

Fiquei pronta um pouco antes de Sophie, que logo em seguida apareceu pronta com um vestido curto preto, jaqueta azul, seus tênis também azuis e milhares de acessórios prateados pelas mãos, pulsos e pescoço. A menina realmente sabia como se arrumar com estilo!

- Vamos? - falei enquanto me dirigia à porta.

Sophie assentiu com a cabeça e nós deixamos o quarto.

Os Elementais: A Ascensão da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora