A lenda da fênix

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      Fomos até a biblioteca e repetimos o processo da última vez: entramos casualmente como se fossemos apenas desfrutar dos belos escritos presentes naquelas estantes, quando na verdade estávamos invadindo uma sala secreta dos líderes da instituição. Deus, quem eu estou me tornando? Me sinto uma delinquente.

- Eu preciso de um banho e de boas horas de sono - falei enquanto ofegava ao terminar de subir as escadas para o segundo andar da sala de livros.

Aron destrancava a porta do depósito, e, ao escutar minha fala, ele me olhou por cima do ombro e imediatamente percebi o que ele tinha em mente.

- Nem pense em dizer o que está pens...

- Bom saber que eu te deixo sem ar... - aquele tom malicioso ecoou em meus ouvidos.

Chutei sua canela.

Ele mancou e movimentou os lábios sem emitir sons, contorcendo o rosto diante da dor da pancada. O menino me encarou furioso e abriu a porta logo em seguida, balançando a cabeça.

Assim que entramos no local secreto, Aron pegou o diário de Ignis e se sentou, apoiando-o sobre a mesa, e o deixou aberto em uma página específica. Ele me encarou e indicou o manuscrito com o queixo, fazendo um sinal para que eu me sentasse e lesse.

- Você está sendo bem misterioso em relação a essa teoria.

- Tenho minhas suposições - ele deu de ombros. - Apenas leia. Você vai entender do que estou falando...

Puxei uma das cadeiras e me afundei no encosto, segurando o livro nas mãos.

" [...] Desde aquele pôr do Sol, as coisas não têm sido as mesmas. Aqua tem se mantido próxima, quase não fica longe de mim, e eu sei por quê. Apenas ela e Terem notaram a mudança, tanto emocional quanto corporal, e mesmo que disfarcem, eu sei que eles sabem o que está acontecendo. Caeli e Falcon se mantiveram tão ocupados levando alimentos e ervas pala vilarejos próximos que sequer repararam... mal imaginam o que se passa... Mas eu reparei. Não só reparei, como senti. E não tem sido nada fácil.

Depois de anos aprendendo a controlar meus dons, tudo parece ter ido por água abaixo. O primeiro sinal apareceu quando queimei involuntariamente o buquê de flores que Caeli deixou em minha cama ao amanhecer. Nós dormimos juntos e eu senti algo que nunca senti antes. Um amor, carinho e paixão tão intensos como uma chama crescente dentro de mim. E nossa noite mexeu comigo... despertou algo em mim.

O segundo sinal foi quando eu estava selecionando vestidos para o amanhecer do Dia do Equilíbrio, o período do ano em que os solos se tornam ainda mais férteis, as águas ainda mais cristalinas, e a Floresta ainda mais viva. Nossos amigos de aldeias vizinhas são convidados e se unem a nós para desfrutar de um banquete espetacular e apreciar o alvorecer mais lindo do ano. Entretanto, se tudo continuar do jeito que está, teremos que cancelar tudo.

Como eu ia dizendo, enquanto Aqua e eu estávamos juntas na beira do lago, me frustrei por não encontrar alguma vestimenta que considerasse perfeita para a cerimônia e comecei a chorar compulsivamente. Não me lembrava de ter chorado assim desde o dia do ataque... E o problema foi que essas lágrimas se transformaram em fogo. Aqua disse que eu tinha chamas nos olhos e que eu emanava calor intensamente, tanto que fiz minha amiga suar só por estar perto de mim. Eu lembro que ela tentou me acalmar, mas aquela sensação não parava de crescer e, quando menos percebi, as gotas que caíam em meu vestido se transformaram em chamas e incendiaram o tecido por completo.

Corri em direção ao rio e entrei aos poucos, implorando para que a água apagasse o fogo e acalmasse aquele caos. Aqua se juntou a mim e começou a lavar minhas costas, que estavam expostas por conta do vestido em farrapos. Enquanto minha amiga cuidava de mim e ajudava a limpar a fuligem de minha pele, que flamejava poucos segundos antes, Terem ouviu o barulho do choro e nos encontrou ali. Ele ajudou Aqua a me carregar até minha tenda e os dois me deitaram na cama.

Os Elementais: A Ascensão da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora