"Desaparecido"

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A biblioteca estava vazia e restava apenas uma hora para o horário de fechar. A secretária na mesa de recepção carimbava alguns livros distraída quando atravessei a porta e adentrei o local. Cumprimentei-a naturalmente enquanto analisava o ambiente à procura de Aron.

Nada.

Caminhei até o andar de cima, me aproximando do depósito que escondia a sala secreta. As prateleiras tapavam o local em que a porta se encontrava, então girei a maçaneta com cuidado para evitar ruídos. Digitei o código na fechadura digital da segunda porta, a que dava para o espaço escondido, e enfim, entrei.

Aron também não estava lá. Onde esse garoto se enfiou? Se eu pelo menos soubesse quem era seu colega de quarto, poderia perguntar se ele estava lá... Esse idiota só me arruma problema.

Parei por um tempo e alisei o queixo, analisando o ambiente ao redor, e tentei chegar a alguma conclusão. Alguns papéis espalhados na mesa redonda me chamaram à atenção... Eram desenhos. Rascunhos em sua maioria. Havia um desenho de uma mulher de costas; alguns traços e rabiscos sem sentido; olhos lindamente penetrantes em uma outra folha de papel; um desenho de um pássaro esbelto que parecia ser feito de fogo; outro de dois corvos cruzados. Eram todos feitos de carvão, tão enigmáticos...

Entretanto, foi um deles que fez meu corpo congelar por alguns segundos antes de segurá-lo: uma árvore. Mas não uma árvore qualquer... a árvore da Floresta da Vida.

Aron desaparecido. Um desenho de uma enorme e bela Aroeira.

Tudo parecia se conectar demais para ser só uma coincidência...

Ele estava lá. Só podia estar.

Juntei os desenhos e tranquei a sala novamente, indo em direção à Floresta sem hesitar. Peguei um livro aleatório das estantes e escondi os papéis de baixo da capa, de modo que a velha bibliotecária não fosse reparar no que eu carregava.

Só me toquei que estava quase correndo quando comecei a ofegar conforme me aproximava do Jardim que escondia a mata mágica por trás de um portão coberto de folhas, que para minha sorte, estava destrancado. "Sorte".

"O que eu tô fazendo aqui?" Questionei enquanto seguia pela caverna que se conectava com a Floresta.

A escuridão da noite circundava o túnel extenso e atrapalhava minha visão, mas respirei fundo e segui em frente, alerta a qualquer barulho e movimentação ao meu redor. A mata estava... silenciosa. Não do jeito pacífico e acolhedor que esteve quando vim com Luke das últimas vezes. O silêncio era avassalador e duvidoso, assim como o do auditório quando Aron não respondeu ao seu chamado.

Segui pela trilha que levava até o coração da Floresta: a Árvore do Equilíbrio. Porém, antes mesmo de chegar ao local onde ela estava, comecei a ouvir algo. Me agachei perto de um arbusto para escutá-las melhor. Eram vozes, no plural. Uma delas era fina e suave como uma brisa... uma voz de mulher. A outra, mais grave, serena e forte, como um sopro da escuridão. Reconheci na hora quem falava. Aron.

Achei você, idiota.

Para minha sorte, fiz barulho quando tropecei ao me levantar e acabei remexendo os arbustos em que eu me apoiava. As vozes pararam. Merda.

Olhei para os lados, aflita, e comecei a recuar o caminho enquanto andava de costas, me atentando ao que poderia aparecer diante de mim.

Tentativa falha de escapar, pois, quando eu menos esperava, fui agarrada pelas costas e mãos com luvas pretas taparam minha boca, abafando qualquer grito que eu pudesse soltar. Comecei a me debater com força, mas os braços que seguravam os meus eram mais fortes, e eu fui perdendo a energia quando uma fumaça roxa e pontinhos lilases incandescentes começaram a brilhar ao meu redor. A névoa densa tomou conta de minhas narinas e, aos poucos, minha visão foi ficando embaçada e pesada, até que perdi totalmente minha consciência e adormeci.

Os Elementais: A Ascensão da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora