Luta às cegas

253 31 0
                                    

Depois que nosso colega, visivelmente cansado e arrependido por ter dito que seria fácil, concluiu o circuito, o resto da classe realizou a atividade também. Wendy foi a que se saiu melhor; conseguiu desviar de praticamente todas as bolas que arremessaram e foi a mais rápida a realizar a travessia. Eu até que me saí bem, consegui usar os poderes com facilidade, porém tive um pouco de dificuldade na hora de saltar sobre as caixas, acredito que por não ter costume em pegar impulso e pular de lugares altos como o pessoal que voa faz.

Para a tarefa seguinte, fomos para o lado de fora da sala de treinamento, pois o mestre disse que teríamos que usar nossos poderes com uma maior sensibilidade dessa vez. Havia uma corrente de ar leve circulando, portanto presumi que a tarefa tinha algo a ver com ela.

- Antes de começarmos a entender como as outras bases utilizam suas habilidades, precisamos reconhecer e dominar cada detalhe do nosso próprio poder. E qual a melhor maneira de fazer isso? - perguntou Dominic.

- Lutando com alguém que tenha os mesmos poderes? - respondi.

- Muito bem! Apenas assim vocês serão capazes de entender como usá-los da melhor maneira para se sobressair nas batalhas e vencer. Portanto, para nossa próxima atividade, vocês irão lutar em dupla com seus semelhantes e estarão completamente vendados.

- Vendados? - perguntou Oscar.

- Sim, assim terão que usar todos os seus outros sentidos. E mais um detalhe: o combate será anônimo, para que não haja interferências em relação às emoções. Fechem os olhos por favor.

O mestre veio até mim e me levou até o centro da roda, onde cobriu os meus olhos com uma venda preta que tapava toda a minha visão. Em seguida, ele selecionou uma pessoa para ser minha adversária e a vendou, posicionando-a em minha frente.

- Todos podem abrir os olhos agora. Que a luta comece! - exclamou Dominic.

*Animals - Maroon 5*

Se existia algo que me deixava um tanto quanto ansiosa, era não enxergar o que estava diante de mim. Isso fazia com que eu me sentisse com menos controle da situação e meio perdida, mas eu sabia que não podia desistir. Eu tinha que aprender a domar meus pensamentos ansiosos e a usar meus instintos a meu favor, como o treinador disse.

Meu adversário realizou o primeiro movimento, lançando uma onda de ar forte em minha direção. Eu podia sentir e quase que visualizar o seu formato pela maneira que o vento tocou em minha pele, contínuo e horizontal. Acredito que meu oponente não fez muitos movimentos bruscos, apenas utilizou o ar corrente e o arremessou contra mim com um pouco mais de potência, o que já foi suficiente pra me fazer perder um pouco do meu equilíbrio.

Dobrei os joelhos para ganhar estabilidade e segurei a barreira de ar que vinha em minha direção, como se estivesse empurrando um muro, mantendo as mãos firmes e rígidas. Pensei em apenas lançá-la de volta para o rival, mas ao invés disso, comecei a fazer movimentos circulares com as mãos para deixar o vento mais forte e lançá-lo.

À medida que meu adversário retrucava com rajadas de ar cada vez mais intensas, comecei a notar que a direção do vento havia mudado e agora estava vindo de cima. Ele estava voando e eu estava em desvantagem.

Tentei atingi-lo com bolas de ar quente para revidar, mas o som que elas emitiam facilitava o desvio do meu oponente.

Até que pensei em algo que poderia me ajudar a sair dessa situação.

Abaixei e comecei a gerar um pequeno redemoinho perto do chão, que aos poucos foi crescendo conforme eu atraía a corrente natural de ar para ele. Localizei o ponto exato em que meu rival estava de acordo com a direção e o sentido do vento, então enfim, movi o redemoinho para debaixo dele, imobilizando-o e atrapalhando o fluxo do vento que ele estava utilizando para me atingir. Assim como eu planejava, ele não estava mais conseguindo usar a vantagem a seu favor, então ganhei o controle da situação e o puxei para baixo à medida que o redemoinho perdia força. Eu estava no comando.

Dominic apitou, decretando o fim da batalha, e autorizou a retirada das vendas. Destampei os olhos e fiquei surpresa ao ver quem estava diante de mim:

- Eu sabia! - Luke disse ao tirar sua venda e me olhar.

Dei um sorriso confiante enquanto apertamos as mãos.

- Bela vitória - ele cochichou.

- Foi bom ganhar de você - eu ri e pisquei.

Passamos o resto da manhã treinando e quando finalmente as atividades terminaram, fui para o meu quarto tomar um banho e desci para almoçar com Sophie. Estava animada para contar sobre hoje e ouvir como foi o treinamento da Base de Água.

No caminho do refeitório, encontramos Brooklyn e Carol, uma elemental da Terra, que vieram nos cumprimentar.

- Quanto tempo, Angel! - Brooklyn veio até mim e me abraçou.

- É verdade... Como você tá, Brook? - respondi.

- Ah, sabe como é... Na correria dos treinamentos. Natan tá pegando pesado.

- Posso dizer o mesmo de Dominic...

- E eu da Nala... - Sophie completou.

- Não sei se fico aliviada ou tensa por Greta estar sendo mais tranquila - Carol disse rindo de nervoso.

- Ei, por que vocês não almoçam com a gente? Aí podemos aproveitar para botar a conversa em dia! - Brooklyn sugeriu.

- Por mim tudo bem - olhei pra Sophie e a mesma concordou com a cabeça.

A refeição foi tranquila e amigável. Ficamos conversando boa parte do tempo e as meninas contaram sobre os treinos de cada Base Elemental, que foram semelhantes aos meus. Elas realizaram lutas com vendas e também tiveram que usar os sentidos para manipular os poderes. Pelo visto as competições seriam acirradas, pois todos os outros elementais estavam treinando com praticamente a mesma intensidade.

As meninas sugeriram de nos encontrarmos mais vezes e passar o tempo juntas, assim poderíamos nos aproximar mais e falar sobre os treinos, o que era uma ótima ideia, até porque a maior parte das minhas interações foi apenas com o pessoal da minha Base, então seria interessante fazer amigas de outros elementos.

Depois que terminamos de comer, a tarde passou devagar e, no fim do dia, fui até a biblioteca distrair a cabeça e fazer algumas lições escritas pendentes. Fiquei lá por boas horas e perdi a noção completa do tempo, tanto que quando me dei conta, ela já estava quase fechando e eu era a última pessoa ali. Era impressionante como os livros me faziam fugir da realidade...

Quando cruzei a porta de saída, senti uma mão agarrar um de meus braços com força e me puxar para a lateral da construção, me empurrando contra a parede.

Assustada e com uma reação rápida, tentei retirar meu braço, mas a pessoa que me segurou foi mais forte. Ela estava toda de preto e o capuz do casaco escondia seu rosto com uma sombra. Eu não estava entendendo nada e a adrenalina começou a me atingir e me deixar ofegante, até que dois olhos azuis intensos como um oceano se fixaram em mim e reconheci quem estava por trás do casaco escuro.

Os Elementais: A Ascensão da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora