Não me deixe sozinha

204 25 10
                                    

- Não... - perdi o fôlego e meus joelhos falharam, caindo e batendo no chão. Tudo ao redor ficou estranho e as vozes de Luke e Aron, que se aproximavam de mim e gesticulavam assustados, soaram distantes. Eu não escutava nada, não prestava atenção em coisa alguma. Somente naquela fala.

"Desaparecido"

Meu pai estava desaparecido. Meu paizinho, meu coroa.

- Ele não atendeu minhas ligações hoje cedo... - sussurrei. - Achei que estivesse ocupado... - levei as mãos ao rosto e respirei irregularmente.

- Não é sua culpa, Angel - Luke se abaixou ao meu lado e acariciou meu ombro. Não reagi ao toque. Não conseguia reagir a nada.

- Como você soube? - perguntei olhando para o chão.

- Ouvi meu pai conversando com Dominic... ele iria te dar a notícia, mas achei que seria melhor que eu mesmo contar quando a encontrasse.

- E como você soube que nós estávamos aqui? - Aron questionou com a voz fria e seca.

- Não sabia. Foi coincidência - Luke respondeu friamente também.

Aron semicerrou os olhos e fuzilou Luke com o olhar.

- E o que veio fazer, então? - Ele levantou uma sobrancelha em questionamento.

- Vim pegar alguns documentos para Cesar, nada da sua conta.

Os dois se encaravam e trocavam olhares ameaçadores, mas os interrompi:

- Me leve até seu pai - levantei inexpressiva. - Quero falar com ele. - disse para Luke.

O menino concordou e me guiou até a porta com a mão apoiada em minha lombar. Não olhei para Aron quando cruzamos a saída e não ousei falar nada durante o caminho até a sala do diretor.

Cesar ainda não estava lá quando chegamos e entramos em seu local de trabalho. O ambiente era sofisticado e decorado com certificados colados na parede, vasos de planta e algumas estantes. Diante da mesa do diretor, se encontravam duas poltronas acolchoadas, nas quais eu e Luke sentamos à espera do pai do menino.

- Você quer que eu pegue um pouco de água? - ele perguntou.

Afirmei com a cabeça enquanto olhava para minhas próprias mãos e as apertava ansiosamente.

- Obrigada - disse bem baixo.

Ficamos em silêncio e, enquanto aguardávamos o diretor aparecer, observei um porta retrato em sua bancada. Era uma foto de Luke, sua mãe e Cesar; ambos pareciam alegres e unidos. Uma família feliz...

Luke pareceu notar o que eu analisava e segurou minha mão, fazendo um carinho suave com a ponta dos dedos por um longo período de tempo. Um gesto de extremo cuidado.

- Sei que não é o momento para falar sobre isso... - ele olhou em meus olhos. - Mas só queria dizer que estou muito orgulhoso. Você lutou bravamente na batalha e estou feliz por isso.

Eu sorri sem mostrar os dentes e apertei sua mão em agradecimento.

[...]

Depois de um bom tempo esperando, o diretor enfim entrou na sala e me cumprimentou:

- Desculpe pela demora, minha jovem - ele veio até mim e apertou minha mão. - Estava finalizando algumas coisas do trabalho.

Cesar se sentou em sua cadeira do outro lado da mesa e me observou.

- Meu filho me avisou que a senhorita desejava falar comigo. - ele cruzou as mãos e apoiou o queixo sobre elas. - Sou todo ouvidos.

- Eu gostaria de entender melhor o que aconteceu com meu pai... o caso do desaparecimento.

- Claro... Pois bem, infelizmente não tenho muitas informações a mais. As autoridades entraram em contato com a Instituição para noticiar o ocorrido e disseram que as investigações já estão em aberto.

- E como eles souberam? - perguntei quase sem forças ao ouvir as palavras de Cesar.

- Sua vizinha, senhora Evans, disse ter achado a casa mais silenciosa desde sexta de manhã. Hoje cedo ela começou a ouvir seu gato miar incansavelmente, como se buscasse ajuda, então decidiu ir até lá checar o que estava havendo. A mesma disse que possuía uma chave reserva da residência, que vocês mesmos entregaram. Procede?

- Sim... ela é nossa vizinha desde que eu era pequena, confiamos muito nela, então para casos de emergência, lhe demos uma cópia da chave.

- Entendo. Bem, essa senhora entrou em sua casa, conferiu os cômodos e afirmou que não havia ninguém lá, apenas o gato.

Respirei fundo, tentando controlar a frustração.

- Se a acalma saber disso, sua vizinha está cuidando de seu felino temporariamente e ele já está sendo alimentado.

Forcei um sorriso leve. Pelo menos Bruce estava protegido...

- Isso é tudo que sei, minha jovem. Tente se acalmar um pouco, as equipes de busca já estão fazendo seu trabalho e tenho certeza que em breve nos darão novas notícias.

- Obrigada, diretor Cesar. - disse e olhei na direção de Luke para me despedir.

- Encontro com você depois, tudo bem? - ele falou e soltou minha mão.

Assenti com a cabeça e me dirigi até a saída, deixando a sala.

Quando enfim retornei para meu quarto, afundei o rosto no travesseiro e desabei em lágrimas.

Esse havia sido, de longe, o dia mais cansativo possível para mim. Meus olhos ardiam com o líquido aquoso que os invadia e minha testa latejava de dor, mas eu não conseguia parar de chorar, não conseguia controlar o aperto e a frustração que tomavam conta de mim.

Meu paizinho.

Por favor, não me deixe sozinha, pai.

Os Elementais: A Ascensão da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora