Luke abaixou conforme eles passavam e eu tentava respirar bem calmamente para não ficar ofegante.
- É meu pai e Dominic. Não sabia que eles vinham aqui hoje.
- Seu pai?! Você é filho do diretor Cesar? - falei um pouco mais alto do que deveria.
- Shhhh! Angel! - ele exclamou cochichando.
Coloquei a mão na boca no momento em que percebi a besteria que tinha feito e disse "desculpas" apenas movendo os lábios e sem emitir som.
- Tudo bem, vem comigo. Quero saber o que eles fazem aqui. Cuidado por onde pisa - Luke disse bem baixinho e apontou com a cabeça para os galhos secos no chão.
Fomos andando agachados seguindo os mestres, nos escondendo por trás das árvores e plantas. Ambos pararam perto do círculo da Árvore do Equilíbrio e começaram a conversar. Estávamos um pouco distantes, para que não nos vissem, então apenas consegui ouvir algumas coisas.
- Eu não entendo... de fato isso nunca havia acontecido. Há alguma explicação lógica pra isso? - disse Cesar, com os braços cruzados e acariciando o queixo com a mão direita, pensativo.
- Não, Cesar. Por isso vim falar com você. Não há nenhuma chance de o teste estar errado? Talvez não seja o elemento dela, ou talvez ela não seja nem mesmo uma elemental. - disse Dominic.
Contrai os músculos da face diante do comentário, ficando levemente ofendida. Até porque, depois de hoje na Floresta, eu claramente era uma descendente dos Elementais.
- O sangue não mente, Dom. O ar foi escolhido por uma razão. Ela tem o DNA, caso contrário, nada teria acontecido na cerimônia.
- Então o que explica ela não conseguir voar? Tenho receio de colocá-la à prova novamente e gerar um trauma maior...
- Às vezes ela pode possuir alguma ferida interna que a esteja limitando... É difícil dizer, meu amigo.
- Demais! Não sei que decisão devo tomar.
- Apenas continue sendo o tutor impecável que você é, Dominic. Ensine o que ela precisa saber para dominar a manipulação do ar e as outras habilidades.
- Eu irei. O que me preocupa é o rendimento da Angel nas batalhas anuais da arena. Ela estará em desvantagem sem a capacidade de voar.
- Por isso mesmo você deve ajudá-la a fortalecer todos os outros poderes. Saberá o que fazer.
- Certo. Agora continuando a conversa da reunião, me explique sobre a questão dos Hostibus. Mais um ataque?
- Sim, e dessa vez foi brutal - Cesar parecia aflito.
Os dois continuaram conversando e foram caminhando floresta adentro, até que não conseguimos escutar mais o que falavam. Luke e eu aproveitamos a deixa e fomos até o túnel que levava ao portão de madeira, retornando ao jardim da escola.
- Agora pode me explicar o que foi isso? - falei cruzando os braços.
- Cesar é meu pai, mas poucos sabem disso, não gosto que os outros saibam... as pessoas são muito interesseiras.
- Entendi... E foi ele que te mostrou a Floresta e contou sobre isso tudo?
- Sim. Ele vivia me contando histórias quando era pequeno, e quando comecei a praticar meus poderes, ele achou que ela poderia me ajudar. Eu era muito tímido e não tinha confiança, tive dificuldades de adaptação no início. Digamos que a Floresta me deu força.
- Então você pode frequentá-la quando quiser? Digo, por ser filho do diretor.
- Mais ou menos. Meu pai prefere que eu vá apenas em situações de real necessidade. Os líderes têm um acordo de mantê-la escondida dos alunos.
- É uma pena... é um lugar incrível. De qualquer forma, obrigada por ter compartilhado esse segredo comigo, Luke.
- Não tem de quê - ele sorriu gentilmente. - Preciso ir pra gráfica continuar os trabalhos...
- Sem problemas. A gente se fala depois - sorri em retorno.
Ele acenou com dois dedos, se virou e saiu andando.
Havia tanta coisa nova acontecendo na minha vida que era difícil processar todas as informações. Ao mesmo tempo que muitas coisas começaram a fazer sentido, eu ainda possuía várias dúvidas sobre esse novo universo... Na verdade, existia um lugar onde talvez eu conseguisse encontrar respostas: a biblioteca.
Dei uma passada rápida na lanchonete, comprei um café e em seguida fui até lá. O espaço era bem grande e elegante, com um toque antigo, como o do salão principal e o do resto da instituição. O ambiente estava calmo e silencioso, havia apenas algumas pessoas sentadas lendo enquanto outras circulavam. A biblioteca tinha dois andares, sendo o segundo todo aberto, como um mezanino extenso. Logo na entrada, havia um catálogo e um mini-mapa indicando onde estava cada sessão. Eu procurava livros sobre dominação do Ar, sobre a Floresta e sobre os Hostibus, já que Cesar e Dominic estavam falando sobre eles mais cedo e queria entender melhor quem eram. Anotei na mão o número de cada corredor e subi as escadas.
Fiquei a tarde toda folheando os livros. Comecei lendo sobre a Floresta da Vida, mas eu já tinha conhecimento da maior parte das coisas escritas naquelas páginas, inclusive os detalhes sobre a canalização dos poderes que Luke tinha me explicado. Os livros sobre ela também mantinham em sigilo sua localização e relatavam apenas como era visualmente e o seu papel na natureza.
Em seguida, peguei alguns livros sobre meu elemento e sobre a Base de Ar, mas nenhum explicava porque eu não conseguia voar. Os textos eram bem objetivos, falavam sobre a história dos elementais do ar, propriedades e coisas semelhantes as que Dominic tinha ensinado em sala, a única diferença é que estavam mais aprofundadas.
Por fim, fui procurar o livro sobre os Hostibus. Rodeei a sessão de história, mas não estava ali. Decidi checar no andar de baixo, e também nada. Eu não conseguia achar de jeito nenhum e comecei a me questionar se de fato existia um livro sobre eles. Olhei então na sessão das Regras, que era basicamente preenchida por enciclopédias enormes sobre regras da utilização de poderes. Além de mim no corredor, só havia um garoto alto vestido de preto, então fui até ele.
- Licença, você sabe onde eu encontro o livro sobre os Hostibus?
- Querendo saber sobre a leitura das trevas? - ele disse ainda olhando pro livro em suas mãos, sua voz era forte e misteriosa.
- Ãn... na verdade não, só queria saber mais sobre eles.
- Pois bem, os Hostibus são uma das milhares de leituras proibidas aqui. Se eu fosse você não sairia dizendo esse nome pra qualquer um por aí, como fez agora - ele deu um sorrisinho debochado.
Arrogante. Pensei e revirei os olhos por dentro. Comecei a caminhar pra sair dali, mas na hora em que passei pelo garoto, ele entrou na minha frente e olhou nos meus olhos, fechando minha passagem. Ele estava perto até demais e ficou me encarando por um tempo.
- Calma, linda. Por que a pressa? Eu posso te ajudar a encontrar o livro - ele disse com os olhos azuis escuros mirados nos meus e erguendo as sobrancelhas.
Engoli em seco.
- Não acho que precise mais de sua ajuda. Posso me virar sozinha - falei séria, sem piscar, e dando um passo pra trás pra me afastar dele.
O menino riu para si mesmo e mordeu os lábios, como se estivesse achando graça de mim. Garoto presunçoso!
Virei as costas e saí andando sem olhar pra trás.
Fiquei pensando no que ele havia falado sobre a leitura proibida. Será que era verdade ou ele apenas estava zombando de mim? De qualquer forma, estava curiosa pra saber mais sobre os Hostibus e precisava encontrar alguma maneira de descobrir o motivo de Dominic e Cesar estarem preocupados com eles.
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Os Elementais: A Ascensão da Fênix
FantasyPrimeiro livro da saga Os Elementais. *EM PROCESSO DE PUBLICAÇÃO* [...] Imagine um primeiro dia de aula comum. Escola nova, cidade nova, pessoas novas; você está pronta(o) pra fazer amigos e criar memórias... Até que uma descoberta mudará tudo. Te c...