Capítulo XXIV - casa

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  Fechei os meus olhos com força, e abri... havia um rastro Rosa, como se fosse uma fumacinha que me seguia pra todo lado que eu ia. Estendi a minha mão e fui apagando tanto o que eu já tinha deixado quanto que eu ainda iria fazer, me deixando indetectável por algumas horas para qualquer outro ser promíscuo.
  O interessante é que eu acho que o pai dele me curou... ele me curou? Não tinha mais nenhuma marca no corpo, minha cura era uma merda então alguém externo que fez isso.
  Caminhei por algum tempo até chegar em frente ao castelo, estava sujo tanto de terra, quanto de sangue e... sêmen, meus cabelos estavam um nojo e não eram em um sentido legal, além de estar seminu, com apenas um moletom cobrindo as minhas partes íntimas que haviam sido profanado por culpa de uma escrota que mora no andar de baixo... ah pronto, agora vou ficar lembrando disso toda hora, a culpa tá voltando. Por que agora? Poderia ter me torturado no caminho de volta e me deixado em paz quando chegasse aqui.
  Quando me aproximei do portão, foi uma algazarra enorme. Os guardas vieram na minha direção e quando iam começar a me puxar pelos braços se encaram e pensaram duas vezes antes de me tocar.
- o mestre estava louco atrás de você – falou um deles.
   Deixei os dois falando sozinhos e entrei no castelo o mais rápido que eu pude, os outros que estavam treinando estavam no modo hard...
- ei – chamou Sophia, ignorei ela também e subi para o quarto do Frey
   Só vim reparar agora que aquele lugar era cheio de emoções, e essas estavam simplificando as minhas de algum modo, a dor, o medo, o nojo, a raiva e a culpa estavam aumentando exponencialmente.
- Marcos – chamou Lincoln com um sorriso, também ignorei e subi até o quarto.
- Frey... – entrei com tudo dentro do quarto.
- você está bem? – correu na sua velocidade de vampiro até mim e me abraçou
  Retribui o abraço sentindo aquilo aumentar mais, e mais sem parar
- o que foi? – perguntou me vendo começar a chorar
- eu... - as palavras não saiam
- que cheiro é esse? Por que você está vestido assim?
- eu preciso de um banho – corri pra dentro do banheiro.
- conversa comigo – pediu batendo na porta do banheiro
- tá tudo bem – tentei disfarçar a minha voz de choro
  O que ele iria pensar de mim quando eu contasse pra ele o que aconteceu? Ele iria me deixar, nunca mais olharia pra mim, eu seria deixado de lado, perderia a minha chance de ser feliz com alguém
- Marcos eu... – o som de uma mensagem pode ser ouvida,
  Eu sabia o que era aquilo, liguei a água do chuveiro pra abafar o que viria a seguir, me senti de baixo do chuveiro e abracei as minhas pernas sentindo o meu mundo desabar novamente
 Ouvia os meus gritos de dor, os meus pedidos de ajuda, e as risadas dele, depois disso ouvia o grito deles dois por clemência. Não importa o quanto eu me iludisse falando que naquela hora não era eu... mas se não fosse eu, seria quem? Eu devia aceitar aquilo e seguir em frente, e isso era a única coisa que eu não conseguia fazer.
- Marcos... – bateu na porta suavemente
- não – sussurrei deixando as lágrimas escorrerem debaixo do chuveiro.
   Alguns minutos em silêncio do lado de fora, resolvi de verdade tomar um banho. Joguei o moletom encharcado de lado e fiquei debaixo do chuveiro. Não chorava mais por que não tinha mais nenhuma lágrima pra derramar, havia acabado com tudo. Não sorria, nem tinha expressão alguma no meu rosto, o engraçado é que a pouco tempo eu estava bem mas só foi entrar aqui que tudo ficou a flor da pele.
   Sacudi a minha cabeça saindo dos meus devaneios e Peguei o sabão, começando a esfregar esperando que todas as impurezas saíssem, só que ela já havia se aprofundado na minha pele, não importava o quanto eu esfregasse, não saía.
 Terminei de me enxaguar, fui pra frente do espelho ver como eu estava, meus olhos estavam inchados de tanto chorar além de estar vermelho como se tivesse acabado de fumar um. Sorri brevemente com essa piadinha sem graça.
  Peguei o roupão que estava atrás de mim e sai de dentro do banheiro depois de quase uma hora no banho.
  Não tinha mais ninguém no quarto, parece que eu estava certo, quando ele visse aquilo iria me abandonar com certeza e parece que pra isso eu tinha lágrimas, já que era assim resolvi dividir isso e chorar por tudo de uma vez.
  Fui até a sacada que dava uma vista pra floresta... e se eu me jogasse daqui? Eu morreria? Agonizaria de dor? Isso daria tempo do Frey me dar o seu sangue e eu me curar pra fazer isso novamente.
 Me aproximei mais da beirada, se eu me levantasse mais um pouco, seria questão só de me inclinar pra frente e cair... era isso que eu ia fazer
- espero que você não pule – alguém falou atrás de mim
  Ele me abraçou por trás e eu me desvencilhei, não queria que ficasse sujo com o meu cheiro, a essa altura todos já deviam saber o que aconteceu.
- você quer...
- eu quero ir embora – fui em direção a cama e me sentei, não queria admitir isso mas... eu quero a minha mãe, quero ficar com ela, só ela vai conseguir me ajudar a passar por isso.
- por que? – se sentou ao meu lado
- por favor – virei o rosto pra não olhar a expressão dele
- eu preciso de você aqui – se aproximou mais e tocou a minha mão – você foi a única pessoa que me fez realmente feliz depois da Samantha – me puxou pra um abraço
- o que você sente por mim? – olhei no fundo dos olhos dele
- eu amo você – sorriu, me desvencilhei do seu abraço
- você não me ama... você ama a semelhança que eu tenho com a Samantha, e acha que eu sou uma... reencarnação dela – me levantei da cama pra me afastar dele
- não... não é isso – se levantou pegando no meu braço
- é isso sim – corri pro banheiro me trancando lá dentro
- me escuta, vamos conversar direito – bateu na porta
- não – parei em frente ao espelho, eu fico uma merda chorando.
  Dei uma risada com esse pensamento e abaixei meu olhar pra água da pia que caia
- é difícil, eu sei... – levantei os meus olhos pro espelho - ... dói não é, o sentimento de gostar de alguém? Você gostou da sensação que eu te dei quando matei os dois, quando você não precisou se importar com nada nem ninguém? – ele estava vestido de preto... ele era parte de mim? – sim, eu sou parte de você, sou a sua parte... oposta, pra não dizer obscura – soltou uma risada
- o que você quer? – por ser parte de mim deveria dobrar o cuidado por que quando quero posso ser muito traiçoeiro
- eu quero te oferecer um acordo
- que acordo?
- eu te livro desses sentimentos e em troca você me deixa sair – sorriu atravessando a sua mão pelo espelho e tocando o meu rosto
- você está preso dentro de mim? – sequei as lágrimas
- sim, eu fui preso dentro de você – choramingou
- se você foi preso aqui... tem algum motivo, você não vai sair – dei uma risada acessando a mente dele por alguns breves segundos por não saber usar esse poder direito – você é minha parte demônio, nós estamos fundidos e se eu autorizasse você a sair, acabaria tomando o meu corpo – um poder novo que eu acessei sem querer foi muito útil
- você vai precisar de mim, mais do que possa imaginar – deixou os seus olhos negros de um jeito monstruosos
- veremos – soquei o espelho, quebrando ele em vários pedaços
- tá tudo bem aí dentro? – perguntou batendo na porta
 Não respondi nada, apenas sai de dentro do banheiro.
- você pode me levar até lá? – perguntei tocando o rosto dele e tentando usar a indução de ideias pra persuadir ele
-... não – tirou a minha mão do seu rosto
- não funcionou? – perguntei pra mim mesmo estendendo a mão na direção da testa dele
- o que ?
- durma – tentei mas não consegui, o que estava acontecendo?
- senhor desculpa entrar mas...
- durma – olhei pra garota que caiu no chão desmaiada
- como você fez isso? – perguntou erguendo uma das sobrancelhas
- eu que te pergunto por que não funciona com você? – me afastei criando uma espada
- vai mesmo me ameaçar com uma espada? – ele estava de olhos arregalados
- como eu posso ter certeza de que é você? – ele bufou e saiu do quarto com raiva – acorda – estalei os dedos fazendo ela acordar em um solavanco – se eu não posso confiar nele, em quem eu confio? – sussurrei pra mim mesmo
- apenas mate ele – risos deixando os seus olhos verdes florescente
- o que? – me virei pra trás olhando pra garota
- mata ele, eu te ajudo – se sentou na cama. Menina folgada
- vou te dar um aviso, toque nele e eu vou fazer questão de te matar lentamente, você viu o vídeo não é? Aquele fogo é a chama da destruição mental, depois que te tocar, você passa por um inferno que parece levar uma eternidade, na verdade é eterno já que eu coloquei ele em meio a um transe, onde ele está entre a vida e a morte constantemente, ninguém pode tirar ele de lá, nem eu mesmo... ou ele já está morto – deixei os meus olhos em alguma cor que eu não enxergava
- Me desculpa por favor, só não me machuca – pediu tremendo e se levantando
- então não toque nele, se alguém for fazer algo vai ser eu – gargalhei olhando a garota correr pela porta
- feliz agora? – perguntou meu outro eu encostado na parede
- você sabe mesmo como fazer medo em alguém – cruzei as minhas pernas enquanto revirava os olhos
- somos uma boa dupla... que tal um agradecimento? – se sentou ao meu lado
- claro, o que você quer? – encarei ele
- ficar no comando só um dia
- agradeça que eu não apaguei você da minha mente, por que eu posso muito bem fazer isso – me levantei e peguei uma blusa do Frey  
- tem certeza disso? – se referia a ir embora
- você mais do que ninguém sabe... o que ele pensa – bufei procurando uma calça
- não acha isso estranho? Tem alguma coisa aí, toma cuidado – sumiu assim que a porta foi aberta
- se você quer mesmo ir, eu não posso te impedir mas... me deixa te levar embora – pediu estendendo a mão
- não precisa – fechei os olhos
- como não? Você vai como? – perguntou se entender
- teleportando o meu corpo através das ondas mentais das pessoas – estava me concentrando e traçando um caminho através das mentes das pessoas
- isso não é possível – falou incrédulo
- é possível sim, só gasta muita energia – coloquei uma mexa do meu cabelo pra trás
- por favor fica – pediu correndo até mim e me abraçando
- não sou bem vindo aqui, eu sou o deslocado mas... por um momento eu achei que meu lugar séria perto de quem eu amo... perto de você – abri os meus olhos suspirando
- eu também te amo, só me deixa explicar... – pediu enterrando mais a cabeça no meu pescoço
- não precisa, eu sei disso, eu só não... consigo ficar aqui... quer saber a verdade? – me soltei dele
- claro
- eu sou o perigo pra vocês, esse papo todo é só uma desculpa pra manter vocês seguros... pra manter você seguro – a alguns minutos percebi ser o novo portador do anel da mente, esse poder não poderia ter se desenvolvido sozinho.
- eu sei me defender muito bem
- não contra eles... Eu vou atrás de respostas além de consolo – sorri voltei a me concentrar
- eu vou esperar por você – sorriu feliz
- eu te amo – dei um selinho nele começando a desfazer as minhas células
- eu também te amo – quando ele tentou me abraçar mas eu já havia me desfeito.
 O caminho até a minha casa foi longo, é bem possível também que eu tenha feito um monte de gente ter passado mal. Assim que cheguei ao meu destino, fiquei exausto, cai no chão com dor e fiquei lá por alguns segundo até alguém abrir a porta.

Celeste - Romance/fantasia GAYOnde histórias criam vida. Descubra agora