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Park Eunji


— JiSung! JiSung!

Por tudo que há de mais sagrado, eu queria matar meu irmão, aquela besta sem cérebro.

Ele simplesmente não voltou para casa na noite anterior e eu, pensando que ele talvez tenha ido ver o tal do elfo ChenLe, disse aos meus pais que ele foi visitar Mark, porque não o via há algum tempo e estava preocupado com o mesmo. Minha mãe aceitou rapidamente, ela estava acostumada com as escapulidas de JiSung para dormir na casa de Mark desde que eles eram pequenos e já nem ligava mais. Meu pai no entanto, estreitou os olhos para mim, e por um momento pensei que ele tinha visto através da  minha mentira. Entretanto, ele apenas balançou a cabeça e não disse nada.

O problema é: JiSung andava estranho. E não voltou para casa.

Há alguns dias, ele andava com a cara fechada e séria, deixando as refeições de lado alegando dor de cabeça. Passava a manhã fora de casa e a noite se trancava no quarto. Chegou até mesmo a levantar a voz para a nossa mãe, enquanto ela tagarelava sem parar sobre a linda decoração do festival do solstício de inverno. Mamãe ficou surpresa e meu pai ficou irritado pela primeira vez desde o incidente com uma árvore, quando éramos mais novos.

Eu acordei bem antes do sol nascer. Fui até o seu quarto e esperei que ele voltasse para lhe dar uma bronca sobre sumir de repente sem qualquer desculpa.

Mas. Ele. Não. Voltou.

E eu vou jogá-lo em um poço depois de encontrá-lo, por me obrigar a me esgueirar pelos cantos para entrar na floresta. Ninguém se importaria se fosse um menino, eles parecem poder fazer o que quiserem, mas uma menina? Sozinha? Na floresta?

Há três décadas, mulheres foram condenadas e desonradas por muito menos. Malditos contos de fadas. Minha mente é capaz de imaginar aquelas cenas horríveis apenas por fechar os olhos.

Mas tirando isso, eu só tenho uma preocupação: aquele lobo gigante e amedrontador que, segundo JiSung, quase o confundiu com um pedaço de carne. Sua sorte foi o elfo ChenLe (meu possível cunhado, que emoção!) ter encontrado ele antes.

No entanto, eu não podia contar com essa mesma sorte. Meu irmão deve ter pegado ela toda para compensar a falta de cérebro.

— JiSung! — Grito entre minhas mãos em concha. — JiSung!

Gritar no meio de uma floresta em pleno inverno com um lobo mágico vagando por aí pode não parecer uma boa, mas se parar para pensar, ele deve conhecer o JiSung, e já que o deixou em paz, então vai me deixar também se perceber que eu estou procurando por JiSung. Um lógica sustentada por "se ele pode, eu posso", que eu sempre usava com meus pais na infância para participar das brincadeiras de JiSung e Mark.

Dei passos desastrosos, pulando sobre raízes e afundando na neve quase até os joelhos. Com as minhas botas novas, que eu dei duro para arranjar dinheiro suficiente para comprar.

Eu já disse que vou matar meu irmão? Não me deixem esquecer.

O som de galhos se partindo veio até o pé do meu ouvido, me assustando até a morte. Olhei ao redor, mas não havia nada. Fiz o sinal da cruz pela vigésima vez naquele dia.

— O.k., EunJi. Para de ser medrosa — disse para mim mesma. — Do que você tem medo? O pior que pode acontecer…

… é morrer aqui, onde ninguém nunca encontrará meu cadáver.

Pensamentos positivos! Pensamentos positivos!

Comecei a contarolar uma cantiga da minha infância, que sempre me acalmava:

My Little Elf - ChenSungOnde histórias criam vida. Descubra agora