XXII

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Park JiSung


Eu coloquei as moedas na pequena entrada do baú, e fiz uma breve oração.

Me virei para sair, só que quase bati em alguém.

— Me desculpe — me curvei de leve, nem erguendo o olhar para ver quem era.

— Oh, não se preocupe… JiSung, certo? — minha visão se focou no clérgima que o homem usava.

— Padre Aramor! Sim, meu nome é JiSung. Mil perdões, acho que nunca fomos devidamente apresentados.

— De fato, mas eu conheci sua mãe. Ela falou muito bem de você — sorriu.

— Quando o senhor diz "muito bem", significa "até demais"? — brinquei.

— Ah, de fato. — Ele riu, soprando. — Ela é uma mulher encantadora, mas consegue falar mais palavras em um minuto do que eu conseguiria falar em um ano.

— É, essa é minha mãe — concordei, e nós dois rimos.

— Enfim, me pergunto o que um jovem como você estaria fazendo aqui, na Igreja, sem que esteja havendo missa.

Fiquei meio sem graça.

— O que o levaria a pensar que eu só venho aqui por obrigação?

— Ora, meu rapaz, eu já fui jovem, embora não aparente — sorriu divertido.

Eu cheguei à conclusão de que gostava do padre Aramor. Ele aparentava ser uma pessoa bem humorada, embora na missa tivesse tido a impressão de que sua fervorosidade ao declamar parecia meio violenta e cheia de uma convicção raivosa.

Talvez primeiras impressões pudessem ser equivocadas…

— Na verdade, vim deixar a oferta da semana, por ordens da minha mãe — confessei, mordendo o interior da bochecha. — Ela, na verdade, usou isso como desculpa para me fazer sair de casa.

— Se é assim, ela devia estar preocupada com você — padre Aramor alisou a barba, que batia no alto  do seu peito. — E para uma mãe se preocupar, deve haver um motivo. Está com problemas, JiSung?

Ele me fitou profundamente nos olhos. Engoli um pouco de saliva que se acumulou em minha garganta.

— Não é nada — mentir é pecado, principalmente dentro da igreja, ouvi uma voz em meus pensamentos, e ela parecia muito com a voz da minha mãe. Droga… — Não é nada demais. Só ando com muita coisa na cabeça esses dias.

Com isso, a imagem de um elfo de cabelos brancos surgiu em minha mente.

— Se quiser desabafar, eu estou livre agora. Eu poderia ouvir sua confissão e aconselhá-lo — sugeriu ele, com expressão afável.

Cocei a nuca.

— Não acho que o senhor possa me ajudar. É… complicado.

Complicado era uma boa forma de descrever tudo que andava acontecendo.

— Nunca subestime o poder de Deus, meu jovem — colocou a mão sobre meu ombro, e seu olhar me era sereno e indecifrável. — O Pai pode fazer por você mais do que imagina ser possível. Ele pode te libertar de tudo o que te angustia. Você gostaria disso, não é mesmo?

Inconscientemente comecei a balançar a cabeça, mas parei no meio do ato. Eu queria aquilo, não é mesmo? Um pouco de paz e tranquilidade para compensar aqueles dias de aventuras proibidas e estranhas. Uma boa noite de sono sem pensar diversas vezes no sorriso travesso do elfo que virou meu cotidiano de ponta cabeça sem mais nem menos. No seu olhar magoado quando me afastei tão abruptamente dele. Apenas um segundo sem me arrepender de ter entrado naquela floresta e me sentir terrível por um pensamento nunca concluído:

My Little Elf - ChenSungOnde histórias criam vida. Descubra agora