XIX

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HaeChan


Esses últimos dias foram uma droga.

Desde a discussão que eu tive com ChenLe, eu comecei a evitá-lo a todo custo.

Para me manter ocupado, pedi a Jeno que me permitisse fazer as patrulhas com ele. Por ser um trabalho cansativo, ele aceitou de bom grato a ajuda.

Até o dia em que fui atacado por criaturas feitas de magia negra.

Por pouco não fui morto. Apenas alguns ferimentos superficiais.

— Sorte não ter se ferido gravemente — falou TaeYong, após Jeno ter lhe informado do ocorrido. — Quando é ferido diretamente por magia negra, não dá para curar.

Apenas balancei a cabeça, mostrando ter entendido.

— Eu não vejo magia negra tão forte desde… — Começou Jeno, pensativo, porém não terminou a frase, sendo TaeYong a complementá-la.

— Desde a caça aos seres mágicos — disse TaeYong e franzi a testa, em uma pergunta silenciosa para o druida. — Você se surpreenderia com o quão hipócritas os humanos podem ser, HaeChan. Temendo a magia natural dos filhos do carvalho, os homens buscaram a magia negra como uma espécie de arma, mal sabendo o mau que ela causa na alma de quem a pratica.

— Idiotas — conclui, sentindo minha repulsa por aquela raça aumentar ainda mais.

TaeYong, por sua vez, apenas balançou a cabeça, negando.

— Os humanos têm medo do que não podem controlar, HaeChan, e, assustados, procuram soluções terríveis. O medo tira de nós a capacidade de raciocínio e libera nosso íntimo mais primitivo. É da natureza humana agir assim.

Não discuti, não valia a pena.

— Descreva outra vez como eles eram, HaeChan — pediu TaeYong, agachado na grama.

Estávamos no lugar em que eu havia sido atacado. Eu estava encostado contra uma árvore, Jeno perambulava pelos arredores próximos — observando ou farejando, vai saber —, enquanto TaeYong examinava o local minuciosamente, como se pudesse ler os rastros que a magia deixou, e esses pudessem lhe fornecer respostas.

— Parecia um cão enorme, como eu já falei — umas quinhentas vezes nos últimos trinta minutos, complementei em pensamento, mas controlei a língua. Eu não tinha muita paciência, me julguem. — Só que, era como se a pele fosse carne podre, dava para contar as costelas. Os dentes eram grandes de um jeito anormal, os olhos vermelhos sangue. E ele possuía uma aura negra, como sombras sólidas, o envolvendo.

TaeYong balançava a cabeça, pensativo.

— É a encarnação de um cão do inferno. Quem o invocou, não é um amador, ele sabe o que está fazendo.

— Cão do inferno? O que é isso? — Perguntei, curioso.

— Para muitas culturas humanas, é uma representação do mal, da morte. Para um praticante de magia negra, um rastreador do mal. Mas, na verdade, ele é um carniceiro que busca fontes de energia com as quais se alimentar.

— Ou seja, nós — concluiu Jeno, o olhar sombrio e nem um pouco surpreso.

— Você parece saber muito sobre essas coisas, não é mesmo? — Comentei com ele, em um tom sarcástico.

— Caso tenha esquecido, sou mais velho que você, então tome cuidado com a sua língua — disse ele, usando o mesmo tom que eu havia usado.

Insolente como só eu podia ser, dei de ombros.

My Little Elf - ChenSungOnde histórias criam vida. Descubra agora