Park JiSung P.O.V
Eu não sabia o que fazer.
Depois de quase ter virado a refeição principal daquele lobo e de ter sido salvo pelo menino de estranhos cabelos brancos (que só agora eu sabia o nome), eu segui pela trilha indicada por ele, até que me encontrei fora da floresta. Apenas para ser esmagado pela Haneul.
- Ah, JiSung! - Ela praticamente se jogou em cima, me sufocando com seus finos braços. É sério: como alguém tão pequena e aparentemente franzina, consegue ter um abraço tão incrivelmente esmagador? - Eu pensei que você tinha morrido! Como conseguiu despistar aquele lobo? Era um lobo mesmo? Acho que era grande demais para ser um lobo. Será que existem mais como ele lá dentro? Como ninguém nunca viu coisas assim? Como você chegou aqui? Ah, não importa! O bom é que você está bem! Temos que voltar para a aldeia e avisar a todos...
- NÃO! - Acho que eu falei mais alto do que pretendia, pois Haneul me olhou assustada e até chegou a se encolher um pouco para longe de mim. - Desculpa, eu não quis assustar você. Mas... - Eu não fazia ideia do que dizer para convencê-la a guardar segredo sobre o que havia acontecido. Ainda estava curioso sobre tudo isso, é claro, mas havia algo mais agora. E tinha haver com aquele garoto, ChenLe, apesar de eu não conseguir entender o que era, precisamente.
E por isso é que eu precisava voltar a... Não, eu não podia voltar a floresta. Porque ChenLe havia tecnicamente "proibido" a minha volta. E se eu desse de cara com um outro lobo ou coisa pior... Algo me dizia que eu poderia não ter a mesma sorte de antes.
- Olha - tentei parecer calmo, apesar de meu coração estivesse batendo acelerado, em pânico -, acho que não há razão para causarmos pânico no vilarejo. É muito comum existirem lobos em florestas - Sério?, uma voz sarcástica na minha cabeça resmungou. Foi a melhor coisa em que conseguiu pensar? É tão bom ter o apoio de sua própria mente... - E, sabe, não é algo com que as pessoas se preocupam...
- Como não?! - Ela exclamou, os olhos arregalados. - Nós quase viramos comida de lobo!
- É, bem... Nós também tivemos um pouco de culpa, principalmente eu. Não devíamos ter entrado nessa parte da floresta, nossos pais tem razão é muito perigoso. Muito mesmo - ressaltei. Finalmente usou a cabeça, aquela voz de novo. Sinceramente, estava começando a questionar se estava ficando doido.
Haneul parece pesar minhas palavras, em um conflito silencioso visível apenas por seus olhos agitados.
- Tem mesmo certeza de que não tem perigo?
- É claro - respondi prontamente, embora em minha cabeça tivesse respondido que não. - Veja bem: eu e vários outros homens do vilarejo vamos para a floresta todo dia e todos sempre voltam.
- Acho que tem razão - ela concordou por fim. - Vamos apenas esquecer isso, certo? Nunca aconteceu.
- Nunca aconteceu.
Ela respira fundo, e então, inesperadamente, sorri.
- Pode ser o nosso segredo.
Ah, não! Algo me dizia que aquilo não iria acabar bem.
- Pois é - respondi com voz arrastada e de má vontade, apesar de fazer o meu melhor para disfarçar.
***
Foi um longo dia de trabalho. Tipo, longo mesmo! Por isso, fiquei muito aliviado quando finalmente pude ir para casa, no fim da tarde.Principalmente, fiquei muito aliviado por enfim me afastar um pouco daquela floresta. Durante todo o dia, me senti observado. Era estranho? Muito. Se eu já estava me arrependendo de ter ido à floresta na noite anterior? Não imagina o quanto.
Além disso, quando voltei para o vilarejo, tudo parecia diferente. Não sei, parecia que as pessoas estavam agitadas, o que era incomum, já que nosso vilarejo era muito calmo. Homens se agrupavam pelas ruas, mulheres passeavam indo de uma casa a outra, com certeza buscando e levando qualquer que fosse a fofoca à solta.
- Que fim de tarde agitado - comentou meu pai, e concordei com um aceno de cabeça. - O que será que houve?
- Não sei.
- Vamos descobrir - ele fez um gesto na direção de duas pessoas perto do chafariz na praça e começou a seguir para lá.
Demorei alguns instantes para reconhecê-los. Eram JongSuk e Mark, seu filho. JongSuk era dono da loja de tecidos, era da chamada "classe alta" do vilarejo, o que não era grande coisa na verdade, só queria dizer que ele tinha riquezas suficiente para viver bem melhor do que a maioria das pessoas daquela cidadezinha isolada.
Apesar disso, era uma boa pessoa, e aliás o filho dele era um grande amigo meu.
- JongSuk! - Meu pai o cumprimentou, e eles deram as mãos, JongSuk sorrindo com gentileza. - Mark.
- Como vai, senhor? - Perguntou Mark, com sua típica educação.
- Bem, bem. E vocês?
- Muito bem, obrigado - ele virou-se para mim, e deu um sorriso de lado. - E aí, garoto-machado?
Eu sorri e nós nos cumprimentamos dando soco um no ombro do outro. Garoto-machado é um apelido de infância que ele me deu, quando uma vez meu pai me deu um machadinho de brinquedo que eu levava para todo canto.
- E aí, duquinho? - Eu o chamava assim porque, realmente, ele agia como um duque, sempre muito educado, dizendo obrigado e por favor.
- O que está acontecendo? Por que tanta agitação? - Meu pai perguntou para o pai de Mark.
- Ainda não souberam? - Eu e meu pai fizemos que não com a cabeça.
- O novo padre chegou no vilarejo hoje à tarde - contou Mark.
- O que houve com o padre MinHyun? - Perguntei, um pouco triste, pois gostava muito do velho padre, sempre o cumprimentava quando ia à igreja deixar o dízimo para minha mãe. E ele sempre contava uma piada sem pé nem cabeça que me fazia rir.
- Parece que a Igreja o considerava já muito velho e lhe deu permissão para se aposentar - explicou JongSuk. - Ele foi embora para viver com a irmã em outra aldeia.
- Ah! - Eu murmurei, com um pouco de desânimo. Mark colocou a mão no meu ombro e apertou, tentando me passar conforto. Ele sabia como eu gostava do padre MinHyun. Era uma pena. - Quem é o novo padre?
- Ele se chama Aramor - disse Mark, abaixando a mão.
- O vilarejo dará uma festa de boas-vindas para todos o conhecerem - disse JongSuk, parecendo animado com a ideia.
Na verdade, apesar de triste pelo padre MinHyun, eu quase não pude conter a empolgação pela festa, que segundo o senhor JongSuk, aconteceria nessa mesma noite. Era por isso toda a correria, e só agora eu notava as decorações sendo colocadas por toda a praça. As comemorações eram raras, eram basicamente limitadas aos feriados santos e às colheitas, que acontecia no outono.
Além disso, festa é não precisar pensar em problemas. E eu precisava parar de pensar nos meus por um tempo.
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My Little Elf - ChenSung
Fanfiction'Não saia da trilha Quando pela floresta passar, Pois entre belezas escondidas Um mal espera para atacar...' Num pequeno vilarejo, cantigas como essas são passadas de geração a geração, de forma oral, para assustar crianças e manter os jovens longe...