PT 3 | Capítulo 12 | Nós libertamos um leão

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Dito e feito. Não, não era um idiotice. Ela era a idiota. Não se pode obrigar ninguém a fazer nada quando uma pessoa não quer. Foi o que ele sofreu. E se você pode denunciar, deve. Adiantando ou não, você precisa entender que certas atitudes você não faz por vingança, e sim pra se livrar de um peso. Pra ter certeza de que você, pelo menos, tentou fazer algo por amor a si próprio.

Eu não tinha certeza do meu amor por mim mesmo, mas sabia que devia fazer algo. Podia ter próximas vítimas. Recobrei as forças. Descontei o estresse. E foi tão fácil quanto jogar Splinter Cell ou Call of Duty. Foi como enfrentar meus monstros em Dead Space. E eu tinha mais uma Midna pra contar.

Eu estava leve como uma pluma, voltando pra casa. 14h. Ah, não. A Geléia estava me esperando.

Corri pra casa dela, deixando meu tio pra trás. Ele entendeu e disse que não sabia que horas voltaria pra casa hoje. Mas eu não precisava me preocupar. Ele comentou da Lamborghini, mas disse que ainda ia conquistá-la com jeitinho.

Quando cheguei, ninguém em casa. Estava me deixando ansioso. Ela foi embora? Ela foi atrás de mim? Pensei em abrir a porta para ver, mas pensei que poderia ser processado por invasão de privacidade. Podia ter câmeras lá. E o pai dela era advogado.

O pai dela era advogado. Talvez por isso ela soubesse o que fazer. E isso me deu uma ideia. Talvez eu pudesse denunciar o ato dela de verdade, mesmo depois daquela brincadeira? Enquanto esperava na frente da casa dela, peguei o número do pai dela. Douglas, né?

Escrevi umas quatro vezes qualquer coisa, até porque eu não fazia ideia de como começar uma conversa com um advogado. Eu pensei em começar com oi, depois elaborei uma mensagem enorme, e depois não veio mais nada na cabeça. Ainda bem que ele não ficou online. Mas que burro eu, ele nem tem meu contato, não teria nada de estranho.

Eu demorei, e aí desisti. E falando em demora... Nada da Geléia. 1 hora de espera.

Liguei pra ela tanto pelo WhatsApp quanto pelo número normal. Nem sinal. Em nenhum momento atendeu. Caramba... será que ela...

Quando percebi, já estava suando frio. E muito, muito nervoso. Não aguentei. Não sei se tinha um sistema de segurança na casa dela, mas isso não parecia mais importante do que a segurança dela própria. E pelo silêncio na casa, não parecia ter ninguém. Não me deu mais medo de entrar.

Eu já estive ali antes. Tudo bem. Me senti um intruso, mas preferi me limitar aos espaços abertos da casa. Esperei um som, alguma coisa. Nada. Notei uma escadaria. Devagar, subi por ela, atento a qualquer movimento. Não sei o quanto me importaria de levar um tiro no meio da cabeça, mas não devia ser tão legal quanto num videogame. Na verdade, é bem assustador ter o joystick e não saber ou conseguir parar outro jogador que pode muito bem acabar com sua vida.

Ainda silêncio total. Alguém podia estar muito bem escondido ali. Do lado de cima eu já tinha chegado. Uma porta aberta. Duas. E um choro. Ah, não.

— GELÉIA? — chamei, mais como um grito.

O choro aumentou. E evoluiu pra soluços. Fui pro quarto. Que burro. Nem sinal dela. Até que vi a porta do banheiro fechada. Devia ser o banheiro, porque a acústica é diferente. E de lá de dentro, um eco. Por que isso me lembrava o dia em que a Bruna...?

Eu entrei, mas não imaginando exatamente o que estaria no ambiente. Não, ainda bem que ela não estava nua, nem um pouco. Mas seus braços estavam. Sangrando debaixo d'água, debaixo do chuveiro quente. Tapei meus olhos por um momento, com o susto, pensando que tinha mais coisa pra ver, mas não...

Ela olhou pra mim sem dizer um pio.

— O que você está fazendo? — me abaixei perto dela. — Olha só tudo... O que houve?

RascunhosOnde histórias criam vida. Descubra agora