PT 1 | Capítulo 7 | Céu azul

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Alguém te perguntou como é que foi seu dia?

Depois de saber do lance de "amigo imaginário" do Vitor, fiquei imaginando como poderia ser bom ter o poder de ficar invisível em algumas ocasiões. Assim como eu queria ficar invisível perto da minha mãe sempre que ela chegava pra jogar o universo dela sobre a minha cabeça. Deveria ser hilário ver ela falando e gritando com o nada. Se era verdade esse negócio do "aviso" do Fábio, então... eu ia ter que falar com o nada também?

Já que eu não fazia parte do universo da Marvel, o melhor método era passar o máximo de tempo o possível na escola ou na rua. E por alguns dias, eu tive um desejo de sumir por uns tempos. Não só por causa da minha mãe, claro. As matérias em si já estavam me enchendo um pouco. Estávamos estudando Brasil republicano, e talvez agora eu entendesse porque a maioria das pessoas prefere não se informar da história do nosso país. Realmente, é a mesma balela, com outros personagens e meios. O professor Brian estava fazendo o melhor pra tornar o conteúdo mais interessante, e parou de trabalhar só com os livros didáticos. Começou a sugerir livros extra-curriculares, mas que pelo menos nos fariam ler como se estivéssemos acompanhando alguma saga. Era ano de vestibular...

Me senti mais aliviado das paranóias com a Geléia, foi algo bom pra mim. Pelo menos, não sabia de nenhuma besteira que ela tenha feito. Nos finais de semana, a gente meio que se desencontrava e não se falava tanto, pois ela dizia ter "compromisso". Ah, acabei não enviando a mensagem pro pai dela. E passei a perceber que, talvez, eu não quisesse exatamente "morrer", mas estava, sim, procurando uma fuga de alguns momentos. Se eu não queria que a Geléia morresse, por que ia querer a minha própria morte? E enquanto sumia para alguns cantos, percebi que sumir não é se matar. Todo mundo precisa ter seu próprio momento. Lena sempre tinha os dela, pelo menos pra não surtar na nossa frente. Sumir, às vezes, é se mudar, como a mãe do Charles queria fa... Sumir pode significar começar uma nova vida em outro lugar. Sumir pode querer dizer recomeçar. Às vezes a maioria só quer isso, mas não sabe como. Ou faz do seu próprio jeito.

Alguns dias, o simples ato de andar de skate na praça era suficiente pra me deixar mais tranquilo. Não ter que me deparar com um tom de voz muito mais alto que o meu em um lugar silencioso, era algo positivo pra mim também. E passei a conhecer lugares novos, coisas novas, pessoas novas... É, nem tão novas assim. Digo, passei a falar com pessoas de uma forma nova. Quando ia pra biblioteca, era comum encontrar a Jaque, a Duda, a Letícia e o Sandro juntos. Na hora do recreio, Marcus, Pablo, Klaiton, Lucas e Pocoyo (sim, a cabeça e a cara dele eram iguais a do boneco, mais um marcado pelos apelidos carinhosos) se juntavam pra jogar com alguns outros moleques do 1º e do 2º ano, e eu tentava me enturmar também. E no dia em que realmente me coloquei à disposição do time, o Pablo deu uma de Ave Maria:

— Veio aqui pra provar pra gente que não é boiola?

— Tá dizendo isso porque um boiola reconhece o outro, né?

Foi o suficiente pro time me colocar pra jogar.

RascunhosOnde histórias criam vida. Descubra agora