PT 1 | Capítulo 9 | Quando eu crescer

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Cuidado com o que você deseja, porque pode conseguir.

Pensei que era óbvio, mas não. E com algo tão simples, eu ganhei o dia. Ganhei admiração e ganhei a proximidade da Sabrina até mim. As pessoas passaram a me procurar pra tudo. Resolver problemas de matemática, física, saber minha opinião política. Coisa de louco que começou na reunião do comitê da festa.

— Só tem um festival no mundo onde as pessoas não vão, prioritariamente, pra beber ou pegar alguém, e é o Tomorrowland. O terceiro maior motivo vira o primeiro: DJs.

Sim, a reunião era simplesmente pra decidir como faríamos uma festa sem álcool, drogas ou pegação popularizar e bombar. Por mais de meia hora, eles ficaram discutindo (incluindo a Sabrina) a possibilidade de introduzir algo batizado na escola, mas alguém poderia denunciar. Discutiram a possibilidade de procurar um lugar fora da escola, mas nem pensar iam nos deixar sem supervisão. Dessa vez, nenhum professor e nem a diretora estavam presentes. Por isso, eles se sentiram livres pra falar o que queriam.

Basicamente, o comitê estava composto de 20 pessoas, incluindo os representantes de turma. Pelo menos, os mais "equilibrados" pra missão não ir por água abaixo ou deixar tudo descontrolado. Marcus, um dos politicamente corretos na maioria das vezes, Sabrina, Lena, Jaque, Grazi e Mila (garotas que assumiram o black legal), Lucas, Rogério (pra manter todo mundo calmo, mas na maior parte do tempo ele estava pensando e planejando coisas mais importantes do que uma festa), Isaac (não me pergunte como ele conseguia arrumar tempo, mas ele basicamente ia ajudar com som e luz), Matheus (o antigo escritor, agora "descolado", era pra ele quem eu devia sugerir a ideia do RPG), alguns membros da "turma" de amigos do Pablo (menos o Pablo, ufa, mas eles precisavam estar estar presentes pois sabiam como fazer uma festa) e eu. E ainda assim, não conseguíamos chegar a um denominador comum. A diversidade parecia complicar um pouco as coisas, já que alguns pensavam que a festa devia ser liberada pra geral e também precisava distribuir 200 ml de vodka como lembrancinha e outros pensavam que festa é coisa de burguês desocupado. Talvez só um grupo de interesses em comum pudesse assumir essa "responsabilidade". Nesse caso, não seria algo preconceituoso pensar assim. Ou talvez fosse melhor acontecer mais de uma festa, cada uma com seu comitê, assim íamos arrecadar mais dinheiro pra formatura. Mas como teríamos tempo pra ir a tanta festa? Era ano de vestibular. Curtir aquele ano era como ganhar um presente de aniversário de 15 anos. Você pode pedir o que quiser, mas só pode pedir uma vez, pois vai assumir outras responsabilidades.

Estávamos perdidos e sem um denominador comum. Minha cabeça estava começando a explodir. Nem tinha falado com a Geléia ainda, mas vi ela chegar depois de mim. Estava com uma cara de exaustão absurda. Soube que ela dormiu na aula de Inglês e só acordou na hora da chamada. A professora ficou chateada, já que ela amava aquela aula e era muito boa na língua. Os olhos estavam fundos, cheios de sono. Ela também não parecia me enxergar no meio daquela multidão de alunos. Não parecia concentrada nem em onde estava. O pessoal do comitê combinou de almoçar junto, e não vi o Vitor sair da direção depois com o Pablo. Não podia esquecer de falar com ele depois. E com ela, claro.

Estava preocupado. Talvez Vitor tenha brigado com alguém no fim de semana. Apanhado em casa. Eu não fazia ideia de como era seu histórico familiar, e parece que perguntar poderia piorar tudo. Será que era mais uma razão pra ele ter, preferir ou procurar amigos imaginários? Pablo também tinha agido como um babaca. Que vontade de dar um soco na cara daquele moleque.

Mas pelo que eu soube, não demorou muito pra acontecer o momento de triunfo do Vitor sobre o Pablo. Quando saímos da reunião, a Sabrina grudada comigo me dando várias sugestões e eu ainda não prestando atenção no conteúdo, mas sim na sua doce voz, descemos direto pra aula de Educação Física. O professor olhou com a cara feia e sensual que seduz a maioria das garotas da escola pra todos nós. Matheus correu pro banheiro pra se trocar. Viu futebol, viu oportunidade. Meu susto foi um só: Vitor no gol. Geléia estava sentada, um pouco longe de algumas meninas, mexendo no celular. Chegamos no campo, e enquanto uns iam levar bronca do professor Renan, outros iam mexer com as garotas (inclusive com a Geléia). O Pablo estava no outro gol. E foi só o Vitor dar uma olhada pra Sabrina pra abrir um sorriso que eu jamais vi naquele rosto. Ele parecia estar muito bem, mesmo antes de chegarmos. O Pablo é que parecia nervoso.

Deixei a Sabrina por um momento e fui até a Geléia. Ela não conseguiu dispensar quem estava incomodando ela:

— Saiam de perto de mim ou o circo vai pegar fogo. Professor! — ela gritou.

Um uníssono de brincadeiras. O professor deu uma olhada, mas pensou que fosse uma brincadeira e continuou vendo o jogo. Klaiton, Dalton e Pocoyo ficaram imprensando ela. E ela parecia estar pegando alguma coisa na mochila antes que eu chegasse:

— Que que cês querem?

— Sai de retro que o papo não é contigo, Branquelo — Pocoyo era muito grande. De dar medo. E tão branco quanto eu.

— Vem cá, você já se olhou no esp...

Não deu pra completar. Um susto. Dois. E um estalo de bola, somado com um grito, batendo em alguém. Pablo chutou a bola umas três vezes contra o gol do Vitor. Foi do próprio gol até o gol do Vitor, tamanha a revolta. Todos os três defendidos. Na verdade, ele estava tentando descontar a raiva de não ser o favorito dessa vez.

RascunhosOnde histórias criam vida. Descubra agora