PT 1 | Capítulo 13 | Pra correr ou morrer comigo

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Tem segredos que ninguém, ninguém, ninguém sabe...

A festa foi marcada. Mais ou menos no início de junho. Tempo pra vender os ingressos. Aliás... estavam cogitando não vender, já que estávamos arrecadando tanta grana só com o aplicativo. E aconteceu algo bem curioso. Antes da outra festa... A que estávamos pra ir, só os caras. Era um sábado, umas 19h de noite, e mais um recordista se fez presente. Uns recordistas.

Richard e Matheus. No topo de uma torre no centro da cidade. Dançando em cima do parapeito do telhado. Até aí tudo bem. Tudo bem? O desafio era pular. Pular do parapeito que estava estava a 20 andares do chão. Eles ficaram dançando break por uns 5 minutos até dar uns 2.000 visualizando. Daí ficaram ameaçando pular. Fizeram questão de iluminar aquele lugar. E aí as pessoas foram chegando. A câmera focou lá embaixo. Tinha uma coisa azul gigante lá. E quando ela se afastou por mais alguns segundos, os malucos se atiraram como se fosse definitivamente o fim, gritando sem parar. E quando pensamos que os gritos iam parar (porque, óbvio, quem sobrevive a uma queda daquelas?), eles continuaram. A câmera voltou pra gravar lá embaixo. Eles estavam pulando. Alto pra caramba. O negócio azul era um pula-pula. E ficaram lá. E o público vinha ao redor deles gritando, enlouquecendo, com flashes e câmeras gravando aquilo ao vivo e a cores. E foi assim, voando pra cima e pra baixo por uns 5 minutos, que eles quebraram mais um recorde. R$ 12.415,75. Ninguém mais ia conseguir quebrar aquilo de vez. Decidimos assumir que aquela foi a coisa mais criativa que já fizeram na história do aplicativo. Então nos contentamos com desafios simples.

Antes daquele sábado, a minha cabeça estava ficando perturbada com a ideia de ter que, de fato, colocar a Sabrina diante de um advogado e fazê-la pagar por algo aparentemente pequeno. E se o Pablo tinha razão? Eu devia ter aproveitado a oportunidade, então, mesmo sem querer? Ia melhorar depois? O início era tenso, mas depois ia ser...?

O tio Marcus chegou a perguntar se a "garota no sofá" foi levada pra outro lugar. Daquela vez, no stand de tiro, eu preferi não contar "tudo". Mas explicar não foi tão fácil. Medo de "envergonhar o orgulho masculino", talvez? Ah, com certeza. Eu ia ser o mais novo "frouxo". Se ele visse a foto dela e soubesse que foi ela que me procurou, talvez quisesse me matar. Mas ele devia entender porque passou coisa pior do que eu passei. Sabe o que se sentir invadido, não ter o próprio espaço respeitado. Assim como a Geléia. E aí isso me deu forças para tentar conversar sobre o assunto com ele. Que a Sabrina era a "garota no sofá". Geléia comentou comigo que quem fez o documento foi o pai. Ele enviou por e-mail pra ela com o processo e tudo. Como ela conseguiu minhas outras informações pessoais eu não sei, mas enfim... Ainda tinha vontade de falar com o pai dela. Talvez um dia eu precisasse pra valer. E às vezes, eu sentia que esse dia estava mais próximo do que eu imaginava. Eu sempre lembrava da mãe do Charles e em como ela devia ter sabido dos avisos "estranhos" do filho. E se a Geléia era tão boa em esconder a dor dela quanto ele, isso era um péssimo sinal. Ela era uma bomba-relógio. E eu não sabia quando ela ia explodir. Eu duvido que ela ficasse aqui só por minha causa. É muito mais complicado do que isso.

Eu cheguei a pensar que ela poderia precisar que eu passasse do "só amigos", pra ela pelo menos saber que alguém, obrigatoriamente, se importava com ela. Mas depois do que eu passei com a Sabrina, eu sabia que nenhum relacionamento poderia ser suficiente para deixar alguém vivo, principalmente se os dois não se gostam 100% e de verdade. Não que eu não gostasse dela. Mas na minha cabeça, de novo, outra vez e novamente, ela era tipo minha irmã. E eu acho que ela também pensava assim. E também acho que ela devia estar traumatizada com os homens, e só ficava perto de mim como uma forma de "gratidão" por ter salvado ela e me importado com ela. Mas salvá-la dos péssimos pensamentos contra os homens da humanidade seria uma tarefa bem... bem pesada. Talvez ela nem quisesse se casar mais. Imagine namorar. Apesar de gostar do Rogério, ela devia ter ciência do grau de ignorância dele com ela. Então ela voltava à estaca zero. Talvez ela não me enxergasse como um homem, mas como uma pessoa. Ponto final.

E eu acho que é nesse ponto que as pessoas chegam quando se decepcionam. Talvez por isso ela viu no julgamento a oportunidade de se vingar da Sabrina. Mais uma forma de me agradecer. E uma forma de dizer que ela não tem um "preconceito". A Sabrina não era mulher e, por isso, era "frágil". Geléia sabia do poder que a garota tinha de me destruir. Então ela não viu ela como uma garota. Assim como o professor. Ele não viu alunos mais frágeis ou mais fortes. Ele viu réus. Ele viu pessoas. Viu seres humanos. Viu gente que falha, não importa o gênero.

Eu não estava vendo minha mãe com muita frequência, e meu tio não estava exatamente dormindo em casa por esses dias. Mas ele me aconselhou a me distrair. Por ser ano de vestibular, por eu estar de cabeça cheia, por ter que provar algumas coisas na vida antes de perder a cabeça por causa da faculdade. Depois de dizer isso, ele riu. Mas senti uma pontada de seriedade em sua fala. E isso porque, recentemente, ouvi falar de uma menina que se atirou de um prédio de uma universidade em São Paulo. A pressão da vida, sabe?

Então era hora de despressurizar tudo. Eu topei a proposta dos meninos. Tivemos que colocar pro fim de semana seguinte, porque tínhamos que conseguir identidades falsas. Pra quê? 

RascunhosOnde histórias criam vida. Descubra agora