Café.

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[ Louise's POV ]

Ué que músiquinha legal... dançante? Tem um ritmo legal. Vou dançar. E movimento meu corpo na batida.

MEU DEUS. Abri meus olhos rapidamente.

Tô atrasada, tô atrasada, tô atrasada. Eu não acredito que eu estava dançando a música do meu alarme no sonho. Eu não tenho jeito mesmo.

Pulei da cama rapidamente, corri para o banheiro. Dei um jeito de me arrumar o mais depressa possível e em 10 minutos eu já estava saindo. Peguei a bicicleta, e em outros 10 minutos eu já havia chegado ao meu local de trabalho. Paris é realmente um lugar lindo e eu tinha a sorte de trabalhar como designer. Eu amava desenhar, amava moda, mas também apreciava a simplicidade da arte.

- 2 minutos atrasada, Louise. - disse a secretária do estúdio.

- Eu sei, eu sei, não é fácil vir de bicicleta com uma bolsa cheia de tecidos, eu quase tombei - dei uma risadinha, e ela também - aliás, bom dia para você também.

- Tenha um bom dia, essa eu deixo passar. - Dei um sorriso de canto e segui para minha sala.

Por algum motivo, eu estava me sentindo muito bem aquele dia, quero dizer, melhor do que eu já costumava me sentir. Era estranho, uma paz no coração.

O dia passou rápido, continuei trabalhando em algumas peças, e logo saí de lá diretamente para uma cafeteria que era localizada na esquina. Pedi um café, e tudo correu muito bem durante o tempo todo. Me senti realmente feliz, eu estava leve. Não que eu não fosse feliz, mas eu estava meio para baixo de modo geral, me sentia meio sozinha naquele apartamento... e na vida também. Mas naquele dia, não. 

[ Timothée's POV ]

Mal sabia ela que aquele dia eu estava a acompanhando. Vi que ela desenha muito bem, que é apaixonada pelo que faz, que é meio desastrada ás vezes, por exemplo, ela conseguiu derrubar o lápis, atenção, 4 vezes pois não parava quieta com as mãos. Ela remexia os dedos, balançava, batucava, uma loucura.

No final da tarde, eu estava sentado ao seu lado, enquanto ela tomava café. A observei, vi que ela lia notícias em seu celular, vi que checava alguns "stories" regularmente, pois eles sumiam depois de um período que eu não sei exatamente qual é. O que era tão interessante em ver alguns vídeos e fotos aleatórios? Bom, não sei. Pelo menos, ela não me via.

Senti algo se aproximando. Era Lorran.

- O que faz aqui? - ele indagou após se posicionar do meu lado de supetão.

- Que susto, cara. Chega devagar, pelo menos, já que veio me investigar. - Ele me olhou com uma cara estranha, acho que ele não gostou do que eu disse.

- Primeiro, eu não estou te investigando, segundo, só queria saber o motivo do senhor estar sentado observando uma pessoa tomar um café.

- Só estou a acompanhando por hoje, ela é a menina da qual eu te falei ontem.

- Ah - ele disse calmamente. E fez uma cara pensativa. - Vamos, precisamos conversar.

Não o questionei. Subimos. E quando eu digo subimos, não é de elevador não. É quando simplesmente usamos nossas belas asas para voar. Os humanos amariam ter essa habilidade, já percebi que alguns tentam voar. Pena que nada se compara a se sentir livre de verdade. Voar pelo mundo inteiro se eu sentir vontade, entrar nos mais diversos lugares, sentir e guiar os mais diversos seres vivos, até debaixo d'água. Era uma pena ás vezes deixar algumas coisas acontecerem. Por exemplo, teve um dia que um peixinho muito gracioso estava nadando, mas eu sabia, só por sentir sua energia, que sua vida não duraria mais muito tempo. A cadeia alimentar agiria, e mesmo gostando de vê-lo, não podia interferir em seu destino. Era assim que as coisas funcionavam. Um ser morre, outro nasce, é o ciclo da vida. Por centenas de anos víamos aquilo acontecer, era simplesmente o ciclo. Fomos criados para sermos guardiões daqueles que precisavam, não para prolongarmos ou promovermos vida eterna, nem consertar nada, nem ninguém. Pois novamente, tudo que acontecia era aprendizado, lição, que seguia um plano maior.

Ser um guia não significava poupar pessoas de dores, mas sim ensinar que a dor é professora. Ela mostra o significado das coisas, e é um sinal para que as pessoas deem valor para o que realmente vale a pena. Para que aprendam o lado mais humano das coisas, a fragilidade da matéria, da "vida".

Saí do meu transe. Lorran me encarava. Ele era um ser realmente muito iluminado, envolto por uma luz muito grande. Ele tinha uma sabedoria notável, tipo, muito notável mesmo.

- Timothée, deixe-me explicar uma coisa. Eu compreendo que isso seja extremamente interessante, eu mesmo já tive esses devaneios, mas entenda que você tem, querendo ou não, uma consciência, pois a gente tem sentimentos. De maneira diferente, mas temos. - Ele se referia ao fato de só sentirmos coisas saudáveis. Amor, empatia, e até curiosidade de vez em quando, o que era meu caso. Não sentíamos o que se referiam a "ódio" ou "inveja". - Cuidado para essa curiosidade não te tirar seu verdadeiro propósito. Eu sei que você continua mandando luz e energias para quem precisa, mas uma parte de você está longe. Eu vi hoje.

- Eu sei Lorran, como você disse, eu não de desvio das minhas funções - Já falei que nós podíamos estar presentes em mais de um lugar, né? - Mas o que eu estou fazendo não machuca ninguém.

Ele começou a refletir. Parecia que sabia o que estava por vir, de alguma maneira. Ele conseguia sentir algumas coisas, mas mantinha para ele, pois novamente, não podia alterar, somente intervir se necessário.

- Timothée. - Ele disse. E eu o olhei. - Você é diferente.

- Como assim? - O olhei confuso.

- Temos dons certos, cada um com o seu. - O dele era sabedoria. - Eu vejo muito amor em você. Amor pelo que é falho, vulnerável. Amor pela vida. - Eu sorri. Era verdade.

Ele sorriu de volta. Balançou com a cabeça como se indicasse que iria dar uma volta. O deixei ir. E eu fui observar o nascimento de um filhote de anta, nome engraçado, né? Mas querendo ou não elas são fofinhas, e eu amo o amor maternal.

[ Louise's POV ]

Senti meu coração "voltar ao normal" depois da tarde. Aquela sensação não durou muito. Estranho. Deitei em minha cama depois de seguir minha rotina da noite e fui dormir.

Vi uma luz bem forte. Mas não era desconfortável, era uma luz boa, não fazia meus olhos doerem. E essa luz perdurou por um bom tempo. Estranho, de novo.

- Droga, sonhei de novo. - Já eram 7 horas da manhã novamente.

Angelic.Onde histórias criam vida. Descubra agora