Relógio?

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[ Timothée's POV ]

Tá, não havia sido muito difícil me abrir pra ela. Mostrar meu verdadeiro eu. Na verdade, era libertador. Digo, essa sensação de não ter que me esconder na frente de algum humano. E ela achava aquilo tudo o máximo, era legal ver a reação de alguém a isso. Sinceramente, eu não sei se algum humano tinha visto um anjo dessa maneira. Quer dizer, eu acredito que sim pois eles tinham uma ideia da nossa existência, e era normal ver um anjo retratado em uma pintura ou outra. Não sei o que acontece com anjos que se mostram e como tudo aquilo era encarado.

Por isso, resolvi ir até o lugar de uma outra falange. Outros anjos com quem eu pudesse conversar, fora do meu círculo, pois eu sabia que se eu falasse aquilo ali, entenderiam a motivação da pergunta e eu iria me dar mal.

Logo, abri as asas e voei por alguns minutos, admirando a vista no caminho, vendo tudo na Terra de cima, minúsculo. Cheguei na região que eu queria. Não nos encontrávamos frequentemente pois tínhamos nossas tarefas cuidadosamente resignadas e divididas, mas era bom quando o fazíamos.

- Timothée? - Ouvi a voz de um anjo de longe - É você?

- Quem? - ouvi outra voz, feminina desta vez.

Logo vi dois anjos. Luan e Isis. Ela logo voou rapidamente em minha direção e me abraçou.

- Quanto tempo! - ela exclamou.

- Faz tempo mesmo... - respondi. Assim que ela me soltou, foi a vez de Luan me abraçar. - Cadê o resto?

- Estão lá embaixo. Podemos ajudar em algo?

- Na verdade, podem. Um anjo já se mostrou para um humano antes? Como são as leis com relação a isso? - perguntei.

- Então... você conhece as regras. Animais, bebês, pré-morte. Fora isso, não é permitido. Mas tem uma história que eu sei sobre isso. Há uns 4 séculos atrás, um anjo se mostrou para um humano. Mais especificamente uma pintora. Ele estava fascinado por ela, e ela parecia o sentir. Até que um dia ele se mostrou, eles conversaram, e logo ela produziu uma obra sobre ele. Depois disso, não ficamos sabendo de mais nada e nunca mais o vimos. Nunca mais. - ele suspirou - Por que Timmy?

- Ah não, nada, só queria saber como algumas obras existem sobre nós... - menti. Mas era uma mentira necessária, e naquele momento eu estava preocupado demais para ligar.

- E por que não perguntou para seus irmãos mais próximos?

- Estão ocupados, você sabe...

- Sei... - ele estava meio desconfiado.

Logo, Isis quebrou o silêncio.

- Vamos Timmy, vamos dar uma volta. Você também Luan.

- Não posso ir agora irmãzinha, tenho tarefas hoje. Mas vão juntos, vejo vocês depois. - e sorriu, logo após alçar voo para o leste.

- Vamos? - ela reforçou.

- Vamos. - concordei.

E assim, partimos para uma volta sobre o céu, que era banhado bela luz dourada do Sol, seus raios pedindo passagem para as nuvens, que cediam, formando belos feixes no céu. O dia estava lindo, e Isis parecia adorar aquilo, ela era linda também. Acho que todos nós éramos. Batíamos as asas e voávamos em alta velocidade, rindo a toa. E nessa hora refleti. Como seria bom se eu fosse apaixonado por essa vida como sou pela vida na Terra. Eu queria achar a Terra algo comum e nada interessante, como a maioria dos meus irmãos achavam. Para eles, o céu era tudo o que eles precisavam e era o suficiente, mas eu queria mais, e sabia que aquilo ainda iria me condenar.

Voamos por um bom tempo, e a observei, atento. Ela estava feliz, genuinamente gostava de mim, e eu dela, como primos que não se viam há tempos. Mas uma pontada de preocupação me atingiu. Sabia que tinha que voltar.

- Ei, Isis, preciso cumprir algumas tarefas hoje. Tudo bem por você?

- Claro, mas volte sempre, ou eu mesma irei atrás de você.

- Não se preocupe, voltarei. - sorrimos um para o outro e podia voltar para a Terra. Para vê-la, é claro.

Voei feliz, aproveitando a vista do caminho. Depois de um tempo, aterrissei pela janela, e pelo balanço da cortina, vi que ela sabia que eu estava ali, estava em um lugar seguro o suficiente para ficar visível. E assim o fiz.

[ Louise's POV ]

Ele realmente tinha voltado. Meu coração logo começou a bater mais forte, como da primeira vez que o vi, mas dessa vez era de alegria e eu estava devidamente vestida.

- Sabe que horas são? - questionei.

- Hm, deveria saber?

- São 6:30 da manhã.

- E daí?

- E daí que daqui a pouco eu vou sair para trabalhar, mas você pode ficar aqui se quiser. Mas juro que quando eu chegar eu fico junto com você, mas agora eu realmente não posso. Aliás, estou considerando seriamente em te dar um relógio.

- Desculpe, o meu conceito de tempo é diferente. E nem se incomode em me dar um relógio pois eu acho brega.

- Que absurdo! - ele riu e eu também, sabia que ele estava brincando, assim como eu.

- Mas não se preocupe, eu te acompanho hoje. Aí você me explica sobre moda.

- Como sabe que... VOCÊ JÁ FOI AO MEU TRABALHO?

- Ué, já.

- Meu Deus, eu estou me sentindo no Big Brother Celestial. Fique ai que eu já volto, vou me arrumar.

Logo, corri tomar um banho e me vestir, e o vi esperando lendo um livro na sala.

- Vamos? - olhei para ele, que logo se levantou da cadeira.

- Vamos.

O vi desaparecer, mas sabia que estaria ao meu lado. Sabia, e agora reconhecia o sentimento de paz e tranquilidade que eu havia sentido nos últimos dias. Era ele. Era ele esse tempo todo.

Depois do meu percurso de bicicleta, me equilibrando com uma bolsa cheia de tecidos e retalhos, finalmente cheguei.

Passei por Angel, fui para a minha sala. Logo que fechei a porta, comecei a falar com ele, mesmo que não pudesse vê-lo nem tem uma resposta dele. Mas sabia que estava ouvindo. Aqui está a coleção de outono. E apontei para alguns manequins, e depois para um cabideiro. Essa é minha peça favorita, apontei para um vestido preto, ainda com algumas costuras soltas.

Me sentei e comecei a trabalhar em um casaco, descrevendo detalhadamente o que eu estava fazendo, passando a agulha, dando nó, escolhendo os botões, tudo.

- Louise? - ouvi uma batida na porta e meu nome sendo chamado.

- Entra. - era Oliver, aquele que havia me dado o telefone do irmão dele.

- Falando sozinha? - droga, ele tinha me ouvido.

- É, faço isso as vezes. - ri sem graça.

- Como está indo a coleção?

- Bem, bem, quando eu terminar, vou te mostrar na sua sala.

- Hm, certo. Quer um café? - ele ofereceu.

- Estou bem, obrigada. - ele pareceu murchar, esperava que eu desse corda pra ele. Tadinho, mas eu estava muito ocupada, e hoje o trabalho tinha plateia.

Assim que ele se virou para sair, o vi tropeçar. Não contive uma risada, e o vi sair mas sem graça ainda.

Timothée, como você é tonto. - e caí na gargalhada. Claro que ele não havia caído a toa.


No próximo capítulo, vai rolar uma coisa impactante, viu? Preparem o coração......... Até mais :)

Angelic.Onde histórias criam vida. Descubra agora