Lua.

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[Timothée's POV]

Os dias se passavam e eu observava o Sol passeando na contramão da Lua. O pobre coitado só a encontrava durante os eclipses. Bem, talvez a história deles não era pra acontecer.

Será que isso existe mesmo?

Essa coisa de não é pra ser?

Sinceramente, eu estava meio descrente de muitas coisas, mas isso eu deixo pra lá. O pensar demais me atrapalha.

Atrapalha muito, diga-se de passagem.

Eu passava vê-la quando podia, mas o contato entre os dois só aumentava, mas eu queria checar para ver se ela estava bem.

E estava.

E aquilo confortava meu coração da mesma maneira que o fato disso estar acontecendo me atormentava.

Quer dizer, eu estou feliz por ela em sua nova fase, mas faria tudo para voltar ao que éramos antes.

Notei, em seu apartamento, quando vou para brincar com o Theo, que minhas roupas, cartas e acessórios estavam guardadas no fundo de seu guarda-roupa. Esquecidas, talvez?

O Theo me alegra, e sempre que sei que ela sai, eu apareço por lá. Ele gosta de mim, eu acho. Ele é o mais próximo dela que eu posso ter.

Poxa, Lou, como eu queria que as coisas fossem diferentes.

Faziam meses que eu não falava com meus irmãos, nenhum deles aliás, e eu passava maior parte do tempo rodando por ai, pelo fundo do mar, ou mais alto dos céus. Algo entre esses dois.

Era bom o respeito que eles tinham pela minha... fase?

Certo dia, decidi passar para vê-la, mas ela estava com ele. De novo. Me sentei ao seu lado. Ela estava cozinhando, e ele sentado esperando na mesa da cozinha. Eles conversavam sobre algo trivial, só passando o tempo.

Por algum motivo aquilo me irritou.

Por que ele não a abraça?

Por que ele só assiste sem fazer nada?

Por que ele não a beija?

Quero dizer, é se esperado que façam isso, não é?

Por que ele não sorri pra ela toda vez que ela o olha?

Reaja, Oliver, reaja.

Ele gosta dela. Mas eu a amo.

Me irritava o fato dele não demonstrar aquilo a todo momento.

Eu demonstraria.

Mas você não está lá, está Timothée.

Raiva. Quer dizer que ainda há um resquício de humanidade em mim.

Ele, depois de muito tempo e minha certa irritação, abriu a boca pra falar e eu fiquei atento.

O vi puxar uma caixinha do bolso. Ah não.

- Louise, quer namorar comigo?

Ele indagou enquanto se ajoelhava no chão.

Péssima hora para eu estar aqui. Péssima. Mas eu não sairia até ouvi-la dizer a palavra.

Eu queria a ouvir dando a sentença final, agora não tem mais volta.

Aguardei inquieto, eu estava a beira de um colapso.

Era aquilo e ponto.

Não diga, Louise. Ou diga, não sei.

Uma parte de mim queria que ela dissesse sim, e outra não.

Acho que esse é o dilema de todos os ex-amantes. Quero que você seja feliz, mas poxa... Por que não comigo. Eu sou o Sol e ela a Lua. Ele era uma estrela, então? Que estava perto dela, passava as noites pertos do astro mais linda na infinidade do espaço? Ele era sortudo a esse ponto?

- SIM.

É isso. Acabou.

Algo dentro de mim morreu naquele momento.

Era isso e acabou então. Qualquer pingo de esperança se esvaiu pelos meus dedos, e enquanto isso, o amor se fixou nos dedos dela com aquela aliança.

Cacete.

Era infernal não poder chorar, nem explodir. Mas eu podia fazer uma coisa, mesmo que nenhum humano ouvisse.

Sai de lá e fui para o teto. Assim que pude, gritei, gritei com toda a dor que eu queria colocar pra fora.

Era doloroso demais.

Eu quem queria colocar o maldito anel em seu dedo, Louise. Era eu quem queria.

A Lua.

É pra lá que eu vou.

Em uma linha reta, segui para cima, não parando nem um segundo. Não havia tempo a perder.

Ela me ouviu por tantas noites, me viu passar por tanta coisa. Ela era a única coisa que podia me trazer conforto agora. Só ela e nada mais.

Demorou um pouco, mas logo eu consegui sair da exosfera, e logo a vi.

Maior e mais perto que nunca, era meu primeiro encontro com aquela que eu julgava ser a mais bela arte que habitava o espaço. Fora da Terra, meu pescoço parecia ser libertado de uma sensação de sufoco. Eu estava livre, pelo menos por alguns momentos.

O astro iluminado estava bem em minha frente, com suas nuances que talvez fossem consideradas imperfeições, mas que para mim eram o que as faziam lindas.

- Dizem que você é a ouvinte dos apaixonados, certo?

Disse, mesmo sabendo que ninguém ouviria.

Cheguei bem perto dela, e procurando um lugar apropriado, me sentei ali, deixando minhas asas de fora um pouco. Era assustadoramente lindo.

A visão dali era a coisa mais linda. A Terra parecia tão pequena dali, tão distante. Se eu pudesse, ficaria aqui pra sempre.

Ficaria aqui, mesmo que sozinho, mas distante de tudo aquilo que machuca. Mas não dá. Eu iria morrer de saudade.

Fiquei ali sentado por um tempo, observando a vasta paisagem. me deitei de bruços por um momento, como se estivesse a abraçando.

Ela me lembrava a Lua. Mas eu não podia tê-la. Mas eu podia visitar aquilo que me lembrava dela.

- Podíamos ter sido felizes por mais tempo. Você sabe que eu vou te amar pra sempre, Louise. Você sabe que mesmo tendo conhecido cada alma, cada canto do mundo, cada centímetro do céu, a coisa que eu mais amo é seu coração. Sempre vai ser você. Se cuide, meu amor. - Disse como se estivesse conversando com a mulher que eu amava. Mas não era ela.

Depois de um certo tempo, me levantei. Eu tinha que voltar, ver meus irmãos.

- Obrigado por me acalmar. - sussurrei, como se finalizasse a conversa, mas dessa vez, me dirigindo a Lua em seu sentido literal.

Lentamente, me direcionei pra minha casa.

[Lorran's POV]

Ouvir seu grito era agonizante, mas é assim que as coisas são.

Ele vai se curar.

Ele já está se curando.


Ai gente, eu achei tão lindo (e melancólico) esse paralelo entre a Lua e a Louise e como ele, para falar com ela, vai até a Lua LITERALMENTE. Isso mostra como ele pode ter literalmente qualquer coisa em seu alcance menos o que ele mais deseja. Do que adianta ter tudo e sentir que não tem nada? Enfim, achei esse paralelo bem tocante kk (eu me emociono com oq eu mesma escrevo). Capítulo em dobro hoje, hein? Se cuidem, até :)

Angelic.Onde histórias criam vida. Descubra agora