Onda.

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Recado: Oi gente, esse capitulo é especial pois começa uma nova fase nessa história. Ta começando a desenvolver um pouco mais esse contato entre os dois, mesmo que não seja recíproco ainda. Enfim, espero que gostem. Deixa a estrelinha ai, ta? Beijos ❤️

[ Louise's POV ]

Finalmente, SÁBADO.

Hoje era o dia em que Lilian, ou melhor Lily iria vir me visitar. Ela é minha melhor amiga desde sempre. Estudamos juntas, crescemos juntas. Era um privilégio tê-la ali comigo sempre.

Decidi tomar um banho. Era revigorante. A água quente em atrito com a pele, o vapor tomando conta do banheiro, o sabonete líquido criando bolhas e espuma na esponja. O sol entrando pela janela, criando um ambiente mais acolhedor ainda, a sensação de calor balanceada com o frescor da água. Era tudo muito vivo dentro de mim, dava pra sentir o ar entrando e saindo calmamente pelos meus pulmões, a leve ardência da água em contato com meus olhos, o cheiro gostoso de baunilha do sabonete, que agora me impregnava. Tudo. Era terapia, e eu fazia questão de sentir aquilo tudo. Era vida em mim, era paixão pelo que respira, pelo que interage com o ambiente. Contato.

Saí do banho e coloquei um vestido florido, bem leve mesmo pois estava cerca de 32°C, de acordo com meu app. Eu estava descalça. Gostava de sentir o chão gelado sob meus pés. Arrumei o cabelo separando duas mechas frontais e as prendendo atrás de cabeça. Aproveitei o leve atraso de Lily para descer até o jardim do prédio. Era um prédio de somente três andares, bem rústico, design antigo, cores cruas, e bem silencioso para falar a verdade.

No primeiro andar vivia a Dona Marrié, que apesar de seus 65 anos, vivia com seu marido, o amor de sua vida, e eu os via todos os dias de manhã quando saía para trabalhar. Eles regavam as plantinhas juntos, deixavam ração para gatos que sempre passavam por ali, e eu via que eles se amavam muito. Muito mesmo, mesmo após muitos anos de casamento. Um dos meus maiores sonhos era amar alguém de verdade. Do tipo, viver junto até o fim dos tempos. Eu era bem boba para falar a verdade, eu vivia lendo romances incrivelmente melosos e aquilo derretia meu coração, não tinha jeito.

Peguei algumas flores caídas no chão, pois eu não gostava de arrancá-las de lá e as coloquei no meu cabelo. Combinavam com o meu vestido.

Subi e logo o interfone tocou. Era Lily. Minutos depois ela aparece em minha porta.

- AMIGAAAA - E ela pulou em cima de mim, me abraçando. Ela era exagerada mesmo, mas eu adorava.
- OOOOOI - respondi na mesma vibe. E nos soltamos. Ela estava com um shorts azul bebê e uma blusinha branca, era linda. Além de um tênis branco também, e me fez lembrar de colocar um sapato, já que íamos comer fora hoje. 

Fui até meu quarto e vi minhas cortinas balançarem fortemente por um breve período. Tranquilidade.

[ Timothée's POV ]

Ok. Confesso que aquela não tinha sido minha melhor aterrisagem. Não acredito que perdi o encontro, suponho eu, caloroso das duas. Pelo jeito que elas se falavam pelo telefone, estavam muito empolgadas para se verem. Vi que estavam saindo de casa e decidi acompanhar. Elas pegaram as suas respectivas bicicletas e saíram andar. Mas por algum motivo eu achei meio invasivo atrapalhar o momento das duas, por isso decidi ficar no apartamento, investigando algumas coisas.

Vi que ela tinha diversos utensílios de cozinha, então presumi que ela realmente gostava de gastronomia. Reparei também em suas roupas dispostas em um móvel, cuja porta estava aberta, e eu vi que sua vida na moda era realmente promissora, ela tinha um ótimo gosto, e também via que ela tinha roupa em tons mais claros, só algumas peças escuras, que ela utilizava a noite ou para sair, presumi novamente.

Finalmente, cheguei perto de uma prateleira. Livros e mais livros. Passei rapidamente os olhos pelos títulos e observei que eram, em sua maioria, romances. Eu já era familiarizado com a maioria dos títulos por dois motivos: a) por eu ter uma, os humanos chamam de idade, muito avançada, eu tinha visto vários daqueles livros serem escritos bem na minha frente. b) Eu passava MUITO tempo em bibliotecas, principalmente aquelas gigantescas, e eu amava ler, de verdade. Já vivi muitas coisas, sei muito sobre história, já vi milhares de romances, e li também. Eu gostava dessa coisa toda de história. Não só de apostila acadêmica, mas de histórias mesmo. Desde a invenção da lâmpada, queda de um ditador horrível até das histórias mais bestas de amor.

Decidi pegar um título mais recente para ler já que eu não conhecia, se chamava "Quem é você, Alasca?" por John Green. Parece bom, aquilo iria me distrair até elas voltarem.

[ Louise's POV ]

E no meio do restaurante, eu soltei um riso alto demais. Não era minha culpa Lily ser tão engraçada. Sério, ela tinha uma dicção péssima, e falava tudo invertido, e eu só sabia rir. Ela falou "botando um apertão" na falha tentativa de falar "apertando um botão". E depois de várias piadas e conversa jogada fora, ela abordou um assunto mais sério.

- Cara, mas você viu aquele livro que eu te falei? Sobre morte, céu e tal? Eu gostei muito dele, mas não sei não... será? - Parei para pensar um pouco, nunca tinha parado para pensar nos detalhes daquilo tudo. Eu tinha fé, mas não sabia muito sobre aquelas coisas.
- Eu vi, mas não entendi muito bem. Acho que vou passar na livraria mais tarde, faz tempo que eu não passo lá, e já aproveito dar uma olhada nessa seção. - Por algum motivo me deu um estalo para ir para lá. E também fazia realmente muito tempo que eu não sentava lá estudar e ler, e aquele livro era pouco esclarecedor, deixando uma lacuna e eu queria entender mais.

O assunto se dissolveu e decidimos voltar para casa.

- Ai Louise, meu amor, eu te amo, você sabe, mas eu preciso dar uma passada lá no shopping, você sabe, né? Eu tenho que jogar meu charme. - Ela se referia a passar na loja de perfume do shopping, cujo funcionário era o crush da Lily e ela passava lá às vezes, e ela decidiu que hoje eles iriam trocar telefones. Eu dei uma risada, pois ela estava realmente nervosa.
- Boa sorte, me ligue e me conte tudo depois, viu? Eu vou passar na biblioteca. - Respondi.
- Pode deixar! - Ela disse, me abraçou, pegou uma maçã na fruteira e se virou para a porta.
- Ei! Eu ia comer isso... - protestei.
- Não vai mais, beijo te amo. - Ela disse e fechou a porta.

Peguei um casaco, caso anoitecesse e ficasse frio, dei um pulinho na cozinha pegar as chaves para que eu trancasse a porta e desci em direção a minha bicicleta.

Poucos minutos depois, eu já avistava-a. A gloriosa biblioteca nacional da França, que por sorte minha, era em Paris. Ela era realmente linda. Detalhes incríveis. Eu sei que sou suspeita pra falar, mas o design era perfeito.

Orientei-me com a bibliotecária aonde eu poderia encontrar livros com a temática pós-morte/relação celestial com o universo mundano e ela me indicou a seção aonde eu deveria procurar. Caminhei e selecionei três títulos que eu achei interessante.

[ Timothée's POV ]

Quer dizer que no almoço que eu deixo de ir, esse tema em específico é abordado? Eu devo ser muito azarado mesmo. Voei acima dela, em direção a biblioteca e pouco tempo depois estávamos sentados em uma mesa, em um silêncio absoluto, a não ser pelos barulhos externos ou o som que as páginas faziam.

Ela estava ali, concentrada e lendo, se aprofundando sobre um tema delicado para os humanos, e eu a observava. Ela era dona de uma beleza realmente estonteante. Seu nariz era perfeitamente delineado, olhos verdes escuros, como o das matas mais bonitas. O cabelo castanho, que ao sol brilhava em um tom quase dourado, uma boca com um tom naturalmente rosado, mãos delicadas. Ela era linda.

Vi que sua mão repousava sobre a mesa, e eu decidi colocar a minha mão ali. Em cima da dela. E infelizmente, eu não sentia sua textura, mas conseguia sentir uma onda de calor percorrer meu corpo. Era uma experiência mínima, mas que causava uma reação gigante, em proporção ao que eu sentia comumente, o famoso nada. Nosso corpo não sentia nada fisicamente falando. Sentimentos bons, sim. Mas dor, como se queimar com fogo, não. Mas aquele toque, o toque dela em específico me proporcionou uma sensação nova. Não sabia se era permitido ou não, mas foi... bom. Ela não sentira nada, mas eu senti aquela onda. Pequena, mínima, mas com certeza avassaladora. Era algo novo. Especial, e só me deixou mais curioso ainda, para conhecer tudo aquilo ainda mais.

Angelic.Onde histórias criam vida. Descubra agora