Aurora.

159 18 8
                                    




[Timothée's POV]

Eu sabia que ela amava ler. Aliás, isso é uma coisa que me veio em mente. A arte de escrever é linda demais. Eu penso que ter um escritor dentro de você é ter a porta de qualquer coisa em suas mãos. Você pode criar seu mundo perfeito, uma história, mil histórias. Milhões de vidas dentro de uma só.

E pela quantidade de livros que ela tinha, eu achei que ela fosse gostar. E aliás, eu formulei uma meta: que é deixar a Louise feliz o máximo que eu puder. Seja com flores, cartas, carinho, qualquer coisa.

- Certeza que já pegou de tudo?

- Certeza. Colocamos tudo certinho. Documentos aqui, passaporte, as passagens, as malas. Belezinha. Amanhã partiremos. Está ansioso?

- Claro que estou, vamos viajar Lou. - e ela sorriu para mim.

A convivência com ela era boa demais. Eu não menti naquela carta em nenhum momento. Ela me faz bem, me apresenta as melhores coisas da vida. Eu estou muito feliz aqui ao lado dela, mesmo com saudades dos meus irmãos. Mas isso não importa agora... Veríamos a aurora boreal. Eu, no caso, já havia visto, mas agora eu iria com ela.

Naquela noite, jantamos um risoto fungi, que era incrivelmente delicioso. E eu sugeri algo que já havíamos feito antes.

- Me empresta seu celular?

- Claro.

Fui no aplicativo de músicas, e lá estava ela: Comptine d'un autre. A música da biblioteca. Ofereci minha mão a ela, que aceitou logo de cara. Ela desligou a luz principal, deixando só a luz do abajur da sala. A meia luz sempre a favoreceu. Ela estava linda, como sempre, com sua saia rodada e cardigan. Eu de calça de moletom e camiseta larga.

Confesso que ultimamente minha vontade de manter contato físico com ela estava cada vez maior. Eu queria que ela me abraçasse, dançasse comigo, fizesse carinho no meu cabelo. O afeto dela era um pedaço de céu para mim.

Enquanto a música invadia nossos ouvidos, nossa dança tomou conta da sala, exalando a conexão que tínhamos sem precisar de ensaios ou nada do tipo. Mantínhamos nossos olhares fixos um no outro. E nos movimentávamos na sincronia perfeita.

Porém, em um momento, ela tropeçou e caiu em cima do sofá, me puxando junto a ela na queda. Agora estávamos juntos no sofá apertado, e ela logo tratou de se ajeitar e me abraçar.

- Bom, não podemos ficar mais próximos do que isso.

Eu ri daquilo, pois estava meio desconfortável, mas de qualquer maneira, estava confortável dentro dos braços dela. Era bom demais.

- Podemos só ficar aqui?

- Claro.

- Aproveitando o momento, e o silêncio. A companhia um do outro.

- Claro que podemos, Timmy. - ela respondeu.

Só ficamos ali, por um bom tempo. Eu ouvia o barulho do coração dela, sentia seu peito se mover. Sentia sua respiração contra minha pele. Se eu pudesse definir o paraíso, seria mais ou menos assim.

Depois de um tempo, ela me deu um toque, pois eu estava quase caindo no sono, como sinal de que deveríamos nos preparar para dormirmos na cama, pois amanhã era o grande dia. Levantamos, escovamos os nossos dentes, um do lado do outro, tentando nos concentrar para não soltarmos uma risada com a pasta na boca.

Nos deitamos, e ela fez carinho no meu cabelo até que eu caísse no sono.

E algo estranho aconteceu.

Eu a vi, linda, vestida de branco, em um campo de flores, sob um sol dourado, reluzindo sobre sua pele, seus cabelos se movendo com o vento, olhando para mim. Era a visão mais bonita que eu já havia visto em todo esse tempo. Aquilo era lindo demais. O som dos passarinhos, cachoeiras, cheiro doce da lavanda, ela.

Angelic.Onde histórias criam vida. Descubra agora