Recomeço?

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[Lorran's POV]

MEU DEUS E AGORA?

O QUE FALARÍAMOS PRA ELE?

- Eu é que não vou contar. - Anne disse em disparada, se livrando da bucha.

- O que estão fazendo? Estavam demorando tanto...

Eu me virei rapidamente pelo susto de ouvir aquela voz familiar.

- Timothée.. Oi... Você não havia dito que não viria aqui?

- Não ia... Mas vocês estavam demorando e digamos que eu fiquei preocupado.

- Então tá, preciso ir agora. - E minha irmã se retirou. Ela realmente não seria capaz de contar.

- O que foi, Lorran? Está estranho.

O péssimo lado é que eu não iria mentir para ele. Não depois do que ele passou.

- Ele a beijou. - Direto e reto, não tinha jeito.

Timmy virou a cabeça, e ao contrário do que eu esperava, reagiu calmamente.

- Entendo.

[Timothée's POV]

Não. Não. Não. Não perca a cabeça Timothée.

Ela merece ser feliz com alguém que possa estar com ela.

Não com você. Ela sequer te enxerga. Ela nem lembra mais de você.

Não quer dizer que eu não a ame cegamente. Não quer dizer que não está doendo como se uma bola de fogo estivesse descendo pela garganta.

Eu não seria egoísta o suficiente para privá-la de viver. Ela merece ser feliz.

Me direcionei a mesa dela, e fiz a coisa que eu achei certa a se fazer.

Estiquei minha mão, e, encostando em seu coração, trouxe a sensação de paz que eu havia lhe dado naquela primeira noite. Fiz isso por um simples motivo: para que ela, em nenhum momento, cogitasse se punir ou se culpar por isso. Ela acharia essa mesma paz nele, pelo menos naquele momento, e conseguiria superar qualquer coisa que restasse de mim dentro dela.

Doeu como um inferno. Mas eu a amava, e quem ama, como todos dizem por aí, só quer ver a pessoa feliz.

Depois disso, vi que ela sorriu, provavelmente devido aquele toque, e parecia calma. Eu tinha a mais plena certeza, conhecendo ela, de que ela se sentiria culpada por estar seguindo.

Olhei para o teto, não conseguindo ficar ali nem por mais um segundo. Minha missão já estava cumprida, não estava?

Lorran me olhava com uma certa pena. Eu estava realmente digno de dó. Eu me sentia estilhaçado, mesmo sem sentir a dor física que provavelmente sentiria se estivesse de carne e osso ali.

Sem mais uma palavra, alcei voo pelos céus, sem rumo algum dessa vez. Lorran nem se moveu, sabia que eu não queria ser seguido.

Alcançando as nuvens, e em uma velocidade considerável, abri meus braços e fechei os olhos.

De que adianta ter tudo isso?

Me diz de que adianta amá-la, ficar ao seu lado literalmente o tempo todo, fazer de tudo, e não conseguir estar ali?

De que adianta ter um par de asas, o mundo inteiro em suas mãos, conhecer todas as almas existentes se eu não podia conhecer a dela como eu gostaria?

Era, sinceramente, frustrante. Eu só queria poder fazê-la feliz, só isso. Mas nem disso sou capaz, aparentemente.

Não consigo deixá-la sozinha, nem quero, nem vou, mas vai doer, e eu sei muito bem disso. É equivalente a se destruir aos pouquinhos.

Pois essa é a verdadeira destruição. Não é a destruição física, mas sim a sentimental, daquela que de rasga de dentro pra fora, aos pouquinhos, por algo que sequer te toca, mas te abrange como um abraço que sufoca.

O final disso eu nunca saberia.

Eu vou passar mais um tempo pelos céus, me escondendo entre as nuvens, sentindo o céu chorar de vez em quando.

Céu, meu verdadeiro lar, ele chora comigo.

E a noite inteira choveu.

[Louise's POV]

Saindo da cafeteria, chovia violentamente. Algo em mim, mesmo assim, não se deixava incomodar.

Eu estava em paz com alguém pela primeira vez desde... bem... desde uns meses.

No momento em que ele se aproximou e fez seu movimento, na hora, até cheguei a me desesperar, mas depois... era como se era a coisa certa a se fazer.

Devo me adaptar a isso, certo?

Eu não poderia viver para sempre esperando algo que nem se mostra a mim ou que, nem se fosse a minha maior vontade, não poderia ter.

De alguma forma, nada disso me deixava mais triste. Surpreendentemente.

Liguei para Lily assim que ele me deixou em casa, ela parecia animada, feliz por eu finalmente estar indo para frente.

Theo estava sempre ali, com a cabecinha apoiada no meu colo, me demonstrando carinho e afeto.

Eu era merecedora disto. Finalmente entendi que seres humanos merecem ser amados e ter alguém que se importe, verdadeiramente se importe.

Bom, daqui pra frente, veríamos como o desenrolar da coisa iria acontecer.


Me desculpem... foi bem tristinho esse, né? Mas obrigada pela leitura, como sempre, vocês são muito importantes pra mim! Até.

Angelic.Onde histórias criam vida. Descubra agora