Disk Anjo.

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[ Timothée's POV ]

Se eu não fosse um anjo, eu falaria TANTO palavrão nesse momento, mas tanto... bom pra resumir, ferrou, fui visto, ameaçado de exposição, e o pior, quebrei uma das piores regras. Ah pronto, eu ia tomar um castigo caso alguém descobrisse, que eu não gosto nem de imaginar.

E ela estava parada ali na minha frente, mal piscava, atenta, e agora ela queria saber mais. E eu decidi me assegurar de que ela não falaria para ninguém. E eu tinha uma vantagem: ela não saberia o que era verdade ou não, então dei o primeiro passo.

- Devo te avisar que para contar você tem que fazer uma promessa inquebrável. É uma regra, e quando você promete, não pode quebrar isso nunca, é uma lei celestial que se você romper, vai ser penalizada seriamente. Você entende a seriedade disso? - Eu tive que me segurar para não rir, pois eu tinha acabado de inventar aquilo. Quem não deveria romper com a regra era eu, não ela. Mas ok. Ela ficou com os olhos meio arregalados, provavelmente achava que ela iria para um lugar horroroso ou algo assim, mas era minha forma de proteger aquilo.

- Bom, agora meio que já foi né, eu vou ter que aceitar. Mas sim, eu prometo que não falo nada, nem faço nenhum registro. Prometo. Eu prefiro entender você do que me vangloriar pela situação.

- Sabe que eu também queria conhecer você, né? - revelei. Ela pareceu muito surpresa.

- Me conhecer? - Ela nem imagina o quanto.

- É, ué.

- Mas por que? Eu não tenho nada de especial. Você tem. - Aham, sei.

- Eu sempre quis saber como é ser humano, o que vocês sentem, sabe? Meu ser é basicamente composto de promover e nunca receber nada em troca, é uma via de uma mão, e isso cansa um pouco. E eu reparei que você parecia sentir tudo isso, vivenciar realmente as coisas e fiquei curioso. - Eu estava sendo realmente muito sincero, até demais.

- Você está me dizendo que você é um anjo, tipo, literalmente, e você queria estar no meu lugar? - ela riu - Saí dessa.

- Queria ver você viver por anos sem sentir nada, nem dormir, nem comer, nem absolutamente nada. É bom mas é ruim.

- Você tem certeza que não é um vampiro? Tá descrevendo um vampiro pra mim. Ou eu que leio muito. - ela ainda não estava acreditando, mas eu iria mostrar.

[ Louise's POV ]

E então de repente ele puxou minha mão, e eu percebi que estava me puxando para fora do apartamento, eu só o segui. Fomos em direção a cobertura, e por muita sorte, o prédio por ser mais velho, não tinha câmeras e aquelas horas, ninguém estava pra fora dos apartamentos, pois estavam todos almoçando ou no trabalho.

- Só você conseguirá me ver, tudo bem? Não surte. - aquilo me tranquilizou pois eu estava preocupada em sermos vistos. Mas eu já sabia que ele ficava invisível e tal, mas aquilo ainda era muito novo pra mim.

Ele me olhou no fundo dos olhos, vi uma mudança rápida no seu corpo, parecia ter aumentado espaçamento entre suas próprias moléculas, eu estava confusa. Assim que ele mudou sua expressão para uma expressão suave, sabia que estava tudo pronto para o que quer que seja o que ele queria me mostrar. Não sei se era ele ficando invisível ou mostrar que ele emitia uma luzinha, vai saber.

E então aconteceu.

- MAS NEM FU... - nem consegui terminar a frase pois estava maravilhada com que eu estava vendo.

Ele abriu suas asas gigantes, brancas como neve, composta de penas que se balançavam suavemente com o vento, o contraste do céu azul ao fundo iluminou seus cabelos que agora eram castanhos com tons de dourado, seus olhos verdes se acenderam em um tom de verde água, com um pouco de amarelo na parte mais inferior da íris, ele brilhava como o Sol, ouso dizer mais do que o próprio astro rei. O que eu via na minha frente realmente era um ser imaculado próprio da criação divina. Sua pele reluzia, tudo nele era cuidadosamente delineado e desenhado, para ser a criação mais perfeita. Como aquela criatura sequer prestou atenção em mim, ele tinha a beleza mais intensa que qualquer mortal um dia já imaginou.

- Louise? Está ai? - Fui interrompida por ele.

- Oi, oi. Estou, estou aqui. Nossa. Eu não sei nem o que falar. - ele riu de canto enquanto fechava suas asas.

- Venha, vamos descer. - Ele me estendeu a mão e eu a agarrei, com mais força do que deveria, mas eu queria me certificar de que ele era real, de que ele realmente existia, aquilo não poderia estar acontecendo comigo.

Agora eu entendia quando algo caía do nada, e quando um cachorro latia para o nada, quando alguém passava por um experiência de quase morte e falava de uma luz. Todo esse tempo, tinha alguém por trás disso. Todo esse tempo, vimos alguns "milagres", coisas improváveis. Nunca foi acaso. Eu tinha um bilhão de perguntas para fazer a ele, e queria o manter por perto, estar perto dele era muito mais reconfortante do que eu jamais pudesse expressar em palavras.

Chegamos ao apartamento, e assim que fechei a porta não aguentei, tive que bombardeá-lo de perguntas.

- Tem outros como você? Quantos anos tem? Aonde você fica a maior parte do tempo? Como fica invisível? - aquelas eram só as primeiras das várias perguntas que eu faria.

- Tá, ó, calma, eu vou responder tudo. - Ele se sentou calmamente no sofá. - Vem, senta aqui. - Ele indicou com a mão, e eu o fiz.

E foi ali que ele começou a falar.

- Somos basicamente compostos de energia, assim como tudo, a diferença é que fomos feitos para ser o intermédio entre a humanidade e o céu, somos guardiões. Por esse motivo, podemos alternar nossa matéria e as compactar em moléculas para obtermos uma massa, que pode falar e ser visto, por exemplo. E assim, alternamos entre o visível e o invisível. E sim, somos vários. Somos divididos em pequenos grupos, como falanges, para termos uma família, e são vários grupos. Não sei exatamente quantos, mas não é um número nem muito alto nem muito baixo. Temos o dom de flutuar e voar. Não sinto gosto, nem dor. Hm... basicamente, isso.

- Basicamente isso? Como assim basicamente isso? - Pra ele realmente era algo normal ser um anjo, tipo, "ah eu flutuo". - Flutua então deixa eu ver - desafiei.

E pasme, sem hesitar ele levitou como uma pena no ar. Ele foi até a cozinha, bem perto do teto. Era meu sonho fazer aquilo. Eu já havia literalmente sonhado com aquilo, de flutuar pela casa, da sensação da liberdade de poder só sair por ai. Ele era um ser invejável. Era tudo o que eu mais desejava, ter o que ele tem. Irônico, pois ele queria ter o que eu tenho. A gente sempre quer o que não temos.

Ele sorria e parecia se divertir, aparentemente aliviado por poder se mostrar para alguém. E eu estava orgulhosa por ter sido a escolhida, aquilo era de uma sorte fenomenal. Mas ele era lindo, e eu acabava até me sentindo mal por pensar assim, é que ele hipnotizava, deixava qualquer pessoa de queixo caído só com um olhar seu.

- Você não vai sumir, não é? - perguntei meio preocupada, eu não queria que ele sumisse, eu queria ele por perto.

- Não. Eu sempre estou por perto, eu sou um anjo, lembra? - e então ele finalmente encostou os dois pés no chão, parando na minha frente e me fitando. Olhos que refletiam o oceano inteiro. E ele riu de canto, pois percebeu que eu não parava de olhá-lo.

- Ah, que bom. - e saí do meu transe - Tem um Disk Anjo ou algo assim? Se eu precisar de um anjo eu ligo aonde? Dou um grito pro céu? - falei descontraída para arrancar um riso dele. E funcionou.

- Dá um gritinho que eu apareço, ainda não tenho celular.

- Certo - concordei.

- Olha, eu preciso ir agora, acho que já deu de emoção por hoje, e eu tenho minhas tarefas ainda. Está tudo certo no seu trabalho, fique tranquila, tire o dia de hoje para descansar, eu percebi que você não estava bem. Depois eu volto, ok?

- Certo. Mas volta logo. - ele me olhou meio convencido e lisonjeado. - Não que eu vá sentir sua falta... - ele sabia que era mentira.

- Hm. Ok. Até mais, Louise.

- Até, Timothée.

E então ele desapareceu, e eu vi o vento balançar minha cortina, presumindo que ele havia ido janela afora.

Não fazia nem dois minutos de sua ausência e eu já sentia sua falta, era fora do normal ter um anjo... particular? Ter o privilégio de conhecê-lo, de poder falar com ele. E eu queria ele por perto, ele transmitia pura paz. E eu me odiava por ter pensado o pior sobre ele. Ele era um pedaço de céu na Terra, literalmente. O que me restava era esperar até ele voltar.

Ah, que saudade.

Angelic.Onde histórias criam vida. Descubra agora