[ Louise's POV ]Naquele momento, enquanto eu lia o parágrafo sobre o conceito amplo de vida e morte, senti meu corpo ficar mais leve, e por um momento, fechei os olhos, eu me sentia flutuando, com uma tranquilidade imensurável naquele momento. Tudo ficou quieto por um instante, eu entrei em transe, como se estivesse em uma realidade paralela aonde só eu existisse em um mar de algodão e flores, com tons de branco e azul bebê. Assim que movi minha mão, abri os olhos e desejei nunca ter saído daquele paraíso particular. Por um instante, achei que eu estivesse ficando louca no sentido literal da palavra, pois eu vi aquilo, ali, eu podia sentir.
Depois de um tempo, levantei-me e decidi que eu voltaria no outro dia para concluir aquele livro. Quando saí de lá de dentro, observei que estava chovendo. Era perfeito. Ela era minha maior paixão, a chuva, eu digo. Ela era o que curava minha alma quando eu precisava, era meu abrigo, eu nunca usaria um guarda-chuva para me proteger dela. Imediatamente abri os braços, deixando a chuva escorrer pelo meu rosto, atritando e se chocando com minha pele. Passei a mão pelos meus cabelos, para não me atrapalharem enquanto eu subia na minha bicicleta e me direcionava pra casa.
Após outro banho, sequei meu cabelo e me sentei na cama, aonde comecei a anotar no app de notas do meu celular o que eu precisaria fazer no dia seguinte. Abri as fotos e comecei a fuçar por ali, eu gostava de ficar vendo fotos antigas as vezes. Comecei a ir longe demais, chegando em uma parte desagradável. Meu pai. Eu só tinha uma foto com ele, de uma visita que ele me fez, pasme, uma vez em toda a minha vida. Ao longo dos meus 24 anos, o vi uma vez.
Aquela memória específica me inundou e começou a me afogar em pensamentos, de como um pai abandona sua filha desse jeito. Por pura opção. Não impossibilidade ou algo do tipo, mas por opção. Aquilo começou a me destruir por dentro, e os pensamentos ruins começarama tomar conta de mim, pouco a pouco, me enchendo de mágoa. Se eu conseguisse representar aquele sentimento com um fenômeno físico, seria como estar sendo atirada em um mar profundo, tentando chegar a superfície antes do pulmão ficar vazio. E ele queimava pela falta de ar, meu corpo formigava. Não pude parar as lágrimas, não conseguia de jeito nenhum. E logo, eu estava deitada me contorcendo e lutando contra o choro. Impossível de se amar, sempre rejeitada, abandonada. Eu pensava. Eu tinha certeza que era impossível um ser humano me amar tanto a ponto de eu ser a única, insubstituível. Eu era descartável, sempre a número 2.
[ Timotheé's POV ]
Depois de observá-la no seu estupendo banho de chuva, me perguntei o caminho inteiro o porque dela se entregar tanto assim para a vida, não ter medo de nada, por se recusar a usar um guarda-chuva, o que ela sentia quando a água batia em sua pele. Eu queria tantas respostas, e eu estava disposto a estudá-la cautelosamente para obter respostas.
Depois de aguardá-la sair do banho na sala, aonde eu continuava lendo aquele tal romance, ouvi um barulho de choro no quarto, e decidi investigar. Na tela de seu celular, um homem adulto e uma criança. Presumi que fosse seu pai. Será que ele havia morrido?
Mas algo mais fatal me atingiu naquele momento: a ver chorando. Aquilo foi um baque doloroso pra mim, no sentido figurado da palavra, é lógico. Não gostava de a ver daquele jeito. Ela chovia. E não no bom sentido. Ela chovia e tinha trovoadas dentro de si, a machucando. Eu podia ver aquilo acontecendo.
Ela então se deitou, e eu, impulsivamente me deitei ao lado dela, mesmo que ela não pudesse me sentir ali. Foi então, que eu coloquei minha mão sobre seu coração. Dessa vez, no sentido literal. Eu atravessei o seu peito e repousei minha mão sobre seu frágil coração, acompanhando cada batida dele. Era o privilégio de ser uma criatura que ultrapassava barreiras físicas. E ali, naquele momento, eu só fiquei ali deitado, acalmando seu coração, e sentindo seu sangue pulsar. Depois de alguns segundos ali, notei que seu choro havia cessado. E que a expressão de dor virou uma expressão de calma e serenidade, ela havia caído no sono.
Uma pontada de preocupação me atingiu por pensar que ela havia deixado de jantar, mas tudo bem. Me dirigi a uma cadeira que ficava perto de sua cama a a fim de pegar um cobertor e cobri-la, já que a noite estava fria. Ela provavelmente nem iria se lembrar de quando se cobriu, já que a mente humana prega peças enquanto estão de repouso. A cobri e me dirigi a varanda, abri as asas e voei por Paris. Eu gostava de ter um "corpo" e não ser visto, poder mover coisas era interessante, apesar de que aquilo não me garantia experiências sensoriais, eu conseguia fazer carinho em um cãozinho, ler um livro solto por aí, conseguia balançar um brinquedinho para um bebê quando ninguém olhava, e os humanos acham estranho as vezes um barulho ou algo assim, mas nunca descobriram nada, então estava tudo tranquilo.
Enquanto voava por Paris, desci e andei pelas ruas naquela noite gelada, vi uma feira aonde tinha várias frutas, eu morria de curiosidade de experimentar uma laranja, vi vários jovens em uma fila de balada, e eu nunca entendi o porque deles se embebedarem tanto, o que será que eles viam enquanto "bêbados"?
Depois de um tempo, voei em direção a Torre Eifell, sentando-me no ponto mais alto da torre, só para observar a cidade. A sensação era realmente extasiante, era uma cidade linda, as luzes, os carros, o barulho, e um coisa que eu observava muito: era uma cidade romântica, muitos casais, amor, encontros em restaurantes a luz de velas. Eu sentia amor, mas não desse jeito. Eu sentia amor fraternal e amor universal, só. O amor de anjo era o mais puro existente. Temos o dom de transmitir amor e paz, tranquilidade, somos seres iluminados, mas não donos da verdade e da razão. Eu sempre via os casais se beijando com paixão, se abraçando, levando presentes um para os outros, e sinceramente aquela era a parte mais bonita da humanidade. Teve até uma vez que eu segurei um elevador só para um menino se encontrar com a menina que ele gosta, eu sou um anjo meio cupido, vai?
Depois de horas de reflexão e observação, vi o sol nascer. O sol quente, lindo, brilhando e ardendo, emitindo luz aos planetas. Me lembrou dela.
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Angelic.
RomanceTimothée é um anjo. Louise, uma mortal. O amor é a única coisa que supera o céu e a Terra, e eles estavam dispostos a provar isso. "Você sabe que eu vou te amar pra sempre, Louise. Você sabe que mesmo tendo conhecido cada alma, cada canto do mundo...