Se foi.

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TW: menção a morte e tópicos relacionados.

[Timothée's POV]

O dia estava calmo, até que ensolarado. O tempo para mim parecia parado, no entanto. Não sei, parecia que os dias só... passavam, sabe?

Desde minha última conversa com Lorran, consegui manter uma certa linearidade em meu comportamento e maneira de pensar. A aceitação parece que uma hora vem para nós.

Porém...

Não custava nada checá-la de vez em quando. Mesmo que a tal ferida já estivesse estancada, não podia deixá-la sarar sem que eu estivesse totalmente certo que estava tudo bem.

Furtivamente, me direcionei para seu apartamento, e, agradeci mentalmente que Lorran estivesse ausente, assim como minha irmã. Não sei exatamente o que estavam fazendo, mas bem... Decidi aproveitar.

Vazio?

Cheguei a conclusão que ela havia saído. O potinho de ração de Theo estava vazio também. Ela já deve estar voltando.

Me sentei no sofá, comecei a brincar com ele para me distrair.

Passou-se um bom tempo.

Ainda nada.

Será que está na casa dele?

Decidi ir para o local.

Nada, de novo.

Algo não está certo.

Ela não deixaria Theo assim, eu acho. Segui os rastros do - era até difícil pensar no nome - Oliver. Fechei os olhos e comecei a senti-lo. Água, árvores... desespero, dor.

Imediatamente, perdi a cabeça só pelo fato de ter sentido aquilo nele. Voei as pressas e com todas as minhas forças para o local aproximado que podia o sentir.

O vi, enrolado em uma coberta, sendo consolado por uma mulher. Charlotte estava ao seu lado. Muda, de olhos fechados, redirecionando energia para o homem. Não pude interromper o momento de máxima concentração de minha irmã. Ao redor do local havia água corrente, algumas árvores ao lado, e ele parecia desesperado por dentro. Seu olhar fixava-se no chão, e ele estava com um pouco de frio. A mulher, miseravelmente tentando o acalmar, dizia.

- Fique calmo. Não foi culpa sua, espero que entenda isso. A água tem seu fluxo, a correnteza pode ser traiçoeira. Está com frio? Quer mais um chá? Posso te acompanhar até em casa.

E ele não respondia.

Será que havia caído do barco sem querer?

Mas cadê a Louise?

Devido ao corte total de relações entre a gente, não conseguia mais localiza-la. E isso era insuportável.

Olhei para o barco, que repousava na beira do local.

Duas boias.

CADÊ A LOUISE?

CADÊ ELA MEU DEUS DO CÉU.

Comecei a me desesperar e ficar agitado. Ele parecia estático, não iria conseguir obter respostas por aqui, então fui na pessoa mais óbvia do mundo. Lily.

Voei desesperadamente atrás dela, me faltava calma em todos os sentidos possíveis da palavra. Não queria nem pensar no que havia acontecido aqui. Me recuso.

A encontrei em sua casa. Estava inchada e chorando. Será que Louise havia sofrido algum tipo de acidente? Estaria ela no hospital?

O telefone toca. Lily atende.

- Oi. Tudo bem, e o senhor? - ela não conseguia pronunciar mais de duas palavras sem soluçar. E eu sentia que podia apagar de nervoso, se é que isso fosse possível, a qualquer momento. - Será amanhã?

O QUE SERÁ AMANHÃ?

- Sim, vou comparecer, é claro. - ela começou a chorar mais ainda. - Vou para o apartamento dela. Tenho uma cópia da chave, ela tem um cachorrinho. Você irá para lá também? Ok, conversamos por lá então. Até já. - ela falava com dificuldade.

Não pode ser... Será que...?

Não, não. Ela não pode.

Acompanhei Lily, passo por passo, até o apartamento. Minhas asas chegavam a vacilar em seus movimentos. Estavam menos precisos do que nunca. Eu estava tão nervoso que nem conseguia raciocinar.

Chegando no apartamento que eu conhecia tão bem, um senhor mais velho aguardava na porta. Eles se olharam, com um tom melancólico, entraram.

- Bem, eu nem imagino como deve estar sendo para você... Também é difícil pra mim, afinal, eu sou pai.

- Sinto muito. - ela disse, meio seca, mas dava pra notar dor em sua voz.

- Também é difícil para você, é lógico.

- É, é sim. Bastante.

- Como eu te disse, o velório -

Velório. Pai dela. O choro. A água.

Ela se foi.

Tudo ficou mudo. Cai de joelhos no chão.

Ela se foi.





AI GENTE.....

Angelic.Onde histórias criam vida. Descubra agora