Sul das Terras Pluviais
Aquela era uma tarde como qualquer outra. A garota de cabelos castanhos e rosto redondo cavalgava de volta para sua aldeia na floresta. Aldeia essa onde residiam os druidas, apenas um dos diversos povos feéricos que ainda existiam.
Ela então desce do cavalo, o guiando floresta adentro indo para a aldeia. Era um lugar bem movimentado, onde sempre havia pessoas andando pra lá e pra cá colhendo frutas e vegetais das plantações, carregando baldes de água, pegando lenha, entre outras tarefas.
- Ochako! - Ouviu a voz de sua mãe que se aproximava. - Pelos deuses, onde estava? Não te vi o dia todo.
- Fui na clareira perto da cidade colher flores para fazer coroas de flores pro festival. - Ergueu a cesta cheia de flores.
- As flores daqui não são o suficiente? - Olhou dentro da cesta.
- Você sabe que eu prefiro as flores de lá. São mais coloridas e diversas. As coroas vão ficar lindas!
- É, vão sim! - Sorriu fechando a cesta. - Vamos logo fazer as coroas então. Temos muito o que fazer.
As duas então foram para a frente de sua cabana e sentaram-se na entrada para fazer coroas. O festival em questão chamava-se Beltane, e em sua cultura era para celebrar o ápice da primavera.
Os preparativos seguiam muito bem, com todos felizes e animados. As coroas já estavam prontas e Ochako as distribuíam para todos. Viu seu pai ajudar com as lenhas para a fogueira e foi até ele, colocando uma das coroas em sua cabeça.
- Ficou muito linda, querida! - Sorriu, acariciando seus cabelos.
Antes que Ochako pudesse respondê-lo, ouve-se o burburinho de algumas pessoas mais à frente, onde viram alguns homens trazendo um sátiro que estava ferido.
- Vimos ele caído perto da entrada. Ainda está consciente.
- Pelos deuses, está ferido! Tragam ele para dentro. - O levaram para dentro de uma das cabanas, o deitando.
- O que aconteceu?
- F-fogo... atearam fogo... na aldeia. T-todos morreram! - Disse, com dificuldade e assustado.
- Quem fez isso?
- Paladinos. Exércitos da igreja... agora junto do rei. - Todos olharam, surpresos e aterrorizados. - Estão queimando várias aldeias feéricas ao norte... e pretendem acabar com todos. Eles devem estar a alguns dias daqui.
- Tem certeza? Algum deles te seguiu? - O sátiro negou. - Precisamos cuidar de você. Ochako, busque mais água, por favor. - A pedido de sua mãe, a garota então foi em direção ao lago.
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Monastério de San Andreas
Sul das Terras Pluviais
- Está tudo saindo conforme o plano, vossa majestade. Mais uma das vilas feéricas acaba de ser destruída. - Shie Hassaikai, o bispo das Terras Santas, falava com o então rei dos Sete Reinos de Elandria, Enji Todoroki.
O rei, também conhecido por Endeavor, o Cruel; por ser um rei autoritário e ditador, viajou para o sul do continente a pedido do bispo, que o chamou para que ele pudesse ver como anda a caça aos feéricos no sul.
- Certamente! Creio que depois que eu ver com meus próprios olhos o trabalho de seus paladinos, poderei assinar o Tratado de San Andreas. - O rei se referia ao tratado em que a coroa prometia financiar as expedições de extermínio aos feéricos.
- Partiremos em alguns instantes. Meus homens disseram ver um sátiro ferido indo para a floresta. Com certeza foi buscar abrigo com os da raça imunda dele.
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Já fazia quase uma hora que Ochako havia saído para buscar água. Estava a caminho de volta para a aldeia, carregando um balde com água. Caminhava depressa tentando não derrubar a água. Quando estava quase perto, viu algumas cinzas no ar. Estranhou, pensando no porquê de terem acendido a fogueira em uma situação como essa. Logo começou a ouvir gritos vindos da aldeia, e bem do seu lado passou um cavalo correndo com a sela pegando fogo. A garota então já previu o pior. Largou o balde no chão e foi correndo para a aldeia.
Ao chegar, se abaixou em meio a um arbusto, vendo os tais paladinos atacando a todos e incendiando tudo. Pôde ver que alguns eram amarrados em cruzes para serem queimados. Olhou de um lado para o outro em busca de seus pais, não os vendo em lugar nenhum. De repente sentiu um forte puxão em seus cabelos, sendo tirada do meio do arbusto e arrastada pelo chão por um dos paladinos. Tentava se levantar mas era em vão.
- Veja, vossa majestade. Esses são os tão falados feéricos. - O bispo falava, olhando para a jovem.
- Esses, pelo que você falou, são chamados de druidas, certo? São diferentes dos tais sátiros.
- Existem diversas espécies de feéricos. Um mais bizarro do que o outro. Esses aqui são conhecidos pelas feitiçarias que praticam.
- Então estamos diante de uma bruxa, não é? Queimem ela! - Ordenou o rei.
A levantaram do chão a força, a amarrando na cruz. O fogo subia cada vez mais, alcançando seus pés. Ochako urrou de dor, sentindo seus pés queimarem. Olhou para o bispo e o rei que a observavam queimar. Seus olhos se enchiam de fúria pela crueldade que fizeram consigo e seu povo. Queria que aqueles monstros queimassem em seu lugar, e assim o fez. Não soube como exatamente fez isso, mas as chamas que aos poucos consumia seus pés explodiram, acertando quem estivesse perto, incluindo o bispo e o próprio rei, que gritavam de dor com suas faces ardendo em meio às chamas que logo se espalharam para o resto do corpo.
Não só o resto dos paladinos, mas também a própria Ochako ficou surpresa com o que fez. Nunca havia controlado um elemento desse jeito tão avassalador. Porém aquela não era a hora de se questionar sobre isso, precisava sair dali. Com muito esforço, conseguiu se livrar dos nós das cordas. Sentiu uma dor em seus pés ao trocá-los no chão, mas tentou ignorar para que pudesse sair dali.
Correu o mais rápido que pôde, pensando onde seus pais poderiam estar. Foi então que se lembrou da clareira da floresta que era usada para seus rituais. Foi correndo para lá na esperança de encontrá-los. Chegando lá, encontrou apenas sua mãe, caída no chão, gravemente ferida e com um objeto enrolado em um pano. Desesperada, foi até ela.
- Essa não! Está muito ferida. Eu vou cuidar de você, não se preocupe. - Disse, estancando o sangue na barriga de sua mãe.
- N-não! Você deve se salvar...
- Não diga besteira. Não vou te deixar aqui. - Já não conseguia segurar suas lágrimas. - E o papai, onde ele tá?
- Eles o mataram, minha filha. Mataram seu pai. - Ochako já não segurava mais seu choro. - Você deve ir ou vão matar você também. Eu não vou resistir por muito tempo, não vale a pena. - Pegou o objeto embrulhado no pano. - Leve isso com você. É de extrema importância. - Ochako o desembrulhou. - Esse é o cajado do nosso povo. Leve com você e não o perca. - Sua mãe já falava em um tom bem baixo, quase como um sussurro. Estava muito fraca e já não tinha mais tempo.
- Mamãe... - Ochako chorava com sua mãe nos braços.
- V-vá... - Foi o que sua mãe conseguiu responder antes de serrar de vez seus olhos.
Ochako se levantou olhando para o corpo de sua mãe, e deixou suas lágrimas caírem. Ouviu algumas vozes se aproximando, e logo correu como pôde. Fugiu para onde quer que fosse.
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Feéricos: Um termo geral para criaturas não humanasSátiros: Criaturas humanóides com pernas e chifres de bode.
O bispo nessa história é o chefe da Yakuza que cuidava do Overhaul. Se não lembrarem de algum personagem que aparecer na história por favor avise nos comentários.
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Burn
FanfictionA famosa Santa Inquisição é conhecida por condenar todos aqueles que forem contra os princípios cristãos. Condenar pessoas pelo simples fato de serem diferentes, de não se encaixarem. Teriam que sobreviver ao ódio, a intolerância, ao medo. Teriam qu...