25. A ilha de Drackma

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 Mirio aprendia como tudo funcionava no esconderijo dos feéricos. Tamaki o mostrava onde havia uma parte do rio que corria dentro da caverna, e mostrava onde eram feitas as refeições. Em volta de uma pequena fogueira os feéricos se reuniam para se servirem da comida que era feita. Tamaki havia dito que eles caçaram alguns pequenos animais que ficavam mais perto da caverna, mas na maioria das vezes a carne não era o suficiente. Também não poderiam plantar em grandes quantidades para que o esconderijo pudesse ser o mais discreto possível, e por isso precisariam de mais variedade de comida. O cardápio do dia era uma sopa rala, e para complementar um pouco dos pães que havia no saco que Mirio deu a Tamaki.

— Ei, Tamaki! — Toga havia jogado uma fruta na direção dos dois. O elfo a pegou no ar antes que pudesse acertar o rosto de Mirio. O loiro se assustou.

— Tenha mais cuidado! — Tamaki a alertou.

— Desculpinha! — Ela riu, voltando a comer.

— Aceita comer alguma coisa antes de ir? — Tamaki o chamou para jantar.

— Ah, não. Não quero que gastem seus suprimentos comigo. Eu estou bem! — Mirio negou educadamente, sorrindo sem jeito.

Hawks já havia terminado de conversar com Dabi. Ele chamou por Mirko e Mirio enquanto caminhava até a saída da caverna. Mirio ainda estava curioso em saber sobre o que os dois falavam. Talvez sobre algum outro plano do qual discordavam entre si. Por mais que quisesse saber, achou melhor não perguntar.

— Tenho que ir agora. — Mirio se despediu do elfo.

— Então até amanhã! — Tamaki partiu a fruta ao meio, entregando a outra metade para o cavaleiro.

Mirio sorriu, acenando para ele e mordendo aquela suculenta fruta. Seguindo a cavaleira e o lorde até a saída, os três entraram na caverna para voltarem à capital. Queriam voltar logo antes que escurecesse. Mirio ainda estava refletindo sobre tudo o que viu. Poderia ser perigoso, mas estava decidido a ir contra sua fé para ajudá-los. Hawks percebeu que o cavaleiro parecia pensativo.

— A realidade é bem diferente do que dizem, não é? — Ele chamou a atenção de Mirio, que concordou.

— É uma crueldade sem sentido, milorde. Creio que se todos soubessem da verdade, e não fossem manipulados pelo que a igreja diz, concordariam com o que eu digo.

— É... eu também acho.

Aquilo intrigou Mirio. Até então, o loiro não quis tocar no assunto da conversa em particular que Hawks teve com Dabi. Porém, ele tomou coragem e perguntou ao lorde:

— E o Dabi...ele também concorda?

Hawks o encarou, desviando o olhar para baixo logo depois. Parecia meio relutante em responder, tanto que até mesmo Mirko reparou e entendeu. Depois de alguns segundos de silêncio, ele resolveu se pronunciar.

— Ele tem suas dúvidas. — Respondeu. — Ele tem motivos pra isso. Todos nós temos. Não é fácil convencer alguém a enxergar a verdade quando a pessoa está imersa na manipulação e ignorância.

— Seria mais fácil se alguém mais influente que a igreja dissesse o contrário. Alguém como o próprio rei, por exemplo. — Mirio sugeriu.

— É verdade! O rei não parece uma má pessoa. Se ele soubesse, com certeza ajudaria. — Mirko concordou, encorajando o plano.

— Olha... não quero agir pelas costas do nosso líder. Como eu disse, ele tem suas dúvidas. Teriam que convencê-lo primeiro. Mas eu já venho tentando isso. E como podem ver, não deu certo. — Hawks não parecia tão confiante quanto os outros dois.

— Ele se convenceria se conhecesse o rei da mesma forma que conhecemos. — Mirio o respondeu. Mirko concorda, olhando para Hawks, esperando uma resposta dele.

— Ele é o líder da resistência. Vocês têm que convencer a ele, não a mim. — Ele respondeu, vendo os outros dois se desanimarem com a resposta. — Apesar de eu ter que concordar que essa é uma boa ideia. Mas como eu disse, não quero fazer nada pelas costas dele. Então se conseguirem convencê-lo, eu tenho o maior prazer em ajudar.

— Não acho que ele vá me ouvir. Mas talvez se a Mirko falar com ele, então seria a palavra de dois feéricos. — Mirio olhou para a cavaleira.

— Eu acho melhor deixar ele se acostumar com sua presença ali. Mostre que você pode ser útil para ele. Depois conversaremos com ele. Mas até lá, não digam isso a ninguém. Tudo bem? — Ambos concordaram com Hawks. Fariam de tudo para que aquilo desse certo.

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No meio do oceano, o navio com velas estampadas com dragões partia rumo a Drackma. Os dragões acompanhavam a embarcação voando bem acima dela. Quando não estava enjoada, Ochako admirava a vista do oceano, visto que nunca esteve em mar aberto antes.

Depois de ter se debruçado para o lado de fora do navio para vomitar pela segunda vez no dia, ela escuta a voz de Tetsutetsu avisando que já estavam chegando. Ochako avistou mais a frente um grande pedaço de terra. Aquela era a ilha principal de Drackma.

Ao desembarcarem, Ochako pôde perceber o clima quente e seco do local. O porto era grande o suficiente para que vários navios pudessem aportar, trazendo e levando mercadorias. Os poucos dragões que ainda havia ali eram usados apenas para forjar o aço que era vendido para o exterior.

Os grandes e sadios dragões pousavam perto do porto, chamando a atenção para os draconianos vindos do outro continente. De dentro do navio também era trazido alguns dos ovos de dragões para que a ilha fosse repopulada pelas criaturas.

— Que bom que chegaram! — A chefe da ilha, Ryuko, deu as boas vindas. — É um alívio poder vê-lo novamente, Bakugou! Soube que conseguiram trazer os dragões de volta.

— Sim. Isso graças à férica que se juntou a nós. — O loiro respondeu, apontando para Ochako. — Quantos dragões sobraram depois da luta para tentar recuperar o ouro e nosso povo?

— Não muitos. — Ela respondeu. — Devia ter visto. Acertaram nossos dragões com um tipo de fogo estranho. Ele não apagava nem mesmo com água.

— Como assim não apagava? — Bakugou a questionou, preocupado.

— Eu não sei. Até mesmo o mar em volta das ilhas estava em chamas. Tivemos que recuar, ou ficaríamos sem dragões.

Ryuko os chamou para acompanhá-la. Ela mostrou o estado de seu dragão que sobreviveu. A queimadura preta e cheia de bolhas era bem aparente nas escamas douradas do dragão. A queimadura havia danificado uma das asas dele, que se encontrava deitado. Todos olharam para aquela ferida, transtornados.

— Merda! — Bakugou xingou em um tom baixo, cerrando o punho. Reconheceu estar em desvantagem dessa vez.

— O que faremos então? Não vamos deixar nosso povo sendo escravizado, não é? — Mina perguntou para Bakugou, que parecia tentar pensar em algo.

— Não seria nada prudente atacá-los novamente. Vocês viram o que aconteceu. — Ryuko a alertou.

— Ela tem razão. — Bakugou virou-se para Mina, finalmente se pronunciando. — Não vamos abandonar nosso povo. Vamos resolver isso, mas de outro jeito. — O loiro voltou com sua carranca de sempre. — Odeio ter que implorar ao inimigo. Porra! Isso é tão humilhante.

— Se acalme, por favor! Você está fazendo tudo que está ao seu alcance. — Ochako tentou tranquilizá-lo. — Eu vou começar a chocar os ovos que estão petrificados. Tudo bem? — Ela disse à Ryuko.

— Está bem. — Ela sorri, grata.

— Então nós vamos negociar com eles? — Mina perguntou, já que aquilo não era do feitio.

Bakugou também não gostava dessa ideia, e queria muito poder revidar. Mas ao saber do ataque que sofreram dos helenos, e ver como o dragão de Ryuko ficou, não estaria disposto a arriscar. Não com uma arma tão poderosa assim nas mãos do inimigo. Ryuko estava certa, aquilo não seria nada prudente.

— É... nós vamos.

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