18. Conflitos em Rodanya

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Ochako sentia sua cabeça girar. A última coisa a qual se lembrava era de ter pegado água no rio, e de sentir alguém lhe agarrando. Ela abria os olhos lentamente, mas sua visão ainda estava turva. Tentou se mexer, estranhando quando não conseguiu.
Ela então abriu os olhos de uma vez, finalmente percebendo onde estava. Ochako se encontrava amarrada e amordaçada em uma carroça. Ela olhou em volta, tentando identificar seus raptores. Ela olhou para quem estava na frente da carroça guiando os cavalos, vendo que seus raptores usavam túnicas brancas com uma cruz preta.
Paladinos da igreja? No norte? O coração de Ochako gelou. Depois de fugir da igreja por todo o continente, eles haviam a achado onde ela menos esperava. Mas não deixaria ser levada dessa vez. Não agora que sabia como se defender. Silenciosamente, ela levou seu dedo indicador até a corda que a prendia, a queimando devagar para poder se soltar.
— Que cheiro é esse? — Um dos paladinos perguntou ao outro ao sentir o cheiro da corda queimando.
Ochako arregalou os olhos ao ouvi-lo. Ela começou a queimar a corda mais rápido. Teria que escapar falo logo já que perceberam.
— ELA ACORDOU! — O outro paladino gritou ao ver que ela tentava fugir.
Assim que eles pararam a carroça, Ochako terminou de se livrar das cordas e pulou para fora. Eles a cercaram com espadas na mão. Sem seu cajado e desarmada, ela teria que se defender com suas próprias mãos.
O primeiro paladino que se aproximou para atacá-la, ela já tratou de queimá-lo com a palma da mão. O outro olhava, horrorizado para o colega que agonizava, rolando na neve para tentar apagar o fogo. Ochako pegou a espada do paladino queimado, colocando fogo na lâmina.
— Se chegar perto de mim, eu queimo você também! — Ela o ameaçou.
O paladino tremia de medo, mas não parecia querer desistir. Ele continuava a empunhar sua espada, só tentando criar coragem para atacar.
A luta, no entanto, foi interrompida por uma cavalaria que se aproximou. O paladino agora não sabia se apontava sua espada para Ochako, ou para os cavaleiros. Eles desceram dos cavalos, o cercando.
— Não podem me prender apenas por praticar minha fé em suas terras. — Ele disse aos cavaleiros.
— Não se faça de inocente! Paladinos são do exército da igreja. Não queremos o exército da igreja infiltrado em nossas terras em meio à essa guerra.
Ochako abaixou sua espada flamejante, apenas assistindo aos cavaleiros prenderem aquele paladino. Um dos cavaleiros a olhou, confuso.
— E você, quem é? Está junto desse verme?
— Claro que não! Ele me sequestrou. — Ela negou, séria. — Eu estava nas Terras Altas, lutando com o exército do rei. — O cavaleiro então olhou para a espada flamejante na mão dela.
— Não sabia que esses paladinos avançaram pelo reino até chegar nas Terras Altas.
— Onde nós estamos? Preciso voltar para o castelo de Highlander.
— Está longe. Você está no reino de Rodanya agora. Ele provavelmente queria te levar até Rodanya Oriental para te entregar para a igreja. — Ele olha para o paladino, que parecia se lamentar por ter sido pego. — Eu não voltaria agora se fosse você. — Ele fala, estendendo a mão, mostrando a neve que caía se juntar em sua palma. — É quase um dia de viagem até lá. E pelo que parece, a neve não irá ceder.
— Mas… — Ela tenta contestá-lo, mas percebe que está certo. O frio de Rodanya era ainda mais severo que em Newydd.
— Você disse ter lutado em Highlander. Certamente esteve com o rei Vlad. A filha dele, a princesa Saiko, pode recebê-la no castelo.
Ochako não tinha outra saída, a não ser aceitar. Já que não poderia voltar agora, então que pelo menos pudesse se abrigar nesse frio. Ela então subiu em um dos cavalos e os acompanhou até o castelo de Rodanya.
Assim como em Newydd, o castelo real de Rodanya era uma construção linda e imponente. Era inteiramente na cor branca, o que combinava muito com a neve. Ela desceu do cavalo, olhando ao redor do pátio coberto de neve. Ela acompanhou o cavaleiro até o lado de dentro. O interior era ainda mais bonito do que ela imaginava. Assim como o lado de fora, por dentro também era claro.
Eles subiram as escadas e andaram pelos corredores até chegarem em frente à uma porta. Ao abrir, Ochako pôde ver uma jovem e alguns homens sentados à uma grande mesa, discutindo algo de importante. Todos pararam ao vê-los entrarem.
— Vossa alteza! Localizamos outro paladino nos limites do reino. — O cavaleiro disse.
— Eu sabia! Estão aproveitando a ausência de meu pai para atacarem. — Ela falou, irritada. — Escreva para meu pai. Ele precisa saber disso o quanto antes. — Falou ao mensageiro.
— O paladino também capturou alguém do exército de seu pai e do rei de Newydd. — Ele olhou para Ochako. — Talvez seja bom avisar que ela está bem.
— Certo! Escreva também que a… — Ela olhou para Ochako, querendo saber seu nome.
— Ochako. — Respondeu. — A feérica. — Ela completou, especificando.
— Escreva também que a feérica Ochako foi capturada, mas que agora está aqui. — Ela disse. — Por hoje é só!
Os homens sentados à mesa se levantaram, despedindo-se da princesa e saindo.
— Sinto muito pela má recepção. Não costumo receber meus convidados dessa maneira. Mas quando meu pai não está, o castelo é responsabilidade minha. — Saiko se levantou, se aproximando de Ochako.
— Por favor, não se incomode com isso. Só em me deixar ficar já é o bastante. — Ochako respondeu. — Você disse agora a pouco que os paladinos estão invadindo o reino.
— É uma longa história. Mas quando não estamos sofrendo ataques de Strigland, sofremos ataques da Rodanya Oriental. Desde que se separou de Rodanya, eles têm sido governados pela igreja.
— Não sabia que a igreja atuava aqui no norte também. — Ochako falou, preocupada.
— Como eu disse, é uma longa história. Venha comigo! Posso te explicar melhor.
Ochako a acompanhou até outra sala do castelo, onde se sentaram para comer algo e tomarem chá. Saiko então pôde contar toda a história de seu reino, desde o início quando era um grande reino unificado, até a vinda dos cristão ao norte.
— Desde que eles vieram, há muito tempo, começaram os conflitos religiosos e políticos. Quando alguns dos lordes se converteram pra religião deles, a população se dividiu, e os conflitos só foram aumentando. Isso chegou ao ponto do reino se dividir em dois. — Ochako ouvia atentamente enquanto Saiko falava. — E os conflitos nunca pararam. Um exemplo disso foi quando estávamos celebrando o Ivana Kupala, que é uma celebração que fazemos em homenagem à deusa Kupala no início do verão. E justo nesse dia, alguns paladinos causaram o maior tumulto no lugar onde acenderam a fogueira para a comemoração.
— Eu entendo bem como é isso. — Ochako tomou um gole do chá enquanto desabafava. — Quando o pessoal da minha aldeia estava celebrando o festival de primavera, eles vieram e mataram todos. Eu tive muita sorte por conseguir fugir.
— Sei como é desesperador pensar que eles estão por todo lado, e como é difícil fugir deles. — Ochako concordou com ela. — É como se isso nunca passasse.
Saiko se recompôs de seu momento de desabafo ao ver um de seus cavaleiros abrir a porta bruscamente. A princesa olhou para ele, preocupada, pois pela expressão no rosto do homem, ela poderia esperar a pior das notícias.
— Vossa alteza! O exército de paladinos… eles estão marchando até o castelo.
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*Ivana Kupala é uma celebração do paganismo eslavo que era praticado nos países eslavos (Russia, Ucrânia, Polônia, etc) antes da chegada do cristianismo.

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