16. De acordo com o plano

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A carruagem que saía do castelo levando a rainha e sua dama de companhia andava pelas ruas da capital. Como rainha, Momo também queria auxiliar nas questões administrativas do reino. Para isso, ela começaria a ajudar na resolução de alguns dos problemas na cidade. Acompanhada de Kendo, ela visitaria a parte mais pobre da cidade para averiguar a situação. Ela estava com um plano para resolver os problemas de saneamento da cidade, e o apresentaria na reunião do conselho.
A carruagem parou no local desejado. Ao descerem, puderam ver no que o descaso com o reinado anterior em relação à cidade resultou. A água suja de resíduos humanos e de lixo descendo pelas ruas as deixou enojadas. Um local propício para a disseminação de doenças.
Aquela carruagem chique chamou a atenção de demais cidadãos, que se aproximavam para ver do que se tratava. Os guardas que as acompanhavam entraram na frente delas para as protegerem de qualquer coisa que possa vir a acontecer, o que assustou um pouco os cidadãos.
— Está tudo bem! — Momo disse aos guardas, que a deram passagem para que ela pudesse falar com o povo. — Não tenham medo. Estamos aqui apenas para averiguar os problemas da população. — Todos pararam tudo o que faziam para prestar atenção nela. Momo tentava se manter confiante, por mais que estivesse sem jeito com todos os olhares sobre si. — Estamos cientes dos atuais problemas… e como governantes, nada mais justo que auxiliar a população no que for preciso, para que, assim, nossa sociedade possa prosperar cada vez mais.
Ela inspirava segurança e firmeza, mas ao mesmo tempo, gentileza. A população, não acostumada com o afeto de seus monarcas devido ao rei anterior, logo caiu nas graças da nova rainha que veio pessoalmente.
Ela conversava com as pessoas enquanto elas contavam suas rotinas, como usavam a água para a higiene e para cozinhar, como se livravam de seus dejetos, entre outras coisas. Era uma boa oportunidade para conhecer os cidadãos dos quais seria a rainha daqui pra frente, e também para saber de suas necessidades e de como supri-las.
Kendo olhava para ela, orgulhosa do trabalho que ela fazia. Porém, sua atenção logo foi desviada para outro local da cidade, onde algumas pessoas estavam reunidas. Essas pessoas ouviam atentamente o que alguns padres falavam. Ela os reconheceu sendo padres das Terras Santas pois viu o brasão de cruz com espadas cruzadas. Ela decidiu se aproximar para ouvir melhor sobre o que eles pregavam.
— O fim dos tempos está próximo! A cada dia que se passa, a horda de feéricos cresce e avança ainda mais contra a civilização. Protejam suas casas e suas crianças dessas criaturas vindas do inferno. — O padre usava do discurso sensacionalista para amedrontar a população.
Mesmo não conhecendo muito dos feericos, Kendo não acreditava que eles eram esses monstros que a igreja pregava. E ela sabia que a igreja queria, a todo custo, exterminar esse povo. E se não poderiam contar com a ajuda do novo rei, então contariam com a ajuda do povo comum.
Junto dos padres, alguns dos cavaleiros das Terras Santas também estavam ali para garantirem a segurança deles. Um desses cavaleiro, claro, era Kiba. O platinado a viu no meio da multidão, e sorriu para ela. Kendo se assustou ao reconhecê-lo, e logo se afastou dali, voltando para perto da rainha.
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Depois de sua ida às ruas da cidade, Momo pontuou os problemas de saneamento da cidade na reunião com os membros do conselho e com o rei. Ela então apresentou seu plano de construir aquedutos, cisternas, fontes públicas e canos de escoamento de água na cidade, argumentando que a água que a população consumia poderia carregar milhares de enfermidades.
— É uma excelente ideia, minha rainha! Sistemas de condução de água melhoraria muito a qualidade de vida das pessoas. — Inasa parecia animado com a proposta da rainha.
— Essa é a melhoria de que estávamos falando. Esse, sem dúvidas, é um ótimo plano majestade. — Toshinori também a elogiou.
— Os custos serão altos, mas a longo prazo essas obras apresentarão melhorias para a cidade. — Momo completou sua apresentação.
— Creio que esses custos sejam necessários, majestade. Afinal, é por uma melhoria que, de fato, precisamos. — Aizawa concordou com ela.
— Sim, esses serão custos necessários. — Momo sorriu com a fala do Shoto. Não só ele, mas todos ali na mesa amaram a ideia dela. — Seu plano será posto em prática o quanto antes. — Shoto sentiu-se feliz em ver a produtividade da reunião. — Certo, temos o projeto de melhoria do saneamento da cidade, a abertura de novos portos levantada por Hizashi… — Shoto conferia os registros das reuniões passadas. — E quanto a patrulha da cidade? — Ele perguntou para Iida.
— Os guardas já estão patrulhando as ruas da cidade, e fora dela também, majestade! — Ele respondeu.
Shoto sorriu, acenando positivamente com a cabeça, mostrando estar de acordo. Sentiu-se aliviado em ver que estavam finalmente chegando em algum lugar, e que as coisas estavam dando certo. Estava decidido a reinar de forma diferente a qual seu pai fazia, e estava feliz em ter boas pessoas em ver lta para lhe ajudar.
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Do lado de fora dos muros da cidade, os guardas ficavam de vigia, vendo o fluxo de pessoas e carruagens entrando e saindo da capital. O cavaleiro de baixa patente cumpria com suas obrigações enquanto lamentava internamente por sua derrota no torneio realizado anteriormente. Estava tão confiante que venceria no momento da competição que acabou se frustrando quando caiu de seu cavalo.
— Que cara é essa, Togata? Tá com a cabeça no torneio ainda? — Mirio suspirou com a fala de um de seus colegas de trabalho.
— Esquece isso. Não tinha como você ganhar do Kiba, de qualquer jeito. — Outro guarda falou.
— Mas alguém acabou ganhando dele, não é? — O outro guarda retrucou, se referindo a Mirko.
— Aquela mulher? — O guarda falou com descaso. — Sabe, é muita injustiça uma mulher ser promovida para a guarda real, e a gente aqui de patrulha.
— Por que não a desafia pela vaga dela na guarda real? Já que você é tão bom quanto diz, pode lutar com ela então. — Mirio falou, farto de ouvir as reclamações do colega. O outro guarda se fez de desentendido e logo mudou de assunto.
Mirio se dispersou da conversa, apenas olhando as pessoas entrando e saindo da cidade. Decidiu focar-se apenas em seu trabalho, colocando em sua cabeça que teria outras oportunidades para subir de patente. Foi então que um dos comerciantes que se aproximavam da entrada da cidade gritou por ajuda.
— VOLTA AQUI SEU LADRÃO DE MERDA! — Ele gritou, chamando a atenção de todos.
Mirio viu para quem ele gritou isso. Uma pessoa com capuz havia roubado algo daquele homem, e correu bem rápido para dentro da floresta. O loiro não pensou duas vezes, e logo foi atrás do ladrão.
Ele tentava alcançar o ladrão, que corria muito rápido. Era alguém bastante ágil. Por um momento, Mirio pensou ter perdido ele, pois não o via mais. Poderia estar escondido em qualquer lugar da floresta. Porém, o barulho típico de uma armadilha para javalis sendo acionada chamou sua atenção, seguido de um grito de dor. Mirio seguiu na direção do barulho.
Chegando no local da armadilha, Mirio olhou, espantado. O ladrão estava caído no chão, com o pé preso na armadilha. Seu capuz, no entanto, não estava mais cobrindo sua cabeça, sendo possível ver de quem se tratava. Um jovem de cabelos pretos, e a característica que causou espanto no cavaleiro, suas orelhas pontudas. Ele não era humano, era mais ágil que um humano comum, e tinha aquelas orelhas pontudas. Mirio não entendia muito do assunto, mas deduziu que ele poderia ser de alguma espécie dos tão falados feéricos.
Estava boquiaberto, pois nunca havia visto um feérico de perto, e nunca sequer achou que poderia ver. Não sentia medo, assim como a igreja pregava que era para sentir. Estava, na verdade, impressionado, e também curioso. O feérico, no entanto, olhava para ele, amedrontado. Mirio sabia como eram caçados, e acabou sentindo pena dele. Ele se aproximou, a fim de ajudá-lo a tirar seu pé da armadilha. O feérico, receoso, tirou uma faca de sua roupa para se defender.
— Calma! Eu não vou te machucar. — Mirio levantou as mãos, mostrando não ser uma ameaça.
Ele se aproximou devagar, vendo-o abaixar a faca aos poucos. O cavaleiro levou suas mãos até a armadilha, a abrindo para que ele retirasse o pé dali. Ao se ver livre, o feérico não perdeu tempo, e se levantou, correndo mesmo com seu pé machucado.
— Espera! — Mirio o chamou, mas não obteve resposta.
O loiro viu que o feérico havia esquecido o que havia roubado. Ele abriu aquele saco branco que o feérico havia deixado para trás, e viu que se tratava de cereais. Ele havia roubado algo apenas para comer. Mirio se sentiu mal em pensar na situação em que eles poderiam estar.

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